“A gente tem dormido mais tranquilo”. A constatação é do publicitário José Pereira de Alvarenga, 61, que há 17 anos reside com a família em uma casa no bairro Jardim Montanhês, ao lado do aeroporto do Carlos Prates, na região Noroeste de Belo Horizonte. A sensação de alívio, desde a desativação do terminal no dia 1º de abril, coincide com o desejo de dias melhores para a região — que envolve mais desenvolvimento econômico e infraestrutura para a área.
“Espero que o projeto do prefeito possa oferecer isso; temos dificuldades, por exemplo, com a oferta de comércios, como açougue, farmácia e padaria. Então, a gente fica com a expectativa. Mas não queremos que a região seja sobrecarregada”, completa.
Este também é o desejo do pedreiro Pedro Paulo Luiz, 65. Ele revela que os dias foram mais tranquilos desde o encerramento das operações no aeroporto. Segundo Pedro, os moradores estão esperançosos com a possibilidade de que a área possa ser utilizada para o desenvolvimento da região.
“A gente só teve um problema aqui, que foi o aeroporto. Agora que não tem mais, a gente espera conseguir comércios. Não tem supermercado, não tem farmácia, não tem nada aqui perto. Então, se resolver isso, vai ser bom, vamos conseguir levar nossa vidinha”, disse Pedro Paulo. Ele mora com os irmãos e um sobrinho em uma casa na rua Morro das Graças, a mesma onde um avião caiu e atingiu duas residências no dia 12 de março. O acidente terminou com a morte do piloto.
Após a queda da aeronave e o consequente debate sobre a desativação do terminal, o que se confirmou no dia 31 de março, a prefeitura da capital apresentou ao governo federal um projeto que prevê a transformação da área em “um grande bairro”. O planejamento prevê a ocupação do terreno com moradias populares, que devem abarcar entre 1.800 e 2.000 residências, uma unidade de saúde, escolas, um parque e uma área reservada a indústrias não poluentes.
O investimento previsto é de cerca de R$ 500 milhões. Os projetos começaram a ser desenvolvidos, e, no dia 18 de abril, o prefeito Fuad Noman (PSD) e o arquiteto e urbanista Gustavo Penna realizaram uma visita técnica com o objetivo de avaliar o espaço e as possibilidades do que pode ser feito no local. A prefeitura ainda aguarda que o governo federal transfira o terreno, o que deve ocorrer em até o final de agosto. Somente após esse procedimento é que as obras deverão ser iniciadas.
“A gente precisa entender melhor qual é o projeto do prefeito e como ele vai ser feito. O que nos preocupa é uma possível sobrecarga nas redes pluviais, no transporte. Temos que entender o que será feito para viabilizar toda essa situação para que isso não possa trazer um transtorno maior”, alerta o publicitário José Pereira de Alvarenga.
A preocupação dele é semelhante à do lanterneiro Marco Antônio Damasceno, 50, que reside no mesmo bairro desde o começo da década passada. “A esperança é sempre de melhorias. Uma Umei (Unidade Municipal de Educação Infantil), uma área de lazer para as crianças. Isso são coisas que agradam, porque hoje elas ficam disputando espaço com os carros. Mas a gente precisa entender direito como isso vai ser feito, cada hora falam uma coisa”, expõe Damasceno.
Planejamento da prefeitura
Desde a decisão federal de encerrar as operações no aeroporto do Carlos Prates, a prefeitura afirma que tem realizado uma série de reuniões com moradores da região para discutir o projeto para a área. Conforme o Executivo municipal, esses encontros são feitos com o objetivo de entender as demandas e propor alternativas e soluções para a região.
“Foi um mês bastante intenso. Aquele projeto preliminar se enriqueceu muito com a participação da sociedade civil e com arquitetos de universidades diversas, que trouxeram ideias interessantes. O projeto final será muito rico, privilegiando as áreas verdes, conceitos modernos de urbanismo”, afirma Natália Araújo, assessora especial da prefeitura da capital.
O projeto apresentado pelo Executivo prevê a ampliação do parque Maria do Socorro Moreira, a criação de uma UPA e um de centro de saúde, além de escolas de ensino fundamental e uma Emei. Segundo a assessora da prefeitura, essas são demandas antigas da região Noroeste e que podem ser solucionadas a partir da utilização da área do aeroporto. “Não é uma novidade se pensar isso para aquela parte da cidade, principalmente em relação a mobilidade”, afirma Natália.
Ela aponta, inclusive, que intervenções deverão ser feitas nos bairros próximos ao terminal, caso o projeto seja aprovado. “O impacto para as residências é importante ser discutido. Mas, quando a gente fala em moradias populares, é importante destacar que o transporte público precisa ser pensado. Então, essas obras serão levantadas e executadas quando esse projeto começar a sair do papel”, releva.
Projeto incerto
Conforme a assessora, embora haja a intenção de transformar a área em um “grande bairro”, esse projeto ainda não é definitivo. Isso porque o planejamento pode ter alterações, uma vez que o planejamento será apresentado ao governo federal, que ainda irá decidir sobre o repasse do espaço para o município. “Esse projeto será apresentado à Secretaria de Patrimônio da União, que avalia sobre a implantação e se justifica a doação de um terreno valorizado, avaliado em R$ 300 mi”, explica.
No entanto, Natália Araújo acredita que o governo não irá colocar impedimentos, uma vez que o projeto atende os interesses da União. “Uma das ambições do governo federal é justamente a retomada dos projetos habitacionais, e BH tem, hoje, um déficit de cerca de 70 mil moradias. Então é muito certo que esse programa case muito bem com os interesses do governo”, completa.