Depois de 120 dias de portas fechadas e quedas bruscas no faturamento, com dificuldades até para quitar despesas básicas como o aluguel, o setor de bares e restaurantes de Belo Horizonte vai realizar uma manifestação contra a prefeitura municipal na próxima quarta-feira (22). Organizado pela Associação Brasileira de Bares e Restaurantes, a previsão é que o ato "Que dia BH volta?" seja realizado a partir das 14h30, na Praça da Liberdade, região Centro-Sul.
Em um vídeo divulgado nas redes sociais, o presidente da entidade, Paulo Solmucci, lembra que nenhuma capital brasileira proibiu por tanto tempo o funcionamento do setor em meio à pandemia do coronavírus. É o exemplo de São Paulo, que após 104 dias, determinou o retorno dos estabelecimentos no início do mês – porém, a cidade vê uma redução das confirmações de casos e mortes diárias pela doença.
"É uma triste marca mundial. Somado a esse recorde, somos a única capital do país sem um plano para a retoma das atividades. Nesses 120 dias, acumulados enormes perdas de vidas, empresas e empregos. Infelizmente, todo esse sacrifício não conteve o inimigo invisível e nos próximos dias viveremos a triste e previsível escalada da curva", declarou.
Conforme o último boletim da prefeitura, divulgado na sexta-feira (17), Belo Horizonte já teve 13.700 casos confirmados da doença, com 329 óbitos. Apesar de ter a sexta maior população do país, com pouco mais de 2,5 milhões de habitantes, a capital mineira não aparece no ranking das 25 cidades com mais mortes pela Covid-19. Na liderança, aparecem São Paulo (8.602) e Rio de Janeiro (7.621) e em último está Nova Iguaçu (383), na região metropolitana do Rio.
Já o índice de transmissão da doença atingiu o menor número desde o início da pandemia, em março. "A quantidade de infectados atual – que está no maior nível da pandemia na capital – transmite o vírus para o mesmo número de pessoas", informou a prefeitura no balanço. A ocupação dos leitos de UTI e enfermaria segue em alerta vermelho, com 85% e 74% de ocupação, respectivamente.
Até o final de junho, a entidade estima que o setor realizou cerca de 35 mil demissões na região.
Funcionamento normal
Para o presidente da Abrasel, apesar das restrições tomadas pela prefeitura, que retornou a fase zero do processo de flexibilização, com a permissão do funcionamento apenas dos serviços essenciais, o comércio segue funcionando normalmente fora do hipercentro da capital.
"A pessoa não tem outra alternativa para sobreviver a não ser trabalhar e acaba aumentando a velocidade da contaminação [da doença]. Com a falta de um protocolo seguro, estamos perdendo para o vírus, tanto na saúde quanto na economia, por falta de engajamento da sociedade e desesperança", afirmou.
Na última semana, a prefeitura chegou a apresentar um plano de retomada para o setor, porém a entidade considera a sugestão inviável. Entre as novas regras que serão definidas, estão a medição de temperatura, com termômetro digital infravermelho, de clientes e funcionários, além do máximo de duas pessoas por mesa e o distanciamento de 2,5 metros entre cada mesa. "Não podemos desistir ou nos omitir. Temos que trabalhar para retomada segura com o apoio da sociedade, trabalhadores, empresários e prefeitura. Não estamos propondo abrir hoje ou amanhã, mas sim ter um plano viável", declarou Solmucci no vídeo.
Conforme o dirigente, no fim do protesto será entregue um documento à prefeitura municipal com as sugestões de protocolos de reabertura do setor. Em nota, o Executivo municipal informou que, em nenhum momento, impediu o funcionamento de bares e restaurantes, mas "fez restrições para que o atendimento seja realizado nas modalidades delivery ou retirada no local". Segundo a prefeitura, a medida segue sendo adotada por conta do risco sanitário do consumo nos estabelecimentos, "já que os clientes permanecem por tempo relativamente alto e sem máscara".
Por fim, o poder público alega que "todas as atividades econômicas tem sido impactadas", o que teve fazer com que a arrecadação municipal registre queda de R$ 900 milhões até o final do ano. "Diante desse cenário de frustação de receitas, o Município tem priorizado a assistência à saúde e ao atendimento da população mais vulnerável da cidade", finaliza.