Covid-19

Regiões de Minas deixam Onda Roxa mesmo com novos recordes de óbitos

Jequitinhonha também avança, apesar de ter a maior probabilidade de aumento nas internações dentre todas as microrregiões do Brasil, segundo a Fiocruz

Por Cristiano Martins
Publicado em 15 de abril de 2021 | 20:00
 
 
Concentração urbana de BH é composta por 23 municípios, segundo Censo 2022 Foto: Ramon Bitencourt / O Tempo

 

A macrorregião Sudeste, com polo em Juiz de Fora, e as microrregiões de Belo Horizonte e Vespasiano foram retiradas da Onda Roxa do programa Minas Consciente no mesmo dia em que bateram novos recordes na média de mortes confirmadas pelo novo coronavírus, de acordo com o Termômetro da Covid do portal O TEMPO.

As mudanças anunciadas nesta quinta-feira (15) pelo governo estadual também irão flexibilizar a mobilidade no Vale do Jequitinhonha, apontado pelos cientistas da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) como a macrorregião de saúde, dentre todas do Brasil, com a maior probabilidade de aumento em longo prazo nas internações por Síndrome Aguda Respiratória Grave (SRAG). Esse conjunto de sintomas está associado à Covid em 99,3% dos óbitos com confirmação laboratorial para causas virais.

A progressão para a Onda Vermelha também inclui as regiões Norte e Sul de Minas e as microrregiões de Contagem e Curvelo, nas quais a média de novas vítimas da doença segue bem próxima aos piores níveis já registrados em toda a pandemia (veja os detalhes no gráfico interativo mais abaixo).

O relaxamento chama especial atenção na região Sudeste e na microrregião de Belo Horizonte, nas quais o ritmo de mortes acelerou 91% e 52%, respectivamente, nas últimas duas semanas. O número diário de vítimas confirmadas da Covid subiu de 19 para 36 em Juiz de Fora e arredores, e de 36 para 54 na capital e cidades associadas.

A reportagem questionou a Secretaria de Estado de Saúde (SES-MG) sobre os critérios para justificar a decisão especificamente nestas localidades com recordes e altas recentes, mas não recebeu resposta até esta publicação.

 

 

Estabilidade, mas ainda no patamar mais elevado

O avanço de ao todo sete das 14 macrorregiões mineiras para a Onda Vermelha está amparado no controle do ritmo de novos contágios, alcançado ao longo das últimas duas semanas, após a implementação das regras mais restritivas em todo o Estado. O efeito positivo das medidas já começou a se refletir na média de mortes, também estabilizada depois da escalada com recordes em série desde o início de março.

O problema é que ambos os indicadores ainda encontram-se no maior patamar de toda a pandemia. São 9.287 mineiros diagnosticados por dia com a Covid-19, pouco abaixo do recorde de 10.242 observado há apenas duas semanas. A média de mortes confirmadas, por sua vez, está em 330 vítimas diárias do coronavírus no Estado, praticamente no mesmo nível do ápice (339) registrado há somente três dias. Os dados são da própria SES-MG.

O boletim mais recente da Fiocruz também indica uma tendência de redução significativa nas internações por SRAG no Estado, em quase todas as macrorregiões (à exceção do Jequitinhonha) e na capital, mas mantém o sinal vermelho ligado quanto ao elevado patamar de casos e óbitos.

 

 

“A grande maioria das macrorregiões de saúde do país e de Minas Gerais apontam queda, embora ainda em níveis muito altos para sugerir um possível relaxamento”, ressalta Leonardo Bastos, pesquisador da Fiocruz e membro do Observatório Covid-19 BR.

Para o especialista, a situação do Jequitinhonha inspira atenção especial. Segundo a análise da Fiocruz, a região apresenta um “sinal forte de crescimento na tendência de longo prazo”, com probabilidade acima dos 95% para o aumento nas internações.

