Entrevista

Fundação Dom Cabral investe R$ 24 milhões neste ano

Dentre as aplicações estão conhecimento e atuação em Brumadinho, como conta o presidente Antonio Batista

Qui, 21/03/19 - 03h00
“Resta saber a habilidade política do governo para conseguir aprovar as reformas” | Foto: Lorena Castro/divulgação

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Há 42 anos no mercado e com faturamento na casa dos R$ 250 milhões, a Fundação Dom Cabral, com sede em Nova Lima (MG), está investindo em conhecimento e atuação em Brumadinho, como conta o presidente Antonio Batista a O TEMPO e à rádio Super 91,7 FM.

 

Antonio Batista da Silva Junior

Presidente da Fundação Dom Cabral

Qual foi o resultado financeiro da Fundação Dom Cabral em 2018?

Foi um ano muito bom, apesar da crise econômica que nós tivemos ao longo dos últimos três, quatro anos, muito séria, que afetou todos os segmentos produtivos. E a Fundação Dom Cabral, como provedora de educação, atua com todos esses setores, mas, apesar desse movimento negativo que o mercado trouxe, nós conseguimos crescer as nossas receitas em 12%. O faturamento foi na casa dos R$ 250 milhões. Como somos uma entidade sem fins lucrativos, então todo o lucro e o superávit que temos revertemos no investimento da instituição, em desenvolvimento de conhecimento, de produtos de mercados, social e de pessoas.

Foram quase 30 mil alunos de aproximadamente 2.000 empresas na fundação em 2018. Esses números cresceram em relação a 2017?

Cresceu ligeiramente, foram 28,9 mil (alunos) no ano anterior. Para nós foi uma vitória, nós conseguimos crescer mantendo o número de participantes de empresas.

E para 2019, qual é a expectativa para atingir mais alunos e mais empresas?

Estamos bastante otimistas com a agenda colocada de reformas importantes, se passar. Resta saber a habilidade política do governo para conseguir aprovar as reformas, mas, se conseguir, a sinalização é muito positiva para a economia, com atração de recursos e investimento, e as empresas vão precisar formar quadros e desenvolver estratégias, rever sua governança. Isso abre perspectiva de trabalho. Temos toda uma carteira de soluções educacionais novas que a Fundação Dom Cabral investiu nos últimos três anos, por exemplo, programas de desenvolvimento de lideranças para o século XXI, um executivo que saiba pensar para além do lucro, requestionar seus modelos organizacionais. Estamos trazendo muita tecnologia para a educação, montando laboratórios de ensino com experiências de abordagens pedagógicas diferenciadas, investindo em transformação digital e ajudando as empresas a fazer isso, tem muita coisa.

Tem um volume de investimento previsto para este ano?

Ele é da ordem de R$ 24 milhões e vai ser usado em conhecimento, em produtos, mercados, pesquisas, capacitação do time, atração de novos profissionais para a instituição, professores e gerentes e, sobretudo, nos projetos sociais.

Falando em projetos sociais, qual vai ser o papel da fundação para que haja um retorno da economia local a Brumadinho?

Nós montamos um grupo de trabalho e tomamos a decisão de ter nossa atuação em três níveis: local, nacional e internacional. Vamos abraçar o município com duas ações: no campo da educação, formando os professores, para eles reintegrarem os alunos numa perspectiva de convívio social, e outra ação é que vamos dar uma educação financeira para o melhor uso do recurso recebido pela comunidade para ele não se perder. No plano nacional, vamos dar ressonância a uma discussão que queremos ter sobre a relação empresa, governo e sociedade no século XXI, criar coesões nacionais para equacionar problemas. E, no plano internacional, levar essa discussão para as escolas de negócio, num primeiro momento, na América Latina e, depois, no mundo, e o Brasil sendo protagonista nessa discussão.

Quantas pessoas devem passar pelo treinamento para a educação financeira em Brumadinho?

Todas as escolas vão passar, do ponto de vista de formação dos professores, e todo mundo que estiver envolvido nas indenizações e a cadeia toda, porque, às vezes, a indenização não é para uma pessoa, mas ela tem uma atividade produtiva, um bar, um comércio que também vai ser capacitado. Esse treinamento começa em abril/maio.

Como se dará a discussão em nível mundial?

Através das nossas escolas parceiras. Estamos puxando em nível mundial essa discussão da nova relação empresa, governo e sociedade – mais cooperação, menos competição. Queremos influenciar os debates na academia e da academia para o mundo corporativo. Então, vamos levar, através de nossas escolas parceiras, primeiro na América Latina. E temos também a reunião do nosso conselho internacional que vai acontecer em maio, em Washington (EUA), e em setembro, aqui (Nova Lima). Vamos trazer os executivos para cá e levá-los à mina de Córrego do Feijão, em Brumadinho.

Com estão os planos de expansão. Em São Paulo, parece que já tem uma demanda elevada, e o campus necessitaria de uma outra área bem maior e outro investimento da fundação?

Essa é outra discussão. São Paulo, de fato, está bem ocupada, tem demanda crescente, é um Estado importante da federação. No curto prazo, não, mas, para o médio prazo, sim, temos uma perspectiva de ampliar o espaço físico que temos lá. Nos outros Estados, não. No Rio de Janeiro já temos campus, Nova Lima é a nossa sede, tem em Belo Horizonte, e nos outros Estados temos associados locais em cada um. Essa é a nossa estratégia com os canais.

Já tem um plano plurianual do tamanho que a fundação quer atingir, já que ela é a 12ª maior escola de negócios do Brasil no ranking do jornal Financial Times?

Não queremos estar entre as maiores, queremos estar entre as melhores. Nossa meta não é de natureza financeira, nossa meta é de natureza de qualidade: queremos impactar o debate corporativo, o debate do governo, o debate da sociedade. Somos o 12º (lugar) não como tamanho, somos em qualidade, essa é a marca que a fundação quer ter. É manter ali entre as melhores dez escolas do mundo. São 16,5 mil escolas no mundo, e estar nesse clube dos 20 é para nós motivo de muito orgulho.

A fundação quer mudar o pensamento das empresas depois da tragédia de Brumadinho?

Não queremos mudar o pensamento, queremos estimular uma reflexão e que a tomada de consciência seja feita pelas próprias empresas. As empresas que vão sobreviver no século XXI serão aquelas que serão legitimadas socialmente pela sociedade. Então, a empresa tem que ter essa dimensão e essa preocupação. Uma empresa que só busca lucro e meta financeira é uma companhia campeã do século XX. O século XXI pede outras reflexões, outras posturas, enfim, outro tipo de relacionamento. É isso que queremos influenciar. De fato, queremos impactar o pensamento empresarial corporativo brasileiro e mundial.

A fundação está otimista com o governo Bolsonaro e o governo Zema em Minas Gerais para que a crise passe?

Acho que a agenda colocada é de boa qualidade. A agenda de transformação e das reformas. O Brasil precisa disso, está muito travado e precisando recuperar a confiança nacional e internacional. Resta saber da capacidade de implementação política das reformas. Mas acredito que sim. Esse parece ser um dos grandes consensos que começa a se formar na sociedade da necessidade da transformação. Se a gente não forma grandes consensos, a gente não avança. Então, acho que a comunicação é importante, o diálogo é importante, e andar pra frente. Eu gosto da qualidade da pauta, resta saber a capacidade de implementação dela.

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