Mesmo com o avanço da Covid-19 em Minas Gerais, que já tem casos confirmados da doença em 640 dos 853 municípios, com a lotação de Unidades de Terapia Intensiva (UTI) em algumas regiões e com a taxa de ocupação recorde desses leitos em Belo Horizonte, o hospital de campanha criado pelo governo estadual no Expominas, concluído desde abril, ainda não tem previsão de começar a funcionar. A unidade de alta complexidade do hospital, montada no Mater Dei, em Betim, na região metropolitana, com 180 leitos de UTI equipados, também não começou a receber pacientes.

O início da operação do hospital de campanha depende da contratação de uma entidade sem fins lucrativos, qualificada como Organização Social, que será responsável pela gestão das duas unidades. O edital do processo de seleção pública para escolher a entidade foi aberto na semana passada, com prazo previsto para a publicação da convocação da vencedora em 16 de julho.

O secretário municipal de Saúde de Belo Horizonte, Jackson Machado, já pediu ao secretário de Estado de Saúde, Carlos Eduardo Amaral, a inauguração do hospital de campanha, para evitar pressão sobre o sistema de saúde da capital. Nesta semana, a taxa de ocupação dos leitos totais de UTI da cidade chegou a 86%, a maior desde o início da pandemia.

No entanto, Amaral voltou a afirmar nesta terça-feira (23), durante coletiva da Secretaria de Estado de Saúde (SES-MG), que este "ainda não é o momento para a abertura do hospital de campanha", planejado para "momentos muito avançados da epidemia". Minas Gerais tem, até o momento, 29.897 casos confirmados de Covid-19 e 720 mortes pela doença.

"Neste momento, em que identificamos aumento de casos, ainda temos capacidade de recrutar muitos leitos da rede instalada no Estado. Ou seja, em Belo Horizonte e na região Central, temos condição de recrutar vários leitos de UTI e de enfermaria, inclusive os 200 leitos planejados para a Rede Fhemig no Hospital Galba Velloso", disse o secretário. "Vamos continuar recrutando os leitos dentro da rede. Isso é importante porque esse recrutamento deixa um legado de melhoria da saúde no pós-pandemia", completou.

O hospital de campanha no Expominas recebeu investimento de R$ 5,3 milhões, a maior parte custeada por meio de parcerias e doações. O local visa desafogar a rede de saúde e tem capacidade máxima para 740 leitos de enfermaria, destinados a pacientes com quadro mais estável, e 28 leitos de estabilização, considerados semi-intensivos.

Já a unidade de Betim é destinada a casos de alta complexidade e possui 180 leitos de UTI. Ela foi criada em uma parceria entre o Hospital Mater Dei, empresários mineiros articulados pela Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg) e o Estado.

O Mater Dei disponibilizou três andares da unidade Betim-Contagem, que estavam inoperantes, para o hospital de campanha. A instituição realizou as intervenções que ainda faltavam e forneceu o espaço com todas as adaptações necessárias, além de estrutura para ressonâncias e tomografias e laboratório. Um grupo de empresários levantou cerca de R$ 16 milhões para a aquisição de móveis e equipamentos, como camas hospitalares e respiradores. Toda a estrutura está pronta, aguardando a contratação da entidade gestora por parte do Estado para entrar em funcionamento.

"Achamos que seria muito mais lógico um hospital de campanha funcionando em um ambiente que já foi construído para ser hospital do que construir do chão, de maneira improvisada, um hospital, principalmente a parte de terapia intensiva", explica o diretor-presidente da Rede Mater Dei de Saúde, Henrique Salvador. "Pode haver um gargalo mais adiante, esperado para agosto, e, se isso realmente ocorrer, acho que esses leitos de UTI podem salvar muitas vidas", completa. Segundo ele, após o fim da pandemia, os equipamentos serão doados para o Estado, para serem alocados em unidades de saúde da capital ou do interior.

Questionada pela reportagem, a SES-MG informou que o hospital de campanha "é uma reserva técnica e será utilizado em caso de necessidade, ou seja, quando esgotadas todas as possibilidades de atendimento na rede hospitalar convencional do Estado".

Segundo a pasta, os chamamentos públicos para a gestão do hospital "estão em franco andamento", com prazo para finalização estimado para, no máximo, 20 ou 30 dias. De acordo com a secretaria, o governo tem condições de fazer a ativação da estrutura do hospital em até dez dias, após concluído o processo de credenciamento pelo Ministério da Saúde.

Desde o início da pandemia, 2.254 novos leitos foram abertos no SUSFácil em Minas Gerais, sendo 1.303 leitos clínicos e 951 de UTI.

Edital prevê contrato de três meses

A vigência do contrato de gestão do hospital de campanha será de três meses, que podem ser prorrogados enquanto perdurar a situação de calamidade pública gerada pelo coronavírus. Caso a situação seja cessada antes, o contrato de gestão pode ser extinto. O valor estimado a ser repassado pelo Estado, por meio do contrato, é de R$ 42.955.000.

A entidade vencedora do edital será responsável por toda a operacionalização, incluindo controle dos medicamentos, lavagem do enxoval do hospital, higienização de todas as áreas e serviço de segurança. Caberá a Polícia Militar de Minas Gerais monitorar, fiscalizar e avaliar a execução dos serviços.

De acordo com o edital, a ideia é que, no primeiro mês de vigência, sejam colocados em funcionamento 60 leitos de UTI na unidade Betim, além de 80 leitos de enfermaria e 14 de estabilização na unidade Belo Horizonte. No segundo e no terceiro meses de vigência, serão colocados em funcionamento 120 leitos de UTI na unidade Betim, além de 160 leitos de enfermaria e 14 de estabilização na unidade Belo Horizonte. 

A entrada de pacientes nas unidades do hospital de campanha vai ser determinada por demanda da Central de Regulação do SUS.

Entenda. A cidade de Betim já tem um hospital de campanha em funcionamento, inaugurado pela prefeitura municipal ainda em abril, no Fiat Clube. O local conta com 120 leitos.