Uma pesquisa da UFMG inicia nesta semana testes clínicos com um hormônio que, caso se mostre eficaz, poderá ser usado como tratamento da Covid-19. Liderado pelo pesquisador Robson Augusto Souza dos Santos, o estudo vai analisar a ação do hormônio angiotensina (1-7) no combate aos processos inflamatórios causados pelo novo coronavírus. Os primeiros testes serão feitos em 60 pacientes graves dos hospitais Mater Dei e Eduardo de Menezes.
De acordo com Santos, que é coordenador do Laboratório de Hipertensão do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Nano-Biofarmacêutica (N-Biofar) da UFMG, a angiotensina (1-7) já tem conhecidos efeitos na medicina, entre eles o tratamento da hipertensão arterial, e propriedades anti-inflamatórias, além de prevenir arritimias e tromboses.
“No organismo, é produzida a partir de uma enzima, conhecida como ECA2 (enzima conversora de angiotensina 2). A angiotensina 2, em excesso, é ruim para o corpo, mas a ECA2 consegue convertê-la em angiotensina (1-7) e proporcionar equilíbrio ao sistema, e é justamente nesse equilíbrio que vamos trabalhar”, detalha o pesquisador.
Além do papel de conversora, a ECA2 serve como receptora do Sars-Cov-2. Ao se hospedar nela, o patógeno leva a enzima para dentro das células, o que causa o desequilíbrio da angiotensina (1-7) em nosso organismo e interfere na ação anti-inflamatória. A ideia da pesquisa é que seja feita uma reposição venosa do hormônio para que o corpo continue produzindo uma resposta anti-inflamatória, altamente necessária na infecção causada pelo novo coronavírus.
“Este é um estudo que mostra resultados bem mais rápido do que o de uma vacina, e, enquanto a vacina não vem, vamos tentar interferir no quadro do paciente”, considerou Santos.
O primeiro passo da pesquisa, que deve ser iniciado nesta semana, é realizar testes de segurança em cerca de 15 pacientes em estado grave, cuja autorização para participar do estudo será dada pelos familiares. O resultado é esperado, segundo o professor, em sete dias. Em seguida, será iniciada a fase denominada de eficácia, na qual os 60 pacientes serão divididos em grupos, e parte receberá o hormônio, e outra, placebo. A terceira fase – e última de testagens – será a expansão dos testes, a serem aplicados em todo o mundo. “Esperamos ter evidências claras em alguns meses”, revelou o professor.
Santos cita dois pontos que tornam o hormônio uma opção bastante viável de tratamento: a primeira é que o uso dele é inteiramente baseado nas ações conhecidas que já tem, em estudos que comprovam tanto a ação do hormônio sozinho quanto sua interação com o Sars-Cov-2. O segundo ponto é que ele não é um medicamento, não é um produto encontrado em farmácia, o que, conforme prevê o pesquisador, não vai provocar uma corrida às farmácias que remédios como a cloroquina e a ivermectina geraram.