Desolada. Assim estava Isabela Carolina de Almeida Costa, de 27 anos, na manhã desta quarta-feira (11), enquanto aguardava a liberação do corpo do pequeno Ian Henrique de Almeida Rocha, de apenas 2 anos, que morreu na madrugada de terça-feira (10), após dois dias internado no Hospital João XXIII, em Belo Horizonte. Depois que a criança chegou na unidade de saúde, médicos desconfiaram de maus-tratos e chamaram a Polícia Militar. Ele estava sob os cuidados do pai e da madrasta, que são considerados suspeitos de maus-tratos.  

"Não aguento mais ficar sem esse menino. Eu não sei o que está acontecendo, só sei que ontem cheguei na delegacia e falaram que vão fazer de tudo para eles (pai e madrasta) fiquem presos", disse, com a voz embargada pelo choro, em entrevista à reportagem de O TEMPO

Os suspeitos, que estão presos desde domingo (8) e tiveram a prisão preventiva decretada pela Justiça, chegaram a alegar que a filha da suspeita, uma criança autista de apenas 4 anos, seria a responsável pelos ferimentos de Ian. "Não sei o que está acontecendo, não foi essa a versão que chegou até mim", disse a mulher sobre a nova versão do casal. 

Na terça-feira, Isabela contou aos irmãozinhos de Ian, um menino de 7 e uma menina de 6, sobre a morte do garotinho. "Toda hora perguntam que horas o irmãozinho deles vai chegar da casa do pai. Estão morrendo de saudades", contou, aos prantos, a mulher. 

Velório será em Santa Luzia

Ainda de acordo com Isabela, o velório de Ian está previsto para começar às 15h desta quarta, em uma funerária de Santa Luzia, na região metropolitana de Belo Horizonte. "Mas não vai demorar, serão apenas duas horas de duração", finalizou a mãe do garotinho. 

Relembre o caso

No último domingo, após a criança chegar em um primeiro hospital, em situação gravíssima, ele acabou transferido para a outra unidade, onde sofreu duas paradas cardíacas. Na unidade de saúde, os médicos desconfiaram da versão do pai, de 31 anos, e da madrasta, de 34, e acionaram a Polícia Militar (PM). 

De acordo com o boletim de ocorrência registrado no Hospital Risoleta Neves, a criança chegou com lesão na boca, na cabeça e na testa. A mão esquerda do garotinho estava torta e as pernas estavam duras. Foi assim que o pai disse ter encontrado o filho de madrugada, quando chegou do trabalho. Ele tentou abrir os olhos da criança, que não respondia, apenas gemia de dor.

Enquanto era transferido para o João XXIII, o menino sofreu uma parada cardíaca de quase 15 minutos e, ao chegar no HPS, sofreu outra de 10 minutos. O boletim de ocorrência aponta que, no João XXIII, a equipe médica constatou lesão não visível por toda parte anterior da cabeça, escoriações no queixo, além de edema na testa.

Segundo a versão do pai da criança, ele estava em casa no sábado, quando decidiu sair para cortar o cabelo. Ao chegar no salão, a companheira dele ligou e disse que a criança havia caído e, por isso,o medicou com ibuprofeno, já que o menino reclamava de dor. Ele chegou em casa no fim da tarde, viu o filho e não reparou anormalidades. Eles brincaram e o pai deu um banho no garotinho. 

Mais tarde, ele saiu para trabalhar, chegou a receber uma mensagem de áudio da namorada pouco depois das 0h, mas não conseguiu ouvir e, quando chegou em casa, já viu o filho inconsciente no sofá. Ele questionou a companheira, que teria se assustado, porque, segundo ela, o menino foi dormir com ela na cama. Na versão da mulher, durante o almoço, uma panela caiu e derrubou frango com quiabo no chão, o que deixou o piso escorregadio. No início da tarde, ela estava no quarto quando ouviu um barulho alto, mas não foi ver o que ocorreu. Em seguida, ela alega ter escutado outro estrondo, e a criança chorou e pediu colo.

A madrasta alegou aos policiais que fez o menino dormir durante a tarde, assim a filha dela, e saiu com o companheiro, deixando as duas crianças sozinhas em casa. Quando chegou, a menina já estava acordada, enquanto o enteado ainda dormia. Durante a madrugada, ela relatou que o menino vomitou algumas vezes, mas deu banho nele e voltou a fazer ele dormir.

Aos policiais, a mãe do menino afirmou que o filho já voltou da casa do pai machucado outras vezes e, na última, teve sangramento no ouvido. A mãe suspeita de agressões da madrasta e omissão do pai.