Com assombro, a imprensa nacional noticiou que o infectologista Davi Uip, 67, que lidera a luta contra a pandemia do novo coronavírus em São Paulo, apresentou sintomas da doença e, por isso, se pôs em isolamento social e fez teste de identificação viral. O teste deu positivo, conforme divulgado pelo governador paulista João Dória. 

Não por coincidência, no domingo, autoridades espanholas reconheceram que pelo menos 3.500 profissionais da saúde foram diagnosticados com Covid 19. Ocorre que, por lidar cotidianamente com pessoas infectadas, médicos, enfermeiros, fisioterapeutas e demais trabalhadores da saúde tornam-se um grupo vulnerável. 

Por isso, o uso de Equipamentos de Proteção Individual (EPIs), como luvas e máscaras cirúrgicas, se faz essencial. Dado que, segundo modelos matemáticos, a estimativa é de aumento exponencial de casos de coronavírus em Minas Gerais, assombram os hospitais do Estado o receio pela falta de EPIs.

O cenário, em alguns centros de saúde, já é de "uso econômico" destes equipamentos, isto é, profissionais têm adiado o descarte destes produtos, o que torna seu uso menos seguro - conforme apurou a reportagem. No entanto, para o enfrentamento da pandemia, notas técnicas têm recomendado a racionalização dos EPIs.

Pedido de doação

Uma situação que levou o cardiologista Yorghos Michalaros, do Hospital Governador Israel Pinheiro, ligado ao Instituto de Previdência dos Servidores do Estado de Minas Gerais (Ipsemg), a clamar por doações. "Estamos necessitando de: máscaras cirúrgicas, máscaras N95, máscaras PFF2, capotes ou macacões descartáveis, óculos de proteção luvas de procedimento, protetores faciais tipo 'face shield'", escreveu ele em um post aberto no Facebook.

"Estamos com mais de 5.000 casos suspeitos de Covid 19 em Minas Gerais e este número tende a dobrar a cada 5-7 dias. Em um curto periodo de tempo, nossos recursos de saúde se esgotarão", escreveu Michalaros na publicação, feita no último sábado. Nesta segunda, de acordo com balanço divulgado pela Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES-MG), o número de casos confirmados de coronavírus chegou a 128, sendo que outros 7.766 são considerados suspeitos no Estado. Em Belo Horizonte há 60 confirmações.

"Mal iniciou a epidemia em nosso Estado e o hospital da Previdência, que atende os servidores do estado como professores da rede estadual, funcionários administrativos, de saúde e policiais civis, já não tem estoque suficiente de equipamentos de proteção (EPIs). Por isso, venho pedir a quem puder ajudar a doação de equipamentos de proteção", explica o profissional.

Uso racionalizado

O receio pela falta de EPIs não é exclusividade do Hospital Governador Israel Pinheiro. Segundo fontes ouvidas pela reportagem, no Hospital Metropolitano Odilon Behrens o cenário é também preocupante.

"Já está faltando (EPIs) no sentido de fazer o uso correto deles, como descartar uma máscara cirúrgica dentro do período ideal. A informação é que a quantidade está sendo diminuída e em breve deve faltar", confirmou uma fonte a O Tempo.

No Hospital de Pronto-Socorro João XXIII, da Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais (FHEMIG), uma enfermeira confirmou que o uso dos equipamentos está sendo racionalizado.

Prefeitura diz que notas técnicas autorizam uso racionalizado de EPIs

A Secretaria Municipal de Saúde de Belo Horizonte, por meio de nota, informou que os hospitais subordinados à prefeitura desenvolveram um "Plano de Enfrentamento a Covid 19 com vistas a garantir o melhor atendimento à população e a segurança de seus profissionais". 

"Ressaltamos que as notas técnicas (publicadas pelos órgãos sanitários federal, estadual e municipal) têm indicado que o uso da máscara cirúrgica seja feito por até duas horas e o uso das máscaras N95 por até 15 dias, sempre que elas estiverem em condições de uso, ou seja, sem sujidades visíveis ou dano aparente", diz o informe.

De fato, na sexta-feira, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) publicou nota técnica em que orientou os profissionais de saúde a utilizarem máscaras N95 ou equivalentes por um período maior que o indicado pelos fabricantes, se o equipamento estiver em boas condições de uso, limpo e seco.

A Secretaria informa também que, assim como outros serviços de saúde, "o Hospital Odilon Behrens busca alternativas para atender à demanda por equipamentos de proteção, fazendo compras emergenciais e em constante contato com a Secretaria Municipal de Saúde".

Por fim, acerca de pedidos de doações de equipamentos, o texto reforça: "Tendo em vista que todos os esforços para o combate a pandemia são bem-vindos, o hospital vem recebendo e está aberto a receber doações de equipamentos de proteção e insumos que possam ser usados na assistência".