As ruas dos Guaranis e dos Carijós, no hipercentro de Belo Horizonte, foram fechadas, por quase duas horas, nesta quarta-feira (15), para a reconstituição de um acidente de trânsito. Na ocasião, registrada no dia 12 de abril, um ciclista, de 38 anos, morreu atropelado por um ônibus.
Para solucionar o caso, a Polícia Civil usou um scanner de tecnologia 3D - aparelho que chegou a Minas Gerais em dezembro do ano passado. O recurso, usado pela primeira vez no estado para elucidar um crime de trânsito, será capaz de reconstituir com riqueza de detalhes o dia do acidente. A tecnologia será utilizada porque, no dia do acidente, o local não foi periciado.
O equipamento, por meio do uso da Inteligência Artificial (IA), será capaz de integrar em um sistema de computador imagens extraídas do scanner 360°, imagens de drones e de câmeras de vigilância. Os materiais reunidos poderão auxiliar a polícia reconstituir com exatidão o momento do atropelamento. O resultado das análises vai ficar pronto em 30 dias.
"Esse aparelho já é usado para a reconstituição de homicídios. Pegamos o exemplo de São Paulo, no caso do motorista da Posrche. Então resolvemos utilizar esse recurso nesse caso", destacou a delegada Renata de Oliveira.
"Meu tio usava a bicicleta como meio de transporte em respeito ao meio ambiente"
A auxiliar administrativo e sobrinha da vítima, Carla Thainá acompanhou a perícia. Segundo ela, é difícil relembrar a morte de uma pessoa tão querida que fazia questão de se locomover de bicicleta para contribuir em favor ao meio ambiente.
"Hoje faz um mês e dois dias que o meu tio morreu. Nossa família vive um pesadelo, nunca esperei passar por isso. Meu tio usava a bicicleta como meio de transporte em respeito ao meio ambiente e morreu atropelado por um ônibus. Tomara que essa nova tecnologia consiga nos ajudar a conseguir justiça. Por enquanto o que fizemos para o caso não ser esquecido foi afixar uma bicicleta, com flores e uma foto no poste, perto do local onde o corpo do meu tio foi lançado. Também escrevemos no chão algumas palavras que para nós significa muito: justiça, ciclovia e bicicleta", destacou Carla.
Pedal do Silêncio
Para pedir por maior segurança para os ciclistas que transitam pelo hipercentro de Belo Horizonte, diversos grupos que utilizam a bike como meio de transporte na capital vão realizar, a partir das 20h, desta quarta-feira, um manifesto silencioso. Batizado como 'Pedal do Silêncio', a manifestação pacífica foi organizada pelas redes sociais. O grupo promete sair pedalando da Praça 7, tendo como chegada a porta da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), na região Centro-Sul da capital.
"O intuito é pedir por respeito no trânsito para os ciclistas. Não queremos mais realizar manifestos por causa de acidentes que matam as pessoas que optam pelo uso da bike como meio de transporte. Além disso, a cidade precisa muito de mais ciclovias", pontuou o organizador do manifesto Cristiano Sacarpely.
Na prática: laser scanner 3D
O equipamento foi operado, nesta quarta-feira (15), pelo perito criminal André Godoy Campos. Segundo o especialista, o dispositivo poderá ser utilizado em locais de crimes contra a vida, patrimoniais, de trânsito, de engenharia legal e de meio ambiente. Entre as análises possíveis estão padrões de sangue, impressões digitais e trajetórias balísticas.
“A utilização do Scanner 3D pela perícia criminal, permitirá a reconstrução, perpetuação e reprodução simulada de cenas de crimes, além de marcação dos vestígios e medições precisas, facilitando a visualização das dinâmicas e até mesmo auxiliando na busca pela autoria do fato”, explica o perito.
Ainda conforme o policial, “o escaneamento 3D possibilitará a projeção em realidade aumentada da cena do crime, podendo ser utilizada como instrumento auxiliar nas audiências, de modo a permitir o ingresso virtual no local dos fatos”.
Saiba mais: laser scanner 3D
De acordo com a Polícia Civil, o Laser Scanner 3D dispõe de uma tecnologia denominada 'Light Detection and Ranging' (Lidar), em que o escâner projeta constantemente um ou vários feixes de laser em um comprimento determinado. O processador do equipamento traduz a distância de leitura por meio de algoritmos matemáticos e a converte em pontos com dimensões em 3D, formando a chamada “nuvem de pontos”.
Dessa forma, o equipamento não apenas captura imagens tridimensionais detalhadas, como também oferece uma análise aprofundada das cenas de crime. Equipado com laser, escâneres de precisão, câmeras de alta resolução e sensores especializados, o dispositivo mapeia ambientes complexos, revelando detalhes muitas vezes despercebidos aos olhos humanos.