Saúde

Alvo das redes, os transgênicos têm impactos desconhecidos

Estudos não corroboram que alimentos modificados geneticamente sejam saudáveis ou prejudiciais

Por Fábio Corrêa
Publicado em 01 de abril de 2019 | 03:00
 
 
Ícone do T com fundo amarelo identifica produtos em que transgenia supera 1% do total, mas sua obrigação pode cair Foto: Lincon Zarbietti

Nas últimas semanas, estão circulando mensagens em redes sociais que colocam os alimentos modificados geneticamente, chamados de “transgênicos”, como responsáveis por males como câncer e alergias. Os alertas também lembram que os alimentos feitos com qualquer base de transgênicos, ou seja, vegetais que receberam transplante de genes de outros organismos, são identificados, no Brasil, com um selo específico – a letra T com um triângulo amarelo no fundo.


Mas o quanto os alarmes são reais? Na prática, o impacto dos transgênicos ainda não é conhecido definitivamente pela ciência. No Brasil, eles foram regulamentados por um decreto federal de 2003, que especifica a identificação. Por aqui, nada menos que 97% da soja e 89% do milho são transgênicos, segundo dados do Serviço Internacional para Aquisição de Aplicações de Agrobiotecnologia (ISAAA, em inglês).

No caso da soja, é utilizado um gene que a torna mais resistente a um tipo específico de herbicida, chamado glifosato. Em outubro do ano passado, um tribunal norte-americano condenou a Bayer, dona da Monsanto, empresa responsável pelo glifosato, por ter causado câncer terminal a um paciente. No Brasil, a substância chegou a ser proibida, em decisão liminar, pela Justiça do Distrito Federal em agosto do ano passado, mas outra liminar da Advocacia Geral da União (AGU) liberou o produto.

Mas, além dos herbicidas, há estudos que apontam, sim, que transgênicos podem causar câncer – como propagam as mensagens nas redes sociais. Mas também há aqueles que dizem o contrário. “O único consenso científico é que não é possível assegurar, de maneira inequívoca, a segurança do consumo de alimentos transgênicos. Por isso, é importante que as pessoas saibam e possam escolher se vão comer ou não um alimento transgênico”, explica o nutricionista Rafael Arantes, do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec).

O mesmo ocorre com as possíveis alergias. “A transgenia é uma técnica que não é simples e pode ser usada tanto para o bem quanto para o mal”, diz Vasco Azevedo, professor titular do Departamento de Genética, Ecologia e Evolução da UFMG. “Se você colocar um gene da castanha-do-Pará em um alimento, ele pode causar problemas a quem tem alergia a essa substância”, complementa.

Legislação. Em tramitação no Senado, o Projeto de Lei Complementar (PLC) 34/015 prevê a flexibilização do ícone que identifica os transgênicos. O texto restringe a necessidade de alerta para produtos em que a substância transgênica supere 1% da composição total. Para o Idec, o projeto fere direitos assegurados no Código de Defesa do Consumidor. “Esses pontos garantem não só a qualidade da informação, mas o direito e a liberdade de escolha dos consumidores”, diz Arantes.

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