Vantagem

Seguradoras integram serviços e criam ‘clubes de descontos’

Sorteios e redução de preços são alguns dos benefícios da modalidade, que cresce no mercado

Por Queila Ariadne
Publicado em 14 de outubro de 2019 | 03:00
 
 
Nael comprou um combo de microsseguros e até já usou para tratamento odontológico Foto: Geovany Damacena/ casas bahia divulgação

O aposentado Nael Barroso, 67, entrou em uma loja da rede Casas Bahia, em Uberlândia, no Triângulo Mineiro, para comprar um celular. Saiu de lá com o aparelho novo, mas também comprou um combo de microsseguros que, além de indenização em caso de morte ou acidente, dá direito a descontos em consultas, exames e medicamentos.

Esse tipo de