Despertar a atenção da sociedade sobre a importância de proteger as crianças e adolescentes, especialmente contra o abuso e exploração sexual, mobilizou centenas de pessoas na região do Eldorado, em Contagem, neste sábado (11.5). A passeata e as atividades realizadas na praça Nossa Sra. da Glória, onde a caminhada encerrou seu trajeto, fazem parte das ações do Maio Laranja, campanha nacional de combatendo a exploração e abuso sexual infantil no Brasil.
Segundo o site oficial da campanha no Brasil, em parceria com a ONG “Life Impact International Brasil”, a cada hora 3 crianças são abusadas no país. Dessas, cerca de 51% têm entre 1 a 5 anos de idade.
O evento realizado foi organizado pelo Programa Protegidos, iniciativa de capacitação de pais, professores, profissionais e principalmente crianças sobre abuso e exploração sexual. A diretora do Programa e uma das principais organizadoras da passeata deste sábado, Keyla Cristina, trabalha na área há 18 anos. Segundo a ativista, a urgência de fazer algo para proteger as crianças veio de uma experiência pessoal de violência que passou na infância.
“Depois do meu abuso, que eu não contei, que eu não relatei, e quando eu fui contar meu avô ja tinha falecido, porquê foi ele que abusou de mim, ficamos sabendo de situações muito piores que aconteceram na família. E se eu tivesse tido coragem e soubesse que eu poderia falar naquela época eu poderia ter ajudado a evitar situações. Por isso, eu penso que precisamos chegar nas crianças com uma linguagem lúdica, para mostrar que existem carinhos que são positivos, outros não. Eu vivi isso e eu não quero que nenhuma criança tenha que viver, que todas as crianças tenham acesso a essa informação, respeitando a idade e trazendo de forma lúdica”, explica.
Além da passeata, o evento contou com diversas iniciativas para as crianças, como brinquedos infláveis, cama elástica, pintura de rosto, brincadeiras com funcional, show de fantoches e apresentações. Adultos também puderam aproveitar para fazer um checkup de pressão e saúde com os alunos de enfermagem da Uni-BH e e pegar cartilhas sobre como ensinar as crianças sobre a proteção infantil.
Adulto protetor
A manhã também contou com palestras para ajudar as crianças a reconhecerem situações de abuso sexual, e sobre como os adultos podem se tornar uma figura de confiança as crianças.
“Os adultos precisam ouvir! O papel do protetor, seja ela pai, mãe, tio, avô, porquê a gente trabalha com a criança quem é seu adulto de confiança, é aquele que ouve, que acredita, que esta junto dele naquele momento. O papel dele é esta atento ao ambiente que a criança convive. Perguntar como foi o dia, o que eles fizeram, atividades desenvolvidas, com quem estavam. Quanto mais você está atento e ouve, mais a proteção é ampliada”, reforça Alediane Mendes, voluntária que atua junto a Keyla Cristina.
Além do Programa Protegidos, o evento de Maio Laranja em Contagem contou com a participação e ajuda da sociedade civil, escolas, empresas, e fiéis da Igreja Assembleia de Deus, onde Alediane atua como coordenadora do departamento infantil.
Keyla explica que embora as pessoas pensem que esse assunto não é abordado em igrejas, isso é uma falha, pois existem muitos templos que trabalham o tema. “Eu não era cristã na época do abuso, e eu vim conhecer sobre abuso dentro da igreja. A igreja me ensinou o que é abuso. Existem muitas igrejas que pensam nesse assunto. Mas também existem abusadores que fingem ser pastores, existem abusadores em todos os ambientes. Por isso nos temos que chegar primeiro nas infâncias”, reforça.
Para a analista de sistemas Verônica Ferreira, que acompanha e admira o trabalho de Keyla, os responsáveis precisam dar ferramentas para as crianças se protegerem. “A criança precisa de identificar a rede de apoio, quais as características da rede de apoio. Porque às vezes é um avô, um tio, um professor, é uma figura de autoridade para ele. Então ele tem que entender que apesar de ser uma figura de autoridade, existem pessoas que cometem esse atos. Ela precisa saber se proteger e poder falar com um adulto de confiança”, comenta Verônica, que é mãe e veio acompanhada de seu filho Gabriel, de 5 anos.
Denucie!
Os dados oficiais da Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública de Minas Gerais demonstram que apenas nos três primeiros meses deste ano, foram registrados 819 casos de estrupo de vulneráveis tentados ou consumados no estado. Destes, 789 foram consumados. É considerado crime de estrupo de vulneráveis a violência praticada contra crianças e adolescentes com idade inferior a 14 anos. Durante todo o ano de 2023, foram registrados 3.420 casos consumados do crime no estado.
Embora ps números assustem, para Keyla eles não refletem a realidade. “A subnotificação é muito maior porquê as pessoas têm medo de denunciar. E quando não denunciam um abuso, ela está ajudando o abusador. Quando trazemos para os órgãos competentes eles vão investigar, e vão até ajudar o abusador a entender o que ele esta fazendo e pagar pelo crime que ele fez, e evitar com que outras crianças passem por isso. Nosso trabalho é esse, fazer com que todas as instituições entendam como todas as denúncias são importantes para quebrar esse ciclo”, ressalta.
O Disque 100, canal oficial do Governo Federal recebe denúncias de violações de direitos humanos, como abuso e exploração sexual contra crianças e adolescentes. Caso saiba ou presenciei este crime, denuncie ou vá a delegacia mais próxima.