A Polícia Civil abriu inquérito para apurar um suposto caso de abuso sexual contra um adolescente de 14 anos em Ibirité, na região metropolitana de Belo Horizonte. A situação foi denunciada nessa quinta-feira (13) ao Conselho Tutelar, e o suspeito do crime é o treinador de futebol do garoto, de 38 anos.

De acordo com o boletim de ocorrência da Polícia Militar, policiais foram acionados pelas conselheiras em uma unidade de saúde da cidade. Segundo uma delas, o órgão tomou conhecimento dos fatos através de denúncia anônima e as profissionais seguiram para um clube do município, onde os abusos teriam acontecido.

No local, as conselheiras fizeram contato com um dos representantes do espaço de lazer e com o menor. Ele contou que é do Pará e veio para Minas Gerais na esperança de se tornar jogador de futebol profissional. O convite foi realizado pelo treinador e a mudança teria sido autorizada pelos pais do jovem, que passou a ficar no alojamento do clube com mais nove adolescentes e a treinar em um time de Ibirité.

Na versão do adolescente, nos últimos 15 dias, ele teria sido abusado duas vezes. O suspeito teria convidado o atleta para ir até a academia do clube, onde a vítima iniciou uma série de abdominais.

Após os exercícios, o treinador mandou que ele se deitasse para que fosse realizada uma massagem para "descontração do abdômen''. Em seguida, na versão do garoto, o homem passou as mãos na barriga e coxas dele vindo a abaixar o short do adolescente contra a vontade dele realizando atos libidinosos diversos.

Após os supostos abusos, o suspeito limpou o local e pediu para que o menino não contasse a ninguém o que tinha acontecido. Em um dos casos, o treinador deu ao atleta R$ 100 para que ele ficasse em silêncio. Por medo, ele não contou o que estava acontecendo, mas chorava sempre após os atos.

Outros atletas relataram abordagem de treinador

Ainda conforme o registro policial, o adolescente disse que tomou coragem de expor o caso depois que outros dois atletas, de 14 e 16 anos, contaram a ele que o treinador tentava abusar dos dois e oferecia dinheiro.

Em conversa com os militares, a dupla disse que na quarta-feira (12) de maio, o treinador tentou praticar atos libidinosos contra a vontade dos garotos e, novamente, ofereceu uma quantia em dinheiro, que não foi aceita. Eles afirmaram que contaram o que tinha acontecido ao administrador do local.

Suspeito dava treinamento no local há dois anos

À polícia, um representante do clube disse que os adolescentes estavam no espaço para preparamento físico, realização de treinos e participação em campeonatos amadores infantojuvenil enquanto aguardavam testes para clubes de futebol profissional.

Ainda conforme o representante disse aos militares, o clube coloca à disposição dos atletas academia, alojamento, alimentação entre outras coisas. Ao ser questionado sobre o treinador, outro representante do clube disse que o suspeito exerce a atividade como autônomo e que, enquanto profissional, não tinha nada que desabonasse a conduta dele.

A denúncia de abusos deixou os representantes surpresos, uma vez que o treinador está no local há cerca de dois anos e, durante esse tempo, não houve informação de que o homem tenha praticado "algo repugnante".

Ao tomar conhecimento dos fatos, a administração fez contato por telefone  com o treinador, que também ficava alojado no clube em espaço separado, e ele negou o crime. Os representantes pediram que o suspeito aguardasse no clube para esclarecer a situação, mas ele saiu do espaço de lazer e, desde então, não há notícias do seu paradeiro.

Posicionamentos

Em conversa com o fotógrafo Fred Magno, o gerente do clube, Thiago Gomes, informou que o clube e o time desenvolvem um trabalho na área esportiva de Ibirité há 20 anos e que nunca recebeu denúncias dessa natureza. "Anteontem houve, de fato, o relato de um garoto que foi molestado pelo 'professor'. Imediatamente, a gente deu a devida assistência para o garoto. Eu conversei com os pais dele para ficarem mais tranquilos e o hospedei na minha casa com a minha família", explicou o gerente.

Segundo ele, ao tomar conhecimento dos fatos, fez contato com o treinador por telefone e, mesmo com a negativa dos abusos, ele foi afastado do cargo.

"Falamos que ele estava afastado de todas as atividades e, quando nós chegamos ao clube, ele já tinha ido embora. O caso foi repassado ao Conselho Tutelar da cidade. Estamos prestando toda a assistência, esclarecimentos, passamos todos os dados do professor para a Polícia Civil. Agora temos que aguardar que a investigação seja concretizada e, que se ele realmente for culpado, seja punido perante à lei. Hoje são sete garotos que estão morando aqui, depois do ocorrido conversei com todos os adolescentes e, em primeiro momento, nenhum deles relatou que tinha acontecido algo com o professor. Pelo contrário, eles gostavam muito do professor. Ele era querido por todos. Depois que o garoto relatou, outros dois adolescentes contaram que houve a tentativa por parte do professor. Agora é buscar um novo profissional. Tratamos todos aqui no alojamento como filhos", explicou.

A Polícia Civil informou que "instaurou inquérito para apurar o caso. A investigação segue em andamento na 2ª Delegacia de Polícia Civil do município e três adolescentes já foram ouvidos. Outras informações serão repassadas em momento oportuno".

O Conselho Tutelar também foi procurado pela reportagem, e informou que o secretário de desenvolvimento social vai falar sobre o caso. No entanto, as ligações não foram atendidas.

A reportagem também tentou contato no telefone do suspeito, mas as ligações não foram atendidas.