Realizado pela primeira vez em Minas Gerais neste sábado (2 de dezembro), na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), o Fórum Lixo Zero chamou a atenção para os hábitos de consumo e para o modo de produção de insumos. O evento tem o objetivo de debater sobre o tratamento correto dos resíduos e inspirar pessoas a mudar o comportamento sobre o tema. A importância dos catadores de lixo também foi destacada. 

A produção de um alto volume de resíduos não recicláveis é um dos problemas apontados pelo fórum. Uma das organizadores do evento, a bióloga especialista em educação ambiental e saneamento rural, Christiane Ubner, prega a necessidade de repensar o atual modelo de produção. É importante, segundo ela, que as grandes indústrias passem a produzir mais resíduos ‘aproveitáveis’. 

“Temos materiais que não têm reciclabilidade e continuam sendo produzidos e consumidos em excesso pela população e não são destinados de forma correta”, pontua. E quem paga a conta, diz a espoecialista, é o ambiente e, consequentemente, o ser humano. “Os dos principais impactos disso, que já estamos vivenciando, é a crise climática, com poluição dos nossos rios, nossos mares, da atmosfera, com emissão de gases do efeito estufa”, enumera. 

Catadora de lixo há 12 anos, Cleide Maria realiza diariamente esse trabalho de trato dos resíduos reforça a fala de Christiane. A produção de não recicláveis é apontada por ela como um dos desafios para o trabalho já árduo dos catadores de lixo. “Hoje a gente tem uma leva muito grande de embalagens no mercado que a gente não consegue voltar para a cadeia produtiva para a reciclagem. Que as indústrias busquem produzir um resíduo que realmente vai voltar para a cadeia produtiva”, pede. 

 Descarte incorreto do lixo 

A destinação errada dos resíduos por parte da população também é um desafio a ser combatido, segundo Cleide Maria. Ela lembra que, mesmo com lixeiras disponíveis pela cidade, muito lixo é jogado nas ruas, o que causa, por exemplo, problemas como inundações.  

“Papel de bala, embalagem de cigarro, cartela de cirgarro, cartela do remédio, vai para os bueiros, rios e córregos, e a gente sofre pelas enchentes. Acaba acontecendo esses entupimentos”, explica a catadora, que lembra da importância de que o resíduo tenha a destinação correta para evitar, também, a poluição do ambiente. 

“A gente tem muitas lixeiras pela cidade. Se a gente colocar na lixeira errada, ele vai para o aterro. Se você tem um resíduo que pode ser comercializado, pode gerar renda e voltar para a indústria, é eu ter essa destinação correta. Se não tem um local, leve para sua casa e faça a destinação correta”, ensina. 

 Desperdício de alimentos 

A bióloga Christiane Ubner traz, ainda, outra preocupação: os alimentos desperdiçados. Na avaliação da especialista, este é um dos principais desafios relacionados ao lixo. Além de uma questão ecológica, ela diz, a situação provoca também problemas sociais. 

“Muitas pessoas passando fome. Nosso país é rico na produção de alimentos, mas a gente tem essa lacuna quanto à segurança alimentar da população”, alerta. 

 Inspirar, mobilizar e conscientizar 

Para mudar o tratamento do lixo, na avaliação de Christiane Ubner, a conscientização é fundamental. Ela enxerga a própria humanidade como responsável pela situação atual do tratamenrto do lixo e aponta uma mudança de comportamento como solução. 

“Antes de você adquirir um produto, é você pensar: ‘Eu preciso desse produto? A embalagem dele tem uma reciclabilidade? Ela vai ter uma destinação adequada? E é fundamental também que a gente busque conhecer mais voltadas para a economia circular, da economia solidária, da economia sustentável”, defende. 

No entendimento de Aline Dias, o evento atingiu o objetivo de mobilizar pessoas em todo o estado de Minas Gerais. O que ela espera agora é que o conhecimento compartilhado no fórum seja espalhado.  

“Que essas pessoas possam ser mobilizadoras dentro de seus territórios, e as pessoas possam pensar a respeito do modelo econômico”, torce. 

Presente no evento desde o início, às 8h, a estudante Evellyn Vitória Américo dos Santos, de 18 anos, entende que o fórum tem potencial para aumentar a consciência da população sobre a importância do tratamento adequado do lixo. Ela até conta uma nova prática que aprendeu no evento, para auxiliar no plantio de mais árvores. 

“A bomba de sementes. Quando você consome uma fruta, você pode poegar a semente, embrulhar em argila ou jornal molhado, e quando estiver passando, em uma área verde, você pode lançar como uma ‘bomba do bem’, e aquilo virar uma planta”, conta.