Morreu em Belo Horizonte nesta quinta-feira (28) a tenente Carlota Mello, última mineira que serviu na Força Expedicionária Brasileira (FEB) durante a Segunda Guerra Mundial e que ainda estava viva. Ela estava internada no Hospital Paulo de Tarso, no bairro São Francisco, região da Pampulha, e sofria de pneumonia.
Segundo o presidente da Associação dos Veterenos da FEB, Marcos Renault, a saúde de Dona Carlota, como era chamada, estava debilitada há alguns meses. "De um tempo para cá ela vinha tendo pneumonias constantemente e internou agora, mas ela não estava com Covid-19. É uma grande perda, mas ela cumpriu o seu papel como heroína do Brasil, tendo uma história de vida invejável", afirmou.
História
Natural de Salinas, no Norte do Estado, Carlota Mello formou-se como enfermeira pela Escola da Cruz Vermelha e se inscreveu no curso de Enfermagem de Emergência do Exército. Após a conclusão, ela foi convocada para atuar na Segunda Grande Guerra pela FEB, entre os anos de 1939 e 1945.
“Cuidava de soldados sem perna, braço, olho e, muitas vezes, sem memória. Havia mina para todo lado. Uma chegou a explodir bem próximo ao alojamento onde estava. Fui com a cara e a coragem, tive a ousadia para fazer o que nenhuma mulher tinha feito, nem mesmo os homens tinham feito”, contou a tenente em entrevista a O TEMPO em 2014.
De acordo Marcos Renault, ela fez parte de um grupo que viajou à Europa que contou com 73 enfermeiras brasileiras. Com sua morte, restou apenas uma ainda viva: Virgínia Maria de Niemeyer Portocarrero, de 102 anos, que mora no interior do Rio de Janeiro atualmente.
Sem filhos e a única mulher dentre oito irmãos, Carlota foi designada para atuar no Hospital do 5º Exército Americano, em Nápoles, na Itália. Lá, ela permaneceu por 11 meses. “Cheguei à Europa em 1944, numa época em que a neve cobria os joelhos. Morei numa barraca de lona, o frio fazia doerem os ossos. Comia apenas derivados de trigo e frutas. A carne era de cavalo. No início achei estranho, mas depois me acostumei. Carne de frango só aparecia uma vez por mês”, contou à época.
"A aparência frágil e doce disfarça a guerreira que trabalhou incansavelmente e salvou diversas vidas durante o maior conflito da história. A tenente Carlota Mello é uma relíquia nacional constantemente reconhecida por sua história, experiência de vida e bravura", ponderou o Exército em uma homenagem pelos seus 105 anos, celebrados no dia 12 de outubro de 2019.
Ainda não há informações sobre o seu funeral.