Com uma limpeza simples custando a partir de R$ 19,90, aplicativos de serviços domésticos vêm crescendo no país. Com expectativa de aumento de faturamento de até 90% neste ano em relação a 2019, a GetNinjas, que em Belo Horizonte conta com 7.000 cadastrados na categoria de “serviços domésticos”, inclui trabalhos como passadeira, limpeza de piscina e babá. Desse total, 4.000 profissionais são diaristas. 

Segundo a empresa, em janeiro houve 1.400 pedidos em Belo Horizonte para essas categorias – 500 especificamente para faxina. No mesmo mês, os pedidos para serviços domésticos cresceram 55% em comparação com o mesmo período de 2019. A procura por diaristas foi ainda maior, crescendo 66% na mesma base de comparação. 

O aplicativo da GetNinjas conecta pessoas que buscam profissionais a outras que oferecem o serviço. Tudo funciona a partir de um sistema de moedas virtuais, que são compradas pelas diaristas, por exemplo, que podem usá-las para “desbloquear” os contatos dos contratantes. 

Cada número de telefone custa uma quantidade específica dessas moedas, dependendo do serviço. Em 2018, o investimento mínimo, que era de 500 moedas, custava R$ 79,99 para o trabalhador.

Hoje, só é possível começar comprando 900 moedas, com preço de R$ 139,00. Depois de “pagar” pelo contato, não há cobrança extra, e os profissionais negociam preços diretamente com os contratantes, que não precisam pagar para encontrar os profissionais desejados.

Facilitação

Fundador da GetNinjas, Eduardo L’Hotellier acredita que o crescimento do mercado está associado à democratização do smartphone e à expansão da economia de aplicativos.

“A população se locomove com aplicativos, pede comida por aplicativos. É natural que isso também se expanda para os serviços. Em paralelo, o celular ficou mais comum e, ao menos nos grandes centros, quase todas as diaristas têm o aparelho. Se tanto o cliente quanto o profissional estão conectados, faz sentido oferecer uma plataforma para o encontro deles”, diz. 

Com valor promocional de R$ 19,90 para a primeira faxina, a Parafuzo aposta em um modelo parecido com o da Uber, no qual os profissionais recebem parte do pagamento, enquanto o restante fica retido para os caixas da empresa.

No app, o cliente procura o tipo de serviço que precisa, paga com o cartão de crédito e espera uma pessoa chegar. Tudo sem precisar entrar em contato com os profissionais. Após a primeira limpeza, o valor da faxina sobe para R$ 39,90 para o serviço mais simples. 
A empresa não divulga número de profissionais atuando, nem de clientes.

“Para alguns serviços, como a faxina, os clientes querem apenas apertar um botão e resolver o seu problema, não querem barganhar, ou precisar falar com os profissionais”, defende o CEO da Parafuzo, Felipe Brasileiro. Pela plataforma, há também possibilidade de contratar faxinas mais pesadas, como o pacote de limpeza pós-obra, cujos valores são mais altos. 

Novas tecnologias podem precarizar relação de trabalho

Para especialistas, o avanço da tecnologia poderá causar precarização nas relações de trabalho, especialmente devido à alta informalidade.

“Cada vez mais me parece que a tecnologia está à serviço da desigualdade”, defende a professora de direito do trabalho da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Daniela Muradas Antunes. 

Em relação aos serviços domésticos, a especialista acredita que a tendência é de que eles aprofundem mazelas da sociedade na divisão social, sexual e racial do trabalho, em razão da ampliação do emprego informal.

Segundo Daniela, pesquisas mais recentes demonstram que o trabalho intermediado por essas plataformas, ao contrário do que se acreditava, continua sendo de ofícios manuais, com pouca qualificação. 

“Em específico, o trabalho doméstico está cada vez mais precário e informal. E tudo isso costuma incidir em um determinado gênero e preponderantemente em uma determinada raça – são mulheres, pobres e negras”, afirma a especialista. 

Já o professor da Faculdade de Ciências Econômicas da UFMG, Mário Rodarte, acredita que os aplicativos, em si, não são um risco ao trabalho. Ele explica que, com as novas tecnologias, há possibilidade maior de controle da jornada de diaristas – e de maiores garantias. No entanto, o economista pontua que não há vontade política entre empresários para que o setor seja regulamentado. 

“O aplicativo contém formas de registro do trabalho melhores que as convencionais. Com isso, há melhores condições de ditar jornadas, de averiguar a qualidade dos serviços. Não há razão para a informalidade que existe. No entanto, são promessas ainda a se cumprir. É importante ressaltar que o capitalismo vive seus melhores momentos quando o acordo capital-empregado funciona para ampliar a renda dessas pessoas e inseri-las no mercado consumidor”, ressalta. 

‘Tive medo de não ter CLT, mas hoje não abro mão’, diz diarista

Depois de trabalhar por 15 anos em um laboratório de análise química em Belo Horizonte, Luciene Almeida ficou desempregada e, em 2018, conheceu o aplicativo de serviços domésticos GetNinja. Desde então, ela limpa duas casas por dia na capital, e o serviço doméstico é, atualmente, a sua principal fonte de renda. 

O tempo de cada faxina, explica ela, não passa de cinco horas em cada um dos locais, e Luciene costuma trabalhar cerca de sete horas diariamente. “Depois disso, não quero mais trabalhar CLT. Quero ser autônoma. O meu salário é melhor, não preciso lidar com patrão, faço meu horário”, conta ela. A diarista paga a contribuição previdenciária do INSS separadamente, para garantir a aposentadoria.

Luciene afirma que possui 22 clientes fixos, que são divididos entre trabalhos semanais e quinzenais. Hoje, ela usa o aplicativo apenas para atrair mais contratantes, ou quando precisa encaixar algum serviço em seu horário após um cancelamento.

“No início, tive um pouco de medo de não ter carteira assinada, mas hoje não abro mão mais dessa maneira de trabalhar. Se precisar consigo serviço todos os dias”, resume ela. 

Rappi quer ser “superaplicativo”

O Rappi, que ficou conhecido por realizar entregas diversas, agora quer se transformar em um “superaplicativo”, que oferece também serviços domésticos e entrega de compras no e-commerce diretamente pelo aplicativo.

Sem divulgar números específicos, o chefe de Marketing da empresa no país, Fernando Vilela, afirma que o crescimento da marca no Brasil flutua entre 15% e 20% ao mês. 

Em Belo Horizonte, o mesmo ocorre, de acordo com o executivo. A inclusão dos serviços domésticos na plataforma, explica Vilela, é parte do processo de expansão da Rappi.

“Para sermos um ‘superapp’, precisamos abarcar todas as necessidades do indivíduo na Rappi. Em nossas pesquisas, identificamos a demanda pela faxina. O próximo passo é atuar em parceria com o varejo”, afirma o executivo.