Nesta semana, muitas dúvidas sobre o futuro da BH Airport, administradora do Aeroporto Internacional de Belo Horizonte, em Confins, têm surgido no setor. Recentemente, Kleber Meira, CEO da administradora do terminal desde 2020, foi desligado da empresa. Em seu lugar, Daniel Miranda, diretor financeiro, assumiu interinamente. Além disso, há rumores de que o Grupo CCR, que integra a administradora junto com Zurich e Infraero, deixaria de ser acionista da concessionária em breve, porque o aeroporto não tem dado lucro.
A CCR esclareceu em nota que permanece como acionista da concessionária, sem planos de curto ou médio prazo de reduzir sua participação ou sair do negócio. Também em nota, a BH Airport explicou que foram realizadas apenas mudanças organizacionais, mas que o comando do aeroporto segue em Minas Gerais. Nenhuma fonte foi disponibilizada para prestar esclarecimentos sobre o assunto.
Uma reportagem dessa segunda-feira (24), da Folha de São Paulo, também apontou que concessionárias, que administram seis dos aeroportos mais movimentados do país, estariam tentando renegociar R$ 5 bilhões de outorgas com o governo federal por meio de precatórios. Mesmo diante de negativas da Agência Nacional de Aviação Civil, administradores de Confins, Galeão e Guarulhos estariam insistindo.
A reportagem de O Tempo entrou em contato com a Anac para confirmar a informação, mas não recebeu retorno até a publicação desta reportagem. Já a BH Airport, informou que a concessionária ainda não iniciou as negociações sobre a outorga de 2023 com a Anac.
"O reequilíbrio contratual referente à Covid-19 do ano de 2022 já foi aprovado pela Anac, tendo sido compensado na outorga de 2022, com residual a ser compensado em maio deste ano. Em relação ao reequilíbrio Covid-19 referente ao ano de 2023, a ser compensado na outorga de dezembro de 2023, a concessionária ainda não iniciou os trâmites de discussão com a ANAC", explicou em nota.
Pandemia, crise e alto custo de outorga oneram concessionárias de aeroportos
O Aeroporto Internacional de Belo Horizonte foi arrematado em um leilão do governo federal em 2013 por R$ 1,82 bilhão. Desde 2014, o terminal é administrado por uma concessionária, formada pela Infraero, que detém 49%, e o Grupo CCR e a Zurick, com outros 51%. A concessão é de 30 anos com pagamento anual da outorga, que, só em 2022, custou R$ 15,2 milhões a BH Airport.
Apesar do terminal em Confins estar quase recuperando seus patamares de 2019, o ano passado ainda foi afetado pela “ressaca da pandemia”. A receita operacional líquida ajustada em 2022 foi de cerca de R$ 278 milhões. Já o prejuízo líquido foi de R$ 18,5 milhões. Em 2021, esse déficit chegou a aproximadamente R$ 196 milhões.
Em 2019, a administradora assinou um contrato de financiamento com o BNDES de R$ R$ 14,6 milhões. Em abril de 2020, o pagamento foi suspenso devido à pandemia e, em 2022, após o fim da condição especial, precisou retomar o fluxo de pagamentos. Os dados são do relatório financeiro público da administradora.
Segundo o economista Cláudio Frischtak, a conta não fecha. Para ele, o problema da modelagem das concessões dos aeroportos à iniciativa privada está vindo à tona e o primeiro grande choque foi a pandemia. O segundo, a guerra na Ucrânia, que causou um impacto macroeconômico.
Ele pondera que a concessão foi acertada porque, nitidamente, levou à melhora na qualidade dos terminais, mas que a forma como foi realizada teve alguns erros. “Entre eles, colocar a Infraero como sócio de 49%. Outro foi oferecer financiamento do BNDES com bases bem generosas. E o terceiro foi o conflito de interesses que existia nesses outros 51%, onde havia construtoras de um lado e operadoras de outro. Havia um incentivo para a parte construtora de fazer ofertas bastante agressivas”, detalha.
Frischtak explica que os valores da outorga são muito altos e parte dos aeroportos está com dificuldade de gerar receita líquida para pagá-las, fazer investimento e remunerar o capital próprio. O economista lembra que, com a outorga, vêm também diversos compromissos, que envolvem investimentos altos em renovação de pistas e terminais. “Essa equação, em muitos casos, não está fechando ainda”, observa.
Além desses altos custos, o setor é afetado pelas taxas de juros elevados e a pressão inflacionária, com o mercado apontando um crescimento abaixo de 1% em 2023. “A retomada global do mercado de viagens está sendo mais acentuada que a do nosso país devido à reabertura da China”, lembra o economista.
Para tentar driblar esse cenário, os aeroportos tentam cada vez mais diversificar seus negócios. Frischtak explica que além dos voos, os terminais se transformaram em grandes shopping centers, que tentam maximizar o volume de compras dos passageiros. “A receita que vem da taxa que essas empresas pagam pelo aluguel se tornou relevante”, diz. Ao longo de 2022, por exemplo, o BH Airport lançou 15 lojas em 11 meses, entre elas a megastore Dufry.
O transporte e armazenagem de carga é outra área de interesse de diversas administradoras, como a do Aeroporto Internacional da capital mineira, que recebe uma média de 40 contêineres fechados mensalmente no Terminal de Carga. A BH Airport anunciou em março seu novo modelo de negócio do Aeroporto Industrial. Agora, ele conta com o estoque avançado, além do entreposto industrial, visando atrair novas empresas.
“Essa história de que aeroporto só tinha uma função não existe mais”, afirma Frischtak.
Leia as notas do BH Airport na íntegra:
Comando permanece em Minas
O BH Airport informa que foram realizadas algumas mudanças organizacionais, mas o comando do aeroporto segue em Minas Gerais, com a diretoria composta por Daniel Miranda, CEO interino e Diretor Financeiro, e Herlichy Bastos, Diretor de Operações. A concessionária reforça que continua empenhada em fortalecer o aeroporto como um hub de conexões, pronto para oferecer a melhor experiência aeroportuária aos clientes. Além disso, se dedica em ter uma operação cada vez mais eficiente, sem perder o foco na segurança, na qualidade da prestação dos serviços, inovação e sustentabilidade.
O aeroporto iniciou o ano com aumento do número de rotas internacionais, com a inauguração do novo voo da Avianca para Bogotá, na Colômbia, e também com a rota inédita da Azul para Curaçao, que inicia em 24 de junho. Em 2023, BH Airport ainda retorna com as operações para Fort Lauderdale e Orlando, nos Estados Unidos. Com isso, de duas rotas internacionais que tinha em janeiro – Panamá, com a Copa Airlines e Lisboa, com TAP – passa a ter seis até setembro. Novas negociações estão em andamento com diversas companhias aéreas em busca da expansão da conectividade com o Brasil e o mundo.
O BH Airport tem ainda o compromisso de fortalecer o Hub Logístico Multimodal do aeroporto como centro de recebimento, armazenagem e distribuição de cargas aéreas para o estado de Minas Gerais e o Brasil como um todo. Assim sendo, com o apoio de todos os seus acionistas, o BH Airport segue como um dos principais hubs no mercado da aviação nacional.
Negociações de outorga e saída da CCR da concessionária:
"A Concessionária que administra o Aeroporto Internacional de Belo Horizonte, BH Airport, informa que o reequilíbrio contratual referente à COVID-19 do ano de 2022 já foi aprovado pela ANAC, tendo sido compensado na outorga de 2022, com residual a ser compensado em maio deste ano. Em relação ao reequilíbrio COVID-19 referente ao ano de 2023, a ser compensado na outorga de dezembro de 2023, a Concessionária ainda não iniciou os trâmites de discussão com a ANAC.
Sobre a participação da CCR Aeroportos na administração do Aeroporto Internacional de Belo Horizonte, BH Airport informa que a empresa permanece como acionista da Concessionária, sem planos de curto ou médio prazo de reduzir sua participação ou sair do negócio.”