Como comprar?

Às vésperas de Black Friday, Natal e Copa, brasileiros têm recorde de dívidas

Comércio espera as vendas mais altas da história da Black Friday, por exemplo, mas como consumidor conseguirá pagar? Economista dá dicas

Por Gabriel Rodrigues
Publicado em 11 de novembro de 2022 | 14:36
 
 
Expectativa de recorde de vendas na Black Friday encontra recorde de endividamento das famílias brasileiras em 2022 Foto: Rafael Martins / AFP

Uma maratona de gastos se aproxima no horizonte dos brasileiros, com a sequência de compras para torcer na Copa do Mundo, promoções da Black Friday, presentes de Natal e festas de Ano-Novo. Diversas entidades têm divulgado pesquisas sobre altas expectativas de vendas — a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) prevê recorde de vendas na Black Friday da Copa e a Câmara dos Dirigentes Lojistas de Belo Horizonte (CDL/BH) espera uma injeção de R$ 2 bilhões na economia da capital com a data de ofertas aliada à Copa. Ao mesmo tempo, outros indicadores também batem recorde. Quase oito em cada dez famílias estão endividadas, patamar inédito nas medições da CNC. São 68,4 milhões de inadimplentes no país, estima a Serasa. Com tanta gente endividada, como as vendas atingirão os níveis aguardados pelo comércio?

Para a economista especialista no mercado de capitais Ariane Benedito, não existe uma contradição entre os indicadores. “Não é normal ver, no histórico do comportamento do brasileiro, a quitação de dívidas e diminuição da inadimplência para o consumo em períodos sazonais. O que acontecerá é um crescimento do endividamento. Há uma injeção de capital pelo 13º salário, pelos profissionais autônomos do setor de serviços, que têm renda melhorada nessa pipoca de aquecimento da área e pelas contratações temporárias”, avalia.

O eletricista Eliseu Cruz Santos, 32, é prova disso: “Infelizmente, estou devendo, mas, graças a Deus, estou pagando aos poucos. As dívidas estão dificultando os gastos, mas acredito que vai dar para gastar no final do ano, porque sempre tem um dinheirinho para comprar um presente para a família. Também pretendo fazer uma resenha e reunir todo mundo para os jogos do Brasil”, conta. Já a estudante universitária Carolina de Paula Ferreira, 26, grávida de oito meses, prevê um final de ano de controle. “Está tudo muito alto. Lá em casa, o maior gasto é com comida atualmente, a prioridade é a refeição do dia a dia. Os presentes, infelizmente, vão ficar por último e acredito que vai dar para gastar menos neste ano, porque as coisas aumentaram”, reflete. 

A economista Ariane Benedito pontua que endividamento não é sinônimo de contas atrasadas. Mas lembra que, sem planejamento, contrair dívidas escorrega facilmente para a inadimplência. “O endividamento cresce primeiro nestes meses de mercado de trabalho aquecido, principalmente no setor de serviços, com mais contratação. Já no início do ano, não é o mesmo cenário, quando há declínio de vagas, de renda e isso dificulta a quitação das dívidas”, diz.

A Black Friday é uma boa oportunidade de economia quando o consumidor consegue comprar à vista e aproveitar o máximo de desconto, enfatiza ela. “Esse seria o cenário perfeito, mas sabemos que a maioria das pessoas parcelará no cartão de crédito. Nesse caso, é necessário calcular o quanto, daqui para frente, essas parcelas significam no orçamento. A inadimplência é a falta de controle sobre os custos variáveis, que não são constantes ou necessários para a sobrevivência, e invadem o escopo do que se precisa para manter o padrão de vida da pessoa. Na hora de pagar um ou outro, a pessoa opta em pagar o que precisa para viver, aluguel, comida”, conclui.