Santa Luzia

'Se precisar a gente mata, rouba, faz tudo', diz menor detido por tráfico

Com 16 registros na polícia, adolescente afirma que, como olheiro, ganha R$ 400 por dia e não pretende parar

Por Carolina Caetano
Publicado em 29 de julho de 2019 | 18:16
 
 
Apreendido por tráfico de drogas, adolescente diz receber R$ 400 por dia como 'avião' Foto: Uarlen Valério

"Eu comecei porque eu quis, ninguém me obrigou. Vou continuar no tráfico". O relato é de um adolescente de 16 anos apreendido nesta segunda-feira (29) suspeito de envolvimento com o tráfico de drogas em Santa Luzia, na região metropolitana de Belo Horizonte. 

"Durante operação de rotina, nós recebemos informações que havia uma residência abandonada no bairro Asteca onde estariam escondidas diversas drogas e arma de fogo. Na porta da casa nós já nos deparamos com o menor tentando pular o muro. Ele já é bem conhecido e tem 16 passagens por tráfico ilícito de drogas", explicou o sargento Alex Estevão de Souza, do 35 Batalhão de Polícia Militar.

Dentro do imóvel foram localizados 128 pinos de cocaína e uma submetralhadora. A função do adolescente seria a de "olheiro", verificando os materiais e avisando aos traficantes da presença da polícia. 

Rindo enquanto conversava com a reportagem de O TEMPO, o garoto contou que começou a trabalhar para o tráfico aos 10 anos. "Eu não moro na mesma casa que a minha família, fico em outra no mesmo lote. Parei de estudar na quarta série e não espero nada da minha vida", afirmou. 

Segundo ele, em um dia como olheiro do tráfico é possível tirar R$ 400. Ao ser questionado em relação ao valor alto, o jovem afirmou que "cada serviço é serviço".

"Eu gasto esse dinheiro com roupa e com tudo. Daqui a pouco estou na rua de novo. Se precisar a gente mata, rouba, faz tudo na tranquilidade", contou. 

Desestrutura familiar 

Uma irmã do adolescente acompanhou o jovem até a delegacia. Segundo ela, a morte da mãe após um infarto, em 2016, pode ter contribuído para a vida dele no crime.

"Quando nós soubemos, ele já tinha cinco registros na polícia. Ele era muito agarrado com a nossa mãe, dormia com ela", contou a dona de casa de 23 anos, sob anonimato. 

Há três dias, eles também perderam o pai por complicações na saúde por causa do alcoolismo.

"Depois que minha mãe morreu, meu pai começou a beber muito. Para a família isso tudo é muito difícil. Já tentamos uma internação e nada. A gente espera que ele saia dessa", finalizou a mulher.