O dietilenoglicol - substância anticongelante de uso muito comum na indústria e altamente tóxica para ser humano - que foi encontrada em duas garrafas da cerveja Belorizontina e pode estar associado a uma doença misteriosa em Minas causa uma intoxicação grave do organismo que pode levar a morte. 

Como é o efeito no organismo

A presidente da Sociedade Mineira de Nefrologia e professora da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Lílian Pires de Freitas, contou que como a substância não é própria para o consumo, os casos de ingestão de dietilenoglicol são raros e geralmente de forma acidental. 

"Quando a substância é ingerida, ela é rapidamente absorvida e se dirige ao fígado para ser processada e se transforma em outros compostos que são altamente nocivos para o organismo.  Depois ela começa uma série de lesões progressivas no corpo. A fase inicial são sintomas no trato gastrointestinal, depois passa para a destruição dos rins e por fim alterações neurológicas.", explica a professora.

Os sintomas são semelhantes aos que as pessoas internadas com a doença misteriosa estão. De acordo com a Secretaria de Estado de Saúde, os pacientes começaram com sintomas gastrointestinais, como náusea, vômito e dor abdominal, associados à insuficiência renal aguda grave de evolução rápida, que progride em 72 horas, seguida de uma ou mais alterações neurológicas, como paralisia facial, borramento visual, amaurose, ou seja, perda de visão, alteração de sensório e paralisia descendente.

Fatores para os danos

A professora explicou ainda que só o contato com o produto não traz problemas, é somente a ingestão que prejudica o organismo. Segundo ela os danos ao organismo também variam de acordo com a quantidade ingerida e também a condição de saúde do paciente

Homem ou mulher 

Os oito pacientes internados com a doença misteriosa são homens e isso levantou a questão da motivação de somente pessoas do sexo masculino serem acometidas pela intoxicação. A nefrologista explicou que as motivações para isso podem ser várias.

"É importante considerarmos que as investigações ainda estão muito no início.  Não se sabe ainda se foi um lote todo, se uma garrafa tinha mais dietilenoglicol que a outra. Existe também a possibilidade de homens beberem mais cerveja do que as mulheres ou pode ser só uma coincidência de só homens terem bebido o lote. Nesse sentido ainda não há como fazer essa avaliação", considerou Lílian. 

O homem tem mais facilidade de metabolização de etanol que as mulheres e o dietilenoglicol  tem o mesmo processo de metabolização que o etanol. No entanto, ainda não é possível afirmar uma ligação dos paciente serem do sexo masculino com o metabolismo. 

Tratamento

Quando se descobre a intoxicação por dietilenoglicol logo no início existe um antídoto que é administrado no hospital para não ocorrer  a produção dos compostos tóxicos pelo fígado. "Quanto mais rápido o tratamento acontecer menos vai destruir às células. A recuperação e o tratamento depende da quantidade de produto ingerido e da gravidade da lesão", conclui a nefrologista.