Se para os belo-horizontinos a criação de corredores gastronômicos em pontos sem tradição boêmia tem sido uma oportunidade de conhecer a história da cidade e uma forma de ocupação do espaço público, para os turistas é um chamamento para viver a mineiridade. O resultado já é perceptível pelos números. De uma cidade ainda jovem e tímida, que já chegou a ter de 10% a 20% de ocupação na rede hoteleira, segundo a presidente do BH Convention & Visitors Bureau, Erica Drumond, o município cresceu, amadureceu e se transformou. De acordo com dados da Empresa Municipal de Turismo de Belo Horizonte (Belotur), até outubro deste ano, a média de ocupação dos hotéis na capital ficou em 64,88%. O número é maior, inclusive, do que o registrado no período pré-pandêmico, em 2019, quando alcançou 61,77%. Além disso, segundo a BH Airport, até o fim deste ano, cerca de 10 milhões de pessoas devem passar pelo Aeroporto Internacional de Belo Horizonte, em Confins – 3 milhões a mais do que no ano passado. 

Analista do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) Minas, Renato Lana afirma que, se hoje Belo Horizonte tem atraído mais turistas, isso é, em parte, devido à sua mudança de posicionamento. “Havia, antes, um posicionamento de trabalhar somente médios e grandes eventos. No entanto, começamos a perceber que, em alguns casos, não somos tão competitivos como São Paulo, Rio de Janeiro ou Curitiba, por exemplo. Então temos visto um movimento de repensar as ações, focando nos ‘pequenos’, na área do lazer, da gastronomia, entre outras”, diz ele, lembrando que Belo Horizonte, se não pelas proporções de alguns eventos, pode se destacar pela diversidade e pelas características únicas e repletas de significados de seus movimentos populares, “de rua”. 

Lana afirma que, de uns tempos para cá, a capital mineira tem sido cada vez mais procurada pelos eventos que podem ser realizados em pequenos pedaços dos bairros, acolhendo o turista em um ambiente amigável, que resgata os tempos mais antigos. São festivais gastronômicos, “arraiás” em vários bairros, feiras diversas com todo tipo de alimento e até roupas/acessórios, movimentos de rua, apresentações artísticas e culturais, além de simples reuniões para conversar, interagir, como na época em que ficar na porta de casa era uma atração e tanto – e não precisa deixar de ser. 

Isso, lembra ele, não quer dizer que Belo Horizonte também não tenha força e capacidade para abrigar coisas grandiosas – e shows renomados estão aí para provar –, mas que não precisa mirar apenas eles ou torná-los cópias do que ocorre em outras capitais brasileiras. “Esse ‘algo mais caseiro’ é muito interessante não só em termos de lazer para a população, mas também no que diz respeito ao desenvolvimento socioeconômico. Há espaços nas ruas que reúnem gastronomia, musicalidade, que são pontos de encontros para todas as pessoas, onde se pode levar os amigos, a família, o cachorro. São também oportunidades de geração de emprego e renda. Isso é visível quando se destrincha a cadeia de fornecedores”, diz ele. 

A esses costumes e ações acrescenta-se o próprio resgate da mineiridade, conforme destaca a presidente do BH Convention & Visitors Bureau, Erica Drumond. De acordo com ela, essa característica tem sido cada vez mais impulsionada e divulgada para além dos limites da cidade e do Estado, chamando a atenção de quem, um dia, talvez não tenha pensado em “turistar” em terras mineiras. 

“Atingir um consumidor, mudar a vontade dele entre uma capital e outra é como ‘água mole em pedra dura’. Quem não divulga não vende. Belo Horizonte tem tido sua mineiridade, sua gastronomia, bem divulgados. Uma cidade precisa ter isso, precisa ter seus atrativos bem definidos”, afirma Erica. 

A alegria presente no Carnaval, assim como a divulgação e o crescimento do evento, também contribuiu para projetar Belo Horizonte, segundo a presidente do BH Convention & Visitors Bureau. Mesmo quem não gosta do evento, diz ela, teve a oportunidade de conhecer mais sobre a cidade por meio de turistas que participaram da festa e, assim, puderam descobrir mais sobre os encantos da capital. Diante de tudo isso, Belo Horizonte deixou de ser uma cidade de passagem para se um “município-fim”. 

“A capital já foi uma receptora para cidades históricas. Hoje, porém, as pessoas também querem conhecer Belo Horizonte, sua modernidade, sua gastronomia, seus bares e restaurantes. Quem antes apenas passava por aqui agora aumenta sua permanência”, diz. 

De dentro para fora 

Se, por um lado, o resgate da mineiridade e de hábitos cotidianos é uma atração e tanto, por outro, Belo Horizonte também tem muito a oferecer no turismo “tradicional”. Diretor de marketing e promoção turística da Belotur, Leonardo Nunes lembra que a cidade tem trabalhado diversos pontos, inclusive na comemoração dos seus 125 anos. 

Até fevereiro de 2023, a capital mineira promove a Temporada Especial Aniversário de Belo Horizonte, com city tours e walking tours gratuitamente. Entre os sete roteiros disponibilizados, há o destaque para a arte urbana e a arquitetura do município, incluindo visitas ao Complexo Moderno da Pampulha, praças, museus, mercados, mirantes, entre outros pontos turísticos. Conforme Nunes, esse tipo de ação faz parte de todo um trabalho que Belo Horizonte tem feito para que o próprio morador se sinta parte do processo de evolução da cidade. É desse sentimento de pertencimento, de valorização do próprio município por quem nele vive que pode surgir o interesse de quem vem de fora, segundo ele. “O morador que não reconhece a sua cidade não a apoia. Esse pertencimento é importante, saber aquilo que se vive. É um grande apoio esse olhar do próprio morador”, diz Nunes. 

Além disso, a Belotur, segundo o diretor, tem trabalhado sobre pilares estratégicos. Cada vez mais, a cidade busca entender o que o público espera ao vir para cá. Com isso, há o apoio a eventos, por meio de editais da prefeitura, com repasses de recursos. Nesse sentido, mais uma vez, a diversidade aparece como um trunfo do município. “Há o investimento em todo tipo de evento: culturais, técnicos, científicos, religiosos, esportivos… Temos ganhado cada vez mais espaço”, afirma Nunes. 

Diversidade aqui, diversidade lá 

Se a diversidade é um dos ativos da capital e do povo mineiro, ela também aparece como característica dos próprios turistas. Presidente da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis (ABIH-MG), Guilherme Sanson afirma que a rede hoteleira de Belo Horizonte oferece uma pluralidade de ofertas e está preparada para receber todos os tipos de turistas. “Temos ofertas do supereconômico até o superluxo. Então a gente tem uma forma mais democrática de oferecer estadia para os hóspedes”, afirma ele. 

E se hoje Belo Horizonte já tem se mostrado forte, a tendência é melhorar ainda mais. “Belo Horizonte está tomando outra postura, outra proporção e tem sido cada vez mais uma referência nacional e internacional”, finaliza o analista do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) Minas Renato Lana.