Já chega a três o número de mulheres que denunciam assédios sexuais de um padre, pároco de uma igreja e dono de um tradicional colégio do bairro São Benedito, em Santa Luzia, na Região Metropolitana de Belo Horizonte. Todas as vítimas têm pouco mais de 20 anos.
A primeira denúncia foi feita à Polícia Civil (PC) por uma ex-funcionária da instituição de ensino, no dia 30 de agosto deste ano. "Ela me procurou, contou a história das atitudes absurdas do padre e disse que queria sair da escola. Foi então que colhemos a narrativa dela e apresentamos uma representação criminal ao delegado", detalha o advogado da denunciante, Mário Lúcio de Moura.
A denunciante conta que trabalhava na escola desde 2017, mas que os assédios começaram no início de 2020. A representação destacou que, apesar dos constantes assédios, a jovem se viu calada, tanto por ser subordinada na empresa do padre, como por sua influência como líder religioso da região, já que o padre era, inclusive, amigo de sua família.
Com a pandemia, a funcionária acabou afastada do trabalho, ficando 40 dias em casa. A partir daí, o suspeito passou a oferecer uma ajuda financeira de R$ 50 para a jovem, para ajudar no transporte para a faculdade, cuja mensalidades eram pagas pela escola. Porém, o padre exigia que ela recebesse o valor pessoalmente com ele, em sua sala.
A partir daí os assédios se agravaram. "(Ele) retirava a máscara de proteção do rosto da representante, forçando beijos de língua e afirmando que queria ser um 'pai para ela', que gostava muito dela, que ficava em casa e 'pensava nela' e que 'marcaria com a representante para que ela fosse na casa dele'", detalha a denúncia.
Apesar da vítima ser evasiva diante das investidas, os assédios passaram a aumentar, com o suspeito chegando a passar as mãos na barriga da jovem, tocar em seus seios, além de beijar sua boca e orelha, entre outros ataques. Os assédios ocorriam não somente na sala do padre, como em outras partes da escola quando eles ficavam sozinhos.
A PC informou, por meio de nota, que a investigação tramita, sob sigilo, na Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher em Santa Luzia. "Outras informações serão prestadas em momento oportuno para não atrapalhar os trabalhos investigativos", completou a instituição.
Novas denúncias
Passados quase dois meses, surgiram então outras duas jovens, sendo outra ex-funcionária do colégio e uma ex-funcionária da paróquia, que também tinham denúncias de assédio contra o padre.
Os advogados, Mario Lúcio e Tiago Lenoir foram com as vítimas novamente à delegacia na última terça-feira (26), quando o delegado colheu o depoimento das três mulheres, ainda de acordo com os advogados.
"Ele fez a oitiva, mas nós queremos providências imediatas, já que existe a chance de ocultação de provas, como filmagens e o celular dele, por exemplo. Por isso, na segunda-feira (1º) vamos nos reunir com o Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) para tentarmos agilizar as providências. Até ontem (quinta-feira, 28), o padre seguia pregando na igreja normalmente", conta o advogado Mario Lúcio de Moura.
A reportagem de O TEMPO também teve acesso ao relato de uma das outras vítimas do padre. "Isso aconteceu por cerca de 1 ano. Beijo forçado, mão dentro da blusa, até chegar nos seios. Mãos nas pernas. Vinha conversando, passando a mão no ombro como quem não queria nada, e quando você via, já estava nos seios", conta a jovem.
Ainda segundo a nova denunciante, os abusos aconteciam na escola e, também, na paróquia, onde muitas vezes o suspeito chamava as funcionárias e, até mesmo, coroinhas da igreja.
"Pedia para comprar coisas, tipo spray pra passar no joelho. E aí chamava na sala, falava que ninguém iria fazer isso (comprar coisas) por ele, e já começava passar a mão no ombro, nos seios. Na pandemia, que ele começou a pagar esse dinheiro toda semana, iam não só funcionárias, mas coroinhas também", denuncia.
Conforme as mulheres, os assédios não seriam recentes, já que, após as denúncias, pessoas contaram de casos antigos que foram abafados por conta da influência do pároco.
"Eu confiava muito nele, era amigo da família. Queria pedir que as mulheres tenham coragem de falar também. Começou com uma, e agora já são três. As coisas dele ficaram abafadas, mas, agora que começou, que as meninas e mulheres contem o que ele faz, pois é o silêncio que mata a gente", apelou uma das vítimas.
Padre não se posicionou
A reportagem de O TEMPO tentou contato por telefone na escola do padre, porém, um funcionário informou que seria necessário procurar a assessoria de imprensa da Arquidiocese.
Por meio de uma nota, a Arquidiocese de Belo Horizonte informou somente que "confia no adequado processo de apuração das denúncias, sempre pronta a buscar a realidade dos fatos em comunhão com as autoridades, para que prevaleça a verdade".
"Diante da seriedade da questão, é importante rapidez nas apurações para que tudo se esclareça", finaliza a nota.
Atualizada no dia 31/10/2021 às 15h45