Em Contagem

'Mãe do bumbum' é presa por aplicar silicone industrial e lacrar com cola

Suspeita criou no WhatsApp o grupo 'Filhas do Bumbum' para divulgar resultados do trabalho

Sex, 20/12/19 - 11h56
'Mãe do Bumbum' cobrava R$ 4.000 para aplicar silicone industrial | Foto: Cristiane Mattos/O TEMPO

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A Polícia Civil apresentou, nesta sexta-feira (20), detalhes da investigação que levou à prisão de uma esteticista, de 41 anos, conhecida como "Mãe do bumbum", que aplicava silicone industrial nas nádegas de mulheres.

Os procedimentos eram realizados em um salão no bairro Eldorado, em Contagem, na região metropolitana de Belo Horizonte. A dona do comércio, de 34, também acabou presa. Após a aplicação, a investigada ainda "colava" a pele das clientes com uma super cola. 

As investigações começaram em novembro, depois que vítimas com lesões procuraram a delegacia. A esteticista, que é do Rio de Janeiro, iniciou os trabalhos em Minas Gerais no fim de fevereiro deste ano e cobrava cerca de R$ 4.000 por cada procedimento. Ao menos 60 mulheres foram atendidas no Estado. 

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"Várias vítimas procuraram a delegacia narrando que sofreram alguma lesão após aplicação de um produto, em tese, denominado hidrogel. A partir daí, a investigação se iniciou e as prisões aconteceram no dia 6 de dezembro. A Amanda sendo a esteticista que aplicava o produto que, posteriormente, se comprovou que era silicone industrial. O silicone industrial serve para vedar vidros, para utilizar na limpeza de peças de avião e de navio. Nunca é recomendado para uso estético porque pode causar a embolia pulmonar e a morte", explicou o chefe do Departamento de Polícia Civil em Contagem, o delegado Rodrigo Bustamante. 

Ainda segundo o delegado, o hidrogel, importado da Ucrânia, está proibido desde 2014 no Brasil para a finalidade estética. Além disso, muitos dos produtos apreendidos no salão, como anestésicos, não poderiam ser aplicados pela esteticista por falta de formação profissional. 

"Essa aplicação de anestésicos podem ser aplicados apenas por profissionais da saúde. E, posteriormente, para evitar uma possível inflamação ou rejeição do produto no corpo, ela introduzia antibióticos nessas vítimas", detalhou o delegado.

As mulheres foram presas em flagrante no estabelecimento comercial. No momento da prisão, em uma sexta-feira, quatro clientes aguardavam para a aplicação dos produtos. Outras duas estavam agendadas para o sábado (7). As prisões foram convertidas em preventivas.

Como era o procedimento

A aplicação do produto acontecia em uma casa, usada como salão. A dona do comércio morava no imóvel, que tinha como principal atividade o bronzeamento artificial. Um quarto era dela, o outro para a esteticista dormir quando vinha realizar os serviços e um terceiro onde as clientes eram atendidas. Nesse cômodo tinha uma maca, um ar condicionado e uma mesa que servia de apoio para colocar os produtos. O local não tinha autorização para fazer esses procedimentos, segundo a polícia. 

"As vítimas ficavam deitadas em uma maca de bruços, era feito uma espécie de torniquete nas coxas, ela aplicava a anestesia e iniciava a introdução das substâncias nos glúteos. Como se tratava de silicone industrial, era uma agulha grossa, que fazia um buraco um pouco maior na superfície da pele. Após o final do procedimento, ela utilizava uma cola instantânea para tampar o buraco. O processo de infecção tem início a partir da rejeição dessa substância, e aí acabam surgindo buracos nas nádegas em uma tentativa do corpo expelir a substância. O local era totalmente inadequado. Se ocorresse alguma intercorrência, não haveria como fazer o socorro imediato das vítimas", explicou o delegado regional de Contagem, Luciano Guimarães. 

Ainda conforme a Polícia Civil, o número de vítimas pode chegar a 100, entre mulheres atendidas em Minas Gerais, em outros Estado e fora do Brasil. "O mercado no Rio já estava saturado para a esteticista. Então, ela começou a aplicar o produtos em outros locais, entre eles o salão em Contagem. Para vir a Minas, a investigada pegava ônibus porque de avião era mais difícil para passar com os produtos. Já a volta, em que não tinha mais o silicone industrial, ela fazia de avião. A dona do salão, responsável pelos agendamentos, ficava com 10% de cada aplicação, cerca de R$ 400", contou o policial. 

Na delegacia de Contagem, 20 mulheres já foram ouvidas, sendo que a metade teve algum tipo de lesão causada pelo silicone industrial.

Grupo "Filhas do bumbum"

Para mostrar os resultados dos procedimentos, a esteticista montou um grupo no WhatsApp que recebeu o nome de "Filhas do Bumbum", onde postava as fotos das nádegas após a aplicação dos produtos.

No entanto, após algumas mulheres apresentarem lesões, denúncias contra a dona do salão e a esteticista foram parar em uma página no Instagram. As investigações do caso continuam, e a polícia quer descobrir como os as suspeitas conseguiam o silicone industrial e os medicamentos.

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Crimes

Os crimes da autuação foram estelionato, exercício irregular da profissão e manuseio de produtos sem regulamentação legal pelos órgãos de vigilância sanitária. As pena pode chegar a 15 anos de prisão. Na delegacia, as mulheres não quiseram conversar com a imprensa.

Atualizada às 13h35.

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