Minientrevista

'Vou sair e estudar pra passar sem fraudar cotas', diz aluno da UFMG

O estudante conta que está passando por uma situação muito difícil

Por Joana Suarez
Publicado em 26 de setembro de 2017 | 03:00
 
 

A exposição dos alunos brancos da UFMG que usaram o sistema de cotas pode servir para que mudanças ocorram na instituição a fim de evitar esse tipo de fraude. É o que também disse esperar o aluno Vinícius Loures, que tem sentido na pele (branca) as consequências de ter se autodeclarado negro. Ele conversou com a reportagem de O TEMPO sobre o caso. Leia a entrevista:

Por que você decidiu concorrer a uma vaga para cotista?

Não sei explicar, não parei para pensar na hora. A nota que eu tirei dava para ter passado (em medicina) em outras universidades (de outras cidades), por isso foi uma decisão tão equivocada, talvez um apego por Belo Horizonte, queria fazer o curso aqui. Reconheço que estou errado, e a maneira de consertar esse erro é saindo. Vou me “desmatricular” já, estudar e tentar passar de novo, sem fraudar o sistema, que é legítimo. Apesar de ter feito isso, eu não concordo com fraudes nas cotas, nem acho que as cotas não sejam importantes.

Como você se sente agora com toda essa exposição? Como seus pais reagiram?

Isso tudo está afetando muito a mim e aos meus familiares. Meus pais não sabiam, ficaram decepcionados quando contei. Independentemente do meu erro, está sendo uma situação muito difícil, estou tentando minimizar o transtorno e o prejuízo. Sou um ser humano que cometeu um erro. Tenho visto muito discurso de ódio. Eu vou tentar reparar o erro na medida do que posso fazer.

Você já tinha sido alertado que isso poderia ocorrer?

Algumas pessoas da faculdade já tinham falado comigo, isso (de ser cotista) já vinha me incomodando antes, pensei em “desmatricular”, mas não tive coragem. É uma decisão difícil também (ele entrou no curso de medicina neste semestre). Mas já estava um clima pesado na faculdade, estava me sugando, acordava desmotivado porque tinha algo de errado, e isso não era legal. Já estava planejando fazer o Enem de novo.

O que você espera que ocorra agora?

Estou com 23 anos, eu não sei o que eu quero da vida mesmo. Mas vou sair e torcer para que a minha vaga vá para uma pessoa negra. É visível que a esmagadora maioria (na universidade) é branca. Espero que (as denúncias) sejam um marco na história da UFMG. Acho difícil que alguém faça isso (fraudar o sistema) de novo. Tomara que mude o sistema, não seja só autodeclaração, que vai para o lado ético.