ROMPIMENTO DA BARRAGEM

'Não foi acidente', diz delegado sobre mortes na tragédia da Samarco

Pela primeira vez a Polícia Civil deixou de trabalhar com a hipótese de acidente para configurar crime de homicídio no caso do rompimento da barragem de Fundão

Por DANILO EMERICH/ JULIANA BAETA
Publicado em 05 de fevereiro de 2016 | 16:39
 
 

Com o material apreendido no escritório da Samarco em Belo Horizonte nesta sexta-feira (5), a Polícia Civil já configura homicídio no caso do rompimento da barragem de Fundão em Mariana. ​Resta ainda definir se o crime foi doloso (quando há intenção de matar), ou culposo (quando não há).

A operação Kairós da Polícia Civil, chefiada pelo delegado Rodrigo Bustamante, se concentrou nas buscas por conversas internas por meio de e-mails e chats corporativos e também pessoais, de técnicos, gestores e diretores da empresa.

Também foram recolhidos balanços financeiros e outros documentos no escritório localizado no bairro Funcionários, região Centro-Sul da capital.

Os nomes dos suspeitos de homicídio não foram quantificados ou divulgados, assim como o material apreendido, mas se trata de funcionários e gestores da Samarco. Eles terão que responder pelo crime de homicídio 19 vezes, já que foram 19 as vítimas.

Também ficou configurado o crime continuado no caso do dano ambiental, já que ainda após a tragédia, os rejeitos despejados continuam poluindo o rio Doce.

A análise do material recolhido deve ficar pronta em uma semana, segundo Bustamante. O objetivo da ação realizada nesta sexta-feira é saber até onde a diretoria da Samarco tinha conhecimento prévio dos riscos do rompimento da barragem. Os dados informáticos e telemáticos, como atas de reuniões,dados biotécnicos e de contabilidade, apreendidos são desde três meses antes do rompimento
​O delegado informou que os crimes constatados incidem na punição dos responsáveis. ​Segundo ele, só foi feita essa diligência agora, porque só agora ele sentiu necessidade disso, para evitar que a Samarco, "que tem colaborado até então", limite os documentos enviados para a perícia. Essa foi a primeira vez que a polícia falou oficialmente em crime no caso de Mariana, ao invés de acidente. Conversas telefônicas ainda não foram requisitadas pela polícia.

​Entre o material apreendido estão as informações do piezômetro, aparelho que lê em tempo real as medidas água e monitora o terreno da barragem. A última leitura do aparelho é datada de 26 de outubro de 2015. "Após esse período a empresa chegou a passar leituras manuais, mas estes dados não são confiáveis", disse Bustamante. Todo esse material está sendo enviado pro Instituo de Criminalística da Polícia Civil para ser analisado por 12 peritos. 

​O delegado não quis apontar as teorias para as causas do rompimento, mas informou que todo material apreendido irá ajudar nas investigações. "No início a gente trabalhava com a hipótese de acidente, mas ela não é válida mais. Não foi acidente", disse Bustamante.

O inquérito já tem 1500 páginas divididas em oito volumes e mais de 80 pessoas já foram ouvidas desde o dia do rompimento. ​​