Acabou o hiato. Após três anos afastada da praça da Cemig, local tradicional da celebração em Contagem, na região metropolitana de Belo Horizonte, a Missa do Dia do Trabalhador voltou para a área de origem. Desde 2019, a cerimônia foi adaptada devido às restrições da pandemia, chegou a ser apenas online e, depois, restrita a poucos fiéis.

A 47ª Missa do Trabalhador, nesta segunda-feira (1º), é presidida pelo bispo auxiliar da Arquidiocese de Belo Horizonte, dom Nivaldo dos Santos Ferreira, e concelebrada pelo vigário Episcopal da Região Episcopal Nossa Senhora Aparecida (Rensa), padre Dinamar Gomes Pinto. Neste ano, a missa tem como tema “Corações ardentes, pés a caminho”, inspirada em uma passagem bíblica do livro de Lucas, que aponta a atitude missionária dos discípulos de Emaús, após encontro com Jesus Ressuscitado.

O bispo auxiliar dom Nivaldo Ferreira disse que voltar com a celebração na praça é uma forma de oxigenar a espiritualidade e a fé cristã, que precisa estar presente na vida cotidiana dos fiéis. 

“Foi interrompida essa tradição por conta da pandemia. Ficamos três anos sem fazer essa experiência bonita de celebrar em praça pública a missa que recorda a importância da dignidade do trabalho e também apresenta condições para, de forma orante, pedir a Deus a graça de uma diminuição das injustiças sociais”, declarou o religioso.

Para ele, a pandemia desalinhou totalmente as estruturas e segurança das pessoas. “É uma data forte de espiritualidade e ajuda as pessoas a retomarem a esperança. Principalmente aquelas que não conseguirem se reestabelecer no mundo do trabalho”, pontuou.

“A Celebração Eucarística, que tradicionalmente reúne milhares de pessoas, convida os fiéis para, junto com suas famílias, rezarem e agradecerem pela intercessão de São José, protetor dos Trabalhadores, pelas graças alcançadas”, diz a convocação da arquidiocese.

Fiéis

Após três anos sem a celebração na praça da Cemig, a percepção de fiéis e ambulantes que aproveitavam a data era de que o público foi bem menor que os anos anteriores. Para Diego Ascânio Santos, 29, professor, a quantidade de público não está relacionada à fé. Ele, que acompanha o evento há oito anos, considera que a retomada após o período de pandemia seria mais tímida. “Mas a fé permanece a mesma. Acredito que nos próximos anos a participação será maior”, projetou .O docente contou que sempre agradece pela graça do trabalho, mas também pede pelo fim das injustiças contra os trabalhadores e também por condições mais dignas de trabalho. “Temos que agradecer porque nas condições econômicas atuais do país, é privilégio ter emprego. Mas peço também que todas condições sejam dignas, que as pessoas não precisem ser exploradas e que todas as famílias tenham trabalho digno para levar o pão para a casa”, disse.

O sol forte na manhã de segunda ajudava a venda de ambulantes e compensava o público menor. José Aparecido, de 60 anos, que é ambulante no Barreiro, vai à Missa do Trabalhador há três décadas. “Sempre dá um lucro bom,mas hoje caiu porque tem pouca gente, mas aqui lota. Nos outros anos foi melhor, mas está bom, o sol tá quente e estamos vendendo bastante. (Não podemos reclamar) ainda está bom. Se Deus é bom, todo dia é bom”, disse esperançoso e frisou que nunca trabalhou de carteira assinada, sempre de forma autônoma. 

Perto de José, estava Maria Aparecida, de 48 anos, também ambulante. Mais tímida, ela contou que trabalha como ambulante na porta de escola nos dias úteis. Ela viu no Dia do Trabalhador a oportunidade de tentar tirar uma grana extra porque “a situação tá brava” e o movimento no feriado “estava devagar”. 

Quem também marcou presença no local foi a prefeita de Contagem, Marília Campos (PT). À reportagem, a chefe do Executivo celebrou o fato de a cidade gerar mais de 1.450 empregos de carteira assinada no mês de março. “O que aponta e sinaliza uma retomada do nível de empregabilidade no nosso país. E muito importante ter recuperado a realização da missa, que é organizada pela igreja católica porque recupera não apenas a tradição, mas também porque espalha esperança, a necessidade de continuarmos a lutar por um país com a cidade com mais empregos e, portanto, com mais justiça social”, disse.

O vigário episcopal da Região Episcopal Nossa Senhora Aparecida (Rensa), padre Dinamar Gomes Pinto, que celebrou a missa,  disse que voltar à praça da Cemig, um ponto referencial para todos os trabalhadores, foi muito importante porque “além de valorizar e reforçar a dignidade do trabalhadores, traz ao coração desses trabalhadores a chama da fé”.

Ao final da celebração, houve um ato de pessoas atingidas pela lama, após rompimentos de barragem em Mariana, em 2015, e também em Brumadinho em 2019. Sobre isso, o padre Dinamar Pinto disse que é impossível esquecer do que chamou de tragédias criminosas da Vale. “Para além dessas mortes, no dia a dia, a gente vê o retorno lamentável da escravidão no mundo do trabalho e inúmeras mortes e acidentes no trabalho. A Igreja tem tolerância zero para qualquer tipo de escravidão e exploração no trabalho. Tolerância zero para tudo o que fere a ética e dignidade do trabalhador”, frisou.

Celebração de São José Operário

A data para o católico também é para a comemoração de São José, o esposo de Maria, que era carpinteiro, modelo e protetor dos trabalhadores. Em 1955, o Papa Pio XII instituiu a comemoração de São José Operário para o mesmo dia em que é celebrada a data civil do Dia do Trabalhador para, assim, dignificar os frutos do esforço humano por meio do trabalho.

Tradição

Celebrada desde 1976, a Missa do Trabalhador, em honra a São José Operário reúne milhares de pessoas na Praça da Cemig. Apenas no período da pandemia, entre os anos de 2020 a 2022, a Celebração Eucarística deixou de ser celebrada em praça pública.