Caso Camila Groppo

Surto após retirada de papada já afeta ao menos 8 mulheres em BH, diz Estado

Os procedimentos foram realizados em dezembro de 2023, mas, até hoje, as mulheres sofrem com as consequências do surto

Por Aline Diniz
Publicado em 29 de março de 2024 | 11:02
 
 
Lesões teriam sido causadas por cirurgias plásticas Foto: Arquivo Pessoal

A Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) confirmou, nesta sexta-feira (29), a presença de uma micobactéria não tuberculosa de crescimento rápido na clínica onde a dentista Camila Groppo realizava cirurgias plásticas no Centro de BH. A Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES-MG) também se pronunciou sobre a situação. Conforme as duas secretarias, há 16 casos confirmados da Micobactéria de Crescimento Rápido (MCR) em Belo Horizonte — oito deles no espaço onde a profissional atuava. O cenário é considerado um surto — caracterizado pelo aumento repentino de uma doença em uma região específica.

Devido à situação, o Estado emitiu uma nota técnica. O documento foi enviado para entidades ligadas à saúde como: hospitais, órgãos de vigilância sanitária, Associação Mineira de Epidemiologia e Controle de Infecções e para o Conselho Regional de Odontologia (CRO). As secretarias vão continuar o monitoramento dos casos. A Polícia Civil e o Ministério Público do Estado de Minas Gerais (MPMG) também apuram as notificações. 

A contaminação começou a ser investigada depois que denunciantes se uniram em um grupo de WhatsApp para compartilhar suas histórias. A defesa da dentista argumenta, porém, “que as contaminações por bactérias podem ter diversas causas, e cada alegação dessas supostas vítimas deve ser analisada de forma individual". Veja a nota completa ao fim desta matéria.

Os procedimentos foram realizados em dezembro de 2023, mas, até hoje, as mulheres sofrem com as consequências do surto. Segundo a PBH, a infecção por essa micobactéria pode gerar quadros graves, com formação de abcessos (depósitos de pus), e o tratamento engloba procedimentos cirúrgicos e uso de antimicrobianos por tempo prolongado.

A clínica foi vistoriada no dia 11 de março e foi interditada. O estabelecimento apresentava irregularidades “que colocavam em risco a saúde dos pacientes”. Caso a ordem municipal seja descumprida, a multa é de 
até  R$ 9.979,53. Além disso, os proprietários podem responder processo civil-público.

Autônoma relata experiência

A autônoma Juliana Moraes Fernandes, de 40 anos, é uma das denunciantes. Ela contou que há, inclusive, mulheres internadas para o tratamento com medicação venosa. “É um tratamento pesado, que pode afetar o fígado e os rins”, destacou Juliana. A paciente ainda aguarda o resultado do seu exame para iniciar seu tratamento.

Desde o fim do ano passado, ela já realizou quatro drenagens (retirada de pus) no Hospital Odilon Behrens. A confirmação do surto traz um misto de alívio e preocupação para Juliana. “Tenho um filho de dez anos, não sei como farei se precisar ficar internada. A gente esperava uma situação que permitisse um tratamento mais tranquilo”, desabafou. 

Apesar de toda a dificuldade, Juliana agradece aos profissionais que ajudam em sua recuperação. "Há profissionais bons, que querem realmente nosso bem. O doutor Matheus Bastos faz parte da equipe de cirurgia buco-maxilo-facial e me atendeu todas as vezes que eu precisei. Não sei ainda se vou precisar de cirurgia, mas quando cheguei ao hospital estava com o rosto deformado", finalizou.

O que diz a defesa da dentista Camila Gruppo

"A defesa, por meio dos advogados Vinícius Xingó Tenório de Oliveira e Caroline Arantes Bittar, confirmam que a cirurgiã-dentista possui a formação necessária para realizar os procedimentos previstos pela resolução 198/2019 do CFO. Tendo inclusive já comprovado sua capacidade técnica e legal perante os órgãos, por meio da realização de cursos após a graduação de 5 (cinco) anos de faculdade, os quais são devidamente reconhecidos pelo MEC, em consonância com a Lei 5.081/66. 

Vale ressaltar que os cursos são considerados como pós-graduação, e aceitos pelo conselho de classe  como comprovação de capacidade técnica para a execução da lipo de papada, que é um procedimento já consagrado na prática da odontologia desde 2019. 

Em relação do único caso de micobacteriose confirmado pela Secretaria de Saúde, reitera que as contaminações por bactérias podem ter diversas causas, e cada alegação dessas supostas vítimas deve ser analisada de forma individual sem qualquer juízo de valor ou condenação antecipada. 

A Dra. Camila Groppo vem sofrendo uma série de especulações, sem contudo, ter tido qualquer conclusão por partes dos órgãos pertinentes sobre os fatos. Importante lembrar que vigora no direito pátrio a presunção de inocência e o respeito à chance de apresentar a sua defesa.

Por fim, ressaltamos que a profissional, a todo tempo, esteve e está à disposição dos órgãos, colaborando com as investigações. É importante afirmar que existe uma investigação em curso, sem qualquer conclusão! 

Camila é cirurgiã-dentista devidamente habilitada, mãe de uma criança de 04 meses e que, em momento algum, se furtou de qualquer obrigação que lhe é imposta como profissional da saúde e cidadã".

Registro da profissional

O Conselho Regional de Odontologia de Minas Gerais (CRO-MG) comunicou que a inscrição da profissional foi reativada nessa terça-feira, 26 de março de 2024. A reativação ocorreu após a profissional apresentar ao conselho o diploma válido, cumprindo assim os requisitos necessários para exercer a odontologia de forma regular. A informação é da assessoria de imprensa do CRO.

"É importante ressaltar que a inscrição da cirurgiã-dentista foi temporariamente suspensa a partir de 5 de março de 2024. Essa medida foi tomada em decorrência da falta de apresentação do diploma de conclusão do curso dentro do prazo estabelecido de dois anos após a colação de grau. Esse requisito é essencial para a alteração da inscrição provisória em definitiva, conforme as normativas do CRO-MG.

Além disso, o CRO-MG destaca que todos os cirurgiões-dentistas devem estar devidamente habilitados com cursos de pós-graduação, como a especialização em Harmonização Orofacial, para realizar procedimentos específicos, a exemplo da lipo de papada mecânica. É fundamental que o estabelecimento onde tais procedimentos são realizados possua as condições sanitárias adequadas e o alvará sanitário necessário, garantindo assim a segurança e o bem-estar dos pacientes. Apesar da inscrita não possuir nenhuma especialidade registrada no Conselho, ela pode possuir pós-graduação cirúrgica na área que a habilite na realização do procedimento. Neste caso, o documento não é passível de verificação junto ao Conselho, pois não se trata de curso a nível de especialização, portanto sua validade deverá ser verificada junto a instituição de ensino superior emitente. O CRO-MG reitera seu compromisso com a qualidade e a ética no exercício da odontologia, garantindo o cumprimento das normas e regulamentos que regem a profissão, em benefício da saúde bucal da população, e continuará acompanhando junto à vigilância sanitária o inquérito acerca de possíveis falhas no processo de esterilização".