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Negócios de impacto social, e que são lucrativos, crescem no país

O também chamado “setor 2.5, por estar entre o produtivo e as ONGs, vai avançar 20% neste ano

Por Tatiana Lagôa
Publicado em 22 de dezembro de 2019 | 08:43
 
 
Carolina Fernandes Pinto, da Horta da Cidade, foi uma das pessoas que teve a história citada na reportagem finalista Foto: Flávio Tavares

Dedicar a vida para fazer o bem por meio de projetos sociais e ambientais e, ao mesmo tempo, ter um negócio rentável parece ser uma conta difícil de fechar. Porém, mais do que possível, isso já é a realidade de muitos empreendedores. Os negócios de impacto, aqueles com foco na resolução de problemas socioambientais, mas com ganhos financeiros, conquistam cada vez mais espaço no Brasil. Minas Gerais, que sedia mais de mil empresas com esse perfil, registra um crescimento anual de aproximadamente 20% na quantidade de empreendimentos de impacto, segundo cálculos do Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas de Minas Gerais (Sebrae-MG).

Só em Belo Horizonte, existem ao menos 300 empresas com foco em melhorar as condições e os acessos de áreas como saúde, educação, habitação, além de reduzir a desigualdade social e dar oportunidades para pessoas carentes. Por se tratar de uma área relativamente nova no Brasil, não há um estudo com o número exato de empresas ou com a representatividade econômica delas. Mas, segundo especialistas, esses empreendimentos colaboram, e muito, para a geração de riqueza e empregos no país, além de exercerem um papel social importante. 

“É difícil saber o número certo de negócios de impacto porque nem todas as empresas se apresentam como tal. Ainda falta conhecimento sobre essa modalidade”, explica o analista do Sebrae-MG, Evandro Carmo. Ele acrescenta: “Os negócios de impacto se localizam no setor 2.5 da economia, que não existe tecnicamente. Mas, na prática, eles estão entre o segundo setor, que é o produtivo, e o terceiro, que são as ONGs”.

Independentemente do nome ou da classificação recebidos, essas empresas têm conseguido crescer em uma velocidade impressionante. De agosto de 2016, quando foi criada, até o momento, a TC Idiomas, por exemplo, passou de um faturamento mensal de R$ 5.000 para os R$ 60 mil atuais, uma expansão de 12 vezes. A escola de inglês, que tem como foco dar acesso ao curso de idioma para pessoas de baixa renda, com preços bem mais baixos do que no mercado, teve uma expansão de 13 vezes no número de alunos no período, saindo de 35 para 465. Segundo Camila Barreto Carvalho, cofundadora da empresa, em 2016 havia apenas a unidade de Itabirito, na região Central do Estado. Em maio deste ano foi inaugurada uma escola em Cachoeira do Campo, na mesma região. E, a partir de janeiro, as aulas passarão a ser ministradas também na vizinha Ouro Preto. 

A progressão dos negócios de impactos é tão grande que, em Belo Horizonte, a Horta da Cidade, com unidades nos bairros Buritis e Santa Lúcia, tem grandes expectativas para o futuro. O empreendimento vende 600 hortaliças orgânicas por mês para 70 associados e ainda recicla uma tonelada de alimentos por mês, que servem de adubo na produção. No ano que vem, o projeto vai ser transformado em uma cooperativa para que possa expandir para outros terrenos, segundo a cooperada Carolina Fernandes Pinto. 

O desafio agora, segundo ela, é fazer com que o conceito seja melhor entendido. “Ainda falta conhecimento das pessoas. Muitas estão mais preocupadas com o que eu ganho com o trabalho do que com o fato de o negócio ser bom para o meio ambiente e para os clientes, que podem consumir hortaliças sem agrotóxicos e ter acesso à terra, já que nossa horta é aberta para todo mundo”, afirma.

Saúde e assistencialismo ganham 

As clínicas populares, que atendem tanto pelo Sistema Único de Saúde (SUS) quanto via particular, com preços acessíveis, são exemplos de negócios de impacto que avançam em Minas. A Super Saúde, inaugurada em 2017, em Santa Luzia, é uma delas. Logo no segundo ano de existência, o negócio dobrou o faturamento e, em 2019, deve registrar alta de 30% frente a 2018. Os preços das consultas variam de R$ 70 a R$ 110, e o empreendimento tem sido um apoio para desafogar filas por atendimento em hospitais públicos. 

“Viemos para Santa Luzia pela necessidade de apoio na saúde aqui. Para se ter uma ideia, a fila para cirurgia oftalmológica da cidade tinha 2.000 pessoas, algumas esperando há oito anos. Nesse tempo que estamos aqui, já operamos mais de mil pacientes”, conta a diretora da clínica, Luciane Lisboa. A empresa ganhou uma licitação da prefeitura local e faz procedimentos com recursos do SUS.

Vulnerabilidade. Um projeto que começou em 2015, com foco em dar visibilidade a pessoas em situação de vulnerabilidade financeira e minorias, hoje é uma assessoria especializada no terceiro setor, com mais de 20 projetos em curso. Com sede em Juiz de Fora, na Zona da Mata, a Vivart dá o suporte necessário para empresas de todos os portes. O leque de serviços oferecidos é extenso. “Usamos várias ferramentas para dar visibilidade aos projetos, como marketing digital, ajudamos na captação de financiamentos, na inscrição em editais, na abertura de empresas e damos orientação jurídica”, explica o sócio-fundador do projeto, Guilherme Oliveira. 

Um dos trabalhos encabeçados por eles é a Feirinha Praça Livre, no bairro Jardim Eldorado, em Juiz de Fora. Eles viabilizam a exposição de produtos feitos pelos moradores do local, colaborando para a geração de renda de 37 famílias. “O projeto também fez com que a população ocupasse a praça com um convívio sadio e acabasse com a violência por aqui”, afirma o presidente da associação dos moradores do bairro, Luiz Cláudio Cardoso. (TL)