Abusos

Minas registra quatro estupros por dia, mas 65% não são denunciados

Apesar de redução no número de crimes, especialistas alertam que pouco mais de um terço dos casos é registrado

Por Aline Diniz
Publicado em 12 de novembro de 2014 | 04:00
 
 

Apesar de apresentar ligeira queda no número de registros de estupro, o crime continua a preocupar especialistas em Minas Gerais. Conforme o Anuário Brasileiro de Segurança Pública, o índice de casos registrados pela polícia passou de 1.741 (2012) para 1.427 (2013). A taxa por 100 mil habitantes passou de 8,8 para 6,9, o que representa uma média de quatro ocorrências por dia. A estimativa é que apenas 35% das vítimas relatam o abuso às autoridades. Isso significa que 65% dos estupros não chegam a gerar boletins de ocorrência.
 

Para o sociólogo e especialista em segurança pública da Pontifícia Universidade de Minas Gerais (PUC Minas) Moisés Augusto, “a redução de um ano para o outro é insignificante”. Para ele, vários aspectos impedem a denúncia dos casos. “As pessoas não estão preparadas para contar (sobre o abuso), porque o estigma é carregado para o resto da vida”, considera.

O especialista analisa que há uma sensação de impunidade nesse tipo de crime, além dos indícios, na visão dele, de que os abusos acontecem em ambientes domésticos, o que aumenta a subnotificação. O especialista considera também que o estudo é importante para que o poder público repense maneiras de garantir a integridade das pessoas. “A violação dos direitos humanos de uma pessoa é a violação de toda a humanidade”, completa.

A delegada de Repressão aos Crimes Contra a Dignidade Sexual de Belo Horizonte, Cristiane Ferreira Lopes, afirma que o mais difícil para as vítimas é reviver o crime, o que as impede, em alguns casos, de procurar as autoridades. “Às vezes a gente instaura (o inquérito), e, na hora de a vítima reconhecer o suspeito, ela tem uma reação emocional muito forte. Outras vezes, não é possível aprofundar no caso porque a mulher desiste de prosseguir com a acusação”, relata.

Tráfico. Outro crime citado no anuário e que merece destaque é o tráfico de drogas. O valor absoluto de apreensão de entorpecentes passou de 24.272, em 2012, para 24.118. A pequena queda não foi capaz de impedir que Minas Gerais aparecesse em terceiro no ranking de Estados com mais apreensões de drogas ilícitas.

Conforme Moisés Augusto, Minas faz parte de rotas nacional e internacional do tráfico. Além disso, o Estado tem grande malha viária e estradas vicinais que facilitam o transporte e o pouso e decolagem de pequenos aviões usados por quadrilhas especializadas.

Triângulo é importante rota do tráfico de drogas

A região do Triângulo Mineiro se destaca como importante rota do tráfico internacional de drogas, conforme o tempo mostrou em uma série de reportagens em novembro de 2013. Segundo o delegado da Polícia Federal Carlos D’Ângelo, a cocaína é produzida na Colômbia e na Bolívia e passa pelo Paraguai, antes de chegar a Minas.

D’Ângelo ressalta que o Triângulo possui topografia plana, que favorece o pouso de aeronaves. “Às vezes eles (traficantes) compram fazendas para pousar ou usam pistas de proprietários que nem percebem a presença deles”, conta o delegado.

No dia 29 de setembro, a operação Navarro desarticulou uma quadrilha que, em dez anos, transportou 30 toneladas de pasta-base de cocaína.

Condenado
Marcos Antunes Trigueiro, o “maníaco de Contagem”, foi condenado nesta terça a 31 anos, oito meses e dez dias de prisão por estuprar e matar a estudante Natália Almeida Paiva, em outubro de 2009. Ele já havia sido condenado a 98 anos pela morte de três mulheres, além de 29 anos por latrocínio e roubo qualificado, totalizando 159 anos.

Resposta
Queda.
A Secretaria de Estado de Defesa Social (Seds) informou que Minas tem a segunda menor taxa de estupros do país, e que a Polícia Civil trabalha com delegacias especializadas para que todos os crimes possam ser denunciados.

Homicídios. A secretaria pontuou ainda que a taxa de assassinatos no Estado é a segunda menor do Sudeste
e a oitava menor do Brasil. O governo ainda ressalta que o índice ficou em 20,2 no ano de 2013, abaixo da média nacional no mesmo período, que foi de 23,7.

Tráfico. Segundo a Seds, o terceiro lugar no número de apreensões de entorpecentes significa
que há uma ação conjunta entre as polícias para a apreensão de drogas e punição dos culpados.