O administrador Eduardo Nunes, 56, gosta de voltar a pé do trabalho. São cerca de 8 km do escritório, no Barro Preto, na região Centro-Sul de Belo Horizonte, até sua casa, no Sagrada Família, na região Leste. Mas, quando saía do serviço após as 18h, era obrigado a pegar ônibus ou Uber para não ser assaltado, como ocorreu há três anos, no viaduto Santa Tereza. Há um mês, no entanto, desde que a Polícia Militar (PM) instalou uma base comunitária em uma das pontas do elevado, ele se sentiu livre e mais seguro.
Do outro lado da cidade, no bairro Belvedere, na região Centro-Sul da capital, a aposentada Ieda Brum, 79, também foi orientada, seis meses atrás, por um militar que fazia ronda na região, a não ir a pé para a igreja perto de casa. Na semana passada, ela foi à lotérica em frente à base da PM do bairro, fez os pagamentos em dinheiro e seguiu andando para casa.
As mudanças de hábito têm relação direta com a instalação das bases comunitárias da PM, no dia 29 de agosto. Desde então, a presença da polícia passou a ter endereço fixo em 86 pontos da cidade, entre praças públicas, canteiros e calçadas, das 14h à 0h.
A reportagem foi às nove regionais de Belo Horizonte, ouviu ao menos cinco moradores em cada uma delas, e a aprovação do projeto é unânime. Não que ele tenha resolvido a alta incidência de crimes, principalmente roubos de carros e de celular. Mas militares afirmam que, ao menos onde a base está, já houve redução de 10% a 30% nos índices, e a população também se sente mais segura. “O mês foi tranquilo para nós, comerciantes, e para os clientes”, avaliou Ivens Silveira, 62, que já teve sua loja, na Pampulha, assaltada mais de dez vezes.
“O objetivo é aproximar o PM da comunidade”, afirmou o subcomandante geral da Polícia Militar, André Leão.
Roubos
23.723 É o número de registros desse tipo de crime na região metropolitana de BH de janeiro a julho deste ano
Assaltos
44.179 É a quantidade de ocorrências que houve desse crime na região metropolitana entre janeiro e julho de 2017
Projeto precisa ser aprimorado
O primeiro mês das bases deixou claro para todos que lugar de PM é na rua, e não dentro da companhia ou do batalhão. Mas moradores ouvidos pela reportagem relataram alguns problemas e deram sugestões para aprimorar o projeto. Entre as queixas estão a diminuição do patrulhamento nos bairros e a falta de infraestrutura nas vans, como internet lenta, bateria insuficiente, câmeras do Olho Vivo não conectadas e falta de banheiros e água para a equipe.
Uma das sugestões de melhoria refere-se ao horário de funcionamento, que, segundo a população, precisa ser ampliado para o período da manhã ou se tornar 24 horas por dia. “Os bandidos se adaptam. Assim que a PM vai embora, eles voltam a agir”, disse a advogada Ana Clara Marques, 24.
Outra reivindicação é o aumento do número de bases. A PM informa que há uma unidade móvel a cada raio de 4 km. Mas a população questiona esse perímetro e diz que existem áreas descobertas, sobretudo nos bairros, como no Buritis, na região Oeste.
Alguns moradores são contra o fechamento de companhias. Com a implantação das bases, a PM analisa encerrar dez das 24 companhias na capital. “Não concordo que elas substituam as companhias”, diz o administrador Rômulo Teixeira, 40, morador do Padre Eustáquio, na região Noroeste.
Resposta
A PM avalia como positivos os primeiros 30 dias das bases e promete se reunir com grupos de moradores em outubro para fazer um balanço. O subcomandante geral da corporação, André Leão, disse que há a pretensão de ampliar o horário de funcionamento para o período das 6h às 14h e que o patrulhamento de viaturas nos bairros continua sendo feito, sem redução. “Se houver fechamento (de companhia), o que não está decidido ainda, ele será embasado em estudo técnico, e haverá base comunitária próximo”.
Militares
Para os policiais, as bases representam uma mudança de rotina. Muitos atuavam em rondas de viaturas. “O dia passava mais rápido, o trabalho era mais dinâmico”, disse um cabo. Dos 344 PMs que integram o projeto de bases, cerca de 60% atuavam no serviço administrativo. Mais de dez militares foram ouvidos pela reportagem, e todos se mostraram empolgados com a nova proposta. Cada base tem quatro policiais: dois registram as ocorrências e monitoram as câmeras; outros dois fazem as rondas de moto.