“A estimativa para a incidência de novas hospitalizações por SRAG na macrorregião é a única do país a mostrar uma probabilidade alta de tendência de crescimento. É importante tentar entender o porquê essa região mostra um comportamento distinto do resto do país. Esse dado fica como um alerta importante”, acrescenta Bastos.

Governo aposta na chegada de remédios e redução da fila

Em entrevista coletiva no início da tarde, o secretário de Estado de Saúde, Fábio Baccheretti, confirmou que o governo de Minas precisou fechar leitos de UTI recentemente devido à falta do “kit intubação”. Por outro lado, ele anunciou que uma nova remessa dos medicamentos é esperada até o fim de semana, o que poderia explicar em parte a decisão, pois as mudanças no programa Minas Consciente passam a valer no sábado (17).

 

 

Em texto publicado no site oficial, a secretaria também havia argumentado que as taxas de ocupação hospitalar caíram nas regiões agora incluídas na Onda Vermelha.

“O isolamento e as medidas restritivas da Onda Roxa geraram resultados positivos nas macrorregiões que poderão progredir [...] Em relação às microrregiões, as cidades da Grande BH poderão avançar após haver uma redução na fila de pacientes por leitos de UTI, assim como a micro de Manhuaçu, que também controlou a incidência da doença após ter entrado há mais de um mês na Onda Roxa”, diz o texto.

Na coletiva realizada mais cedo, o governador Romeu Zema (Novo) pediu a colaboração da sociedade para evitar uma inversão na tendência positiva. “Obtivemos melhorias de indicadores, o que possibilitou as decisões técnicas por parte da Secretaria de Saúde. Mas é preciso lembrar que estamos longe de ter conforto. Ainda temos um sistema hospitalar sobrecarregado, os profissionais de saúde estão cansados e as vagas são poucas", afirmou.

 

Veja os detalhes da sua região e leia a metodologia abaixo:
Para melhor interatividade e visualização, recomenda-se o acesso com um computador ou tablet

 

 

Entenda o gráfico

O Termômetro da Covid apresenta a evolução da média móvel de novos óbitos e casos confirmados nos últimos sete dias e tem como parâmetro de comparação os mesmos dados registrados há duas semanas.

Se a média dos últimos sete dias superar em mais de 15% o valor de duas semanas atrás, então a situação observada é de crescimento acelerado. No outro oposto, uma redução superior a 15% representa desaceleração. Se a variação for de até 15% para mais ou para menos, a média se encontra em um nível de estabilidade.

O uso da média móvel se justifica pela grande oscilação das notificações entre os diferentes dias da semana. Ela fica muito clara quando se observa a variação em feriados, fins de semana, segundas e terças-feiras, devido ao represamento dos testes nos laboratórios ou a atrasos nos registros pelas prefeituras, por exemplo. Desta forma, a média móvel mostra tendências mais consistentes do que os dados diários.

Já a janela de duas semanas para comparação se explica pelo tempo médio de ação do vírus e de demora seja no processamento de exames ou na divulgação dos resultados nos sistemas utilizados pelas prefeituras e pela Secretaria de Estado da Saúde (SES-MG).

Esta é a mesma metodologia utilizada, por exemplo, pelo jornal The New York Times.

Os dados são provenientes dos boletins epidemiológicos da SES-MG e referem-se aos municípios de residência dos pacientes. Isso explica eventuais números negativos, uma vez que os casos podem ser revisados ou "transferidos" de cidade.

Os registros são detalhados por município e agrupados por microrregião e macrorregião, conforme a organização do SUS (Sistema Único de Saúde). Essa definição é importante, pois leva em conta a estrutura da rede assistencial. Caso uma cidade tenha números baixos, isso não significa necessariamente uma situação confortável, pois a maioria dos municípios (91%) não possui leitos de alta complexidade (UTI) e precisa transferir os pacientes mais graves para os polos micro e macrorregionais.