O publicitário Pedro Pinheiro, que há pouco tempo retificou nome e gênero na certidão de nascimento, estava a dois quarteirões do Detran, onde atualizaria informações de sua carteira de motorista, quando recebeu uma ligação que lhe trouxe meses de dor de cabeça. Ele tinha sido notificado que havia uma fatura aberta em seu nome em um estabelecimento. Pinheiro argumentou que não reconhecia nenhuma compra e desligou o telefone. Pouco tempo depois, ele descobriu que seus dados haviam sido usados para fraudar compras em diversos locais, desde lojas de eletrodomésticos até serviços de telefonia.
Até hoje, Pinheiro não conseguiu resolver todas as complicações do golpe que sofreu e, entre processos judiciais e muito tempo perdido, ainda descobriu que quem fraudou as compras abriu 16 contas de telefone com os dados dele e gastou mais de R$ 5.000 em seu nome. Ele foi uma das 12 milhões de pessoas que sofreram alguma fraude financeira no país desde agosto do ano passado.
Recorrente no Brasil, esses crimes geraram prejuízo de R$ 1,8 bilhão às vítimas no período e atingiram 46% da população brasileira que tem acesso à internet nos últimos 12 meses. As informações são de um estudo da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL), do SPC Brasil e do Sebrae.
Entre as fraudes mais comuns estão não receber um produto comprado pela internet, o que aconteceu com 52% das vítimas; receber de mercadoria ou serviço diferente do especificado pelo vendedor, aplicado a 41,8% dos consumidores; e clonagem de cartão de crédito ou débito, golpe que afetou 25% dos internautas. Também se destacam, na pesquisa, a contratação de serviço ou compra indevida com uso de documentos falsos ou roubados, fraude que atingiu 14,4% dos usuários.
Sem retorno
A pesquisa também mostra que 33,8% das pessoas que sofreram fraudes não conseguiram recuperar nenhum valor perdido com o crime, e, dessas, 47,3% não têm esperança de conseguir de volta o dinheiro extraviado. É o caso do servidor público Ian Sager, 25, que há dois anos aguarda a chegada de um produto que adquiriu pela internet. “Comprei um tênis da marca New Balance em uma loja por R$ 269 que nunca foi entregue. O prazo dado por eles foi de 22 dias para que a encomenda chegasse, mas até hoje estou esperando”, lamenta Sager.
O superintendente da CNDL Marco Antônio Corradi explica que grande parte das fraudes ocorre após perda ou roubo de documentos. Contudo, segundo ele, a exposição de informações pessoais na internet também é fator de risco. “A melhor postura é manter a discrição na internet, da mesma forma como prezamos pela privacidade dentro de casa”, defende.
Se o consumidor for vítima desses crimes, o especialista aconselha que registre imediatamente um boletim de ocorrência, bloqueie cartões e entre em contato com as empresas envolvidas. Para compras na internet, Corradi afirma que é desejável conferir se o site possui criptografia e verificar a reputação da loja online.
Ocorrência é maior em lojas de usados
Lojas online que vendem produtos usados são o local mais comum para ocorrência de fraudes e onde acontecem 54,4% dos casos. O prejuízo médio para o consumidor nesse tipo de caso é de R$ 204,80. São mais comuns golpes aplicados a partir de sites de marketplace, que vendem vários tipos de produtos, e lojas de pessoas físicas online – juntos, esses tipos de e-commerce são responsáveis por 66,6% dos casos. Compras em redes sociais também aparecem nas estatísticas – em 12,5% das vezes, os crimes ocorrem no contato com o perfil de empresas nas plataformas, e 9,6% em perfis de pessoas físicas.
Consumidores também relatam que a principal dificuldade para evitar golpes e fraudes ocorre por não saberem se um site é seguro para fazer transações financeiras, o que foi citado por 53% das pessoas. Entre os entrevistados, 45% não souberam identificar se um boleto emitido é verdadeiro.
Os produtos mais sujeitos aos crimes são os eletrônicos, envolvidos em 35% dos golpes, seguidos por itens de vestuário, com 31,1% dos crimes. Cosméticos estão em terceiro lugar, com 13,3% dos episódios, e eletrodomésticos foram citados em 11,6% dos incidentes.