Em Belo Horizonte, a picanha, que custava em média R$ 71,89 no início deste ano, caiu para R$ 65,13 em julho. E, no ano, houve uma variação negativa de - 6,6%. Já o contrafilé, passou de R$ 48,94 em janeiro para R$ 45,89 no mês passado. A fraldinha foi de R$ 35,01 para R$ 33,51 no mesmo período. Os dados são de uma pesquisa exclusiva do Mercado Mineiro, de 21 de julho, feita a pedido da reportagem de O TEMPO

“A gente brincava que tinha saudade do contrafilé a R$ 29,90 e agora a gente encontra até picanha por R$ 39,90. No início do ano, era praticamente impossível. O mais barato era R$ 59: quando achava. Teve até falta de cortes de melhor qualidade”, explica Feliciano Abreu, economista do site Mercado Mineiro.

Ele lembra que os preços estão voltando, aos poucos, ao que os consumidores lembravam antes da pandemia. “Antes havia o Dia da Feira e o Dia da Carne, que tinha praticamente desaparecido, e agora está voltando à quinta e sexta-feira. Com o preço muito inflacionado, pegava até mal para o supermercado fazer uma oferta de R$ 90 no filé mignon, por exemplo. Hoje você acha por até R$ 49”, observa Feliciano Abreu.

Diogo Santos, economista do Ipead/UFMG, explica que há, ao menos, quatro fatores que explicam a deflação das carnes. O primeiro é a queda do custo de produção com a alimentação dos animais. “Os preços da soja e do milho caíram, porque houve uma supersafra neste ano, com colheita recorde, que aumentou muito a oferta dos grãos no país. No ano passado, os produtores aumentaram a área produzida, porque o preço internacional estava muito alto devido à guerra na Ucrânia”, explica. O menor custo de produção foi sendo repassado ao longo da cadeia produtiva até chegar às carnes.

O segundo fator é a elevação da oferta de carnes, já que os produtores também aumentaram a quantidade de seus rebanhos, visando lucrar com os altos preços praticados durante a pandemia.  Carlos Alberto Alves de Araújo, proprietário da Alimentar Carnes Nobres, acredita que os pecuaristas devem até retardar o abate do gado no segundo semestre para não terem prejuízo. “Com a produção maior, a tendência é o preço cair”, explica. 

A demanda internacional estacionada, sobretudo da China, também aumentou a oferta de carnes no Brasil. “E como a carne bovina estava muito cara durante a pandemia, foi substituída por outras pelos brasileiros e esse padrão de comportamento ainda não foi revertido. A elevação da oferta, com mesma demanda, também pressiona o preço para baixo”, considera o economista da Ipead.

Para ele, a recuperação do setor vai acontecer aos poucos, à medida que retorne o poder de compra dos brasileiros. “O preço da carne, apesar de estar caindo, continua mais alto do que era antes da pandemia. Para as famílias, ainda não compensou todo o aumento acumulado anterior. O consumo deve crescer com o aumento da renda”, explica.

Ainda segundo Diogo, sobretudo com a queda da inflação, que chegou a -0.08% em junho em Belo Horizonte, o menor índice para o mês desde 2017, as famílias terão maior controle do custo de vida. “Uma pesquisa do IBGE também apontou queda do desemprego de 8%. Famílias com mais membros empregados, tem mais segurança, o que favorece a melhora do padrão de consumo. O reajuste do Bolsa Família também gera maior movimento da economia, sobretudo no comércio dos bairros. O comerciante vende mais, contrata mais gente, compra mais do atacadista e ajuda a girar a economia”, detalha o economista. 

Feliciano Abreu, economista do Mercado Mineiro, lembra que, apesar dos preços mais convidativos, o consumidor não pode se descuidar na hora da pesquisa. Vale ficar de olho, por exemplo, na diferença entre as carnes do açougue, vendidas no quilo, e os pacotes prontos disponíveis nos freezers. Muitas vezes, o consumidor pode ter a impressão desses cortes estarem mais baratos, mas o peso do produto não chega a 1kg. “É preciso também ficar atento às ofertas. Vão acontecer muitas com a chegada da data”, explica Abreu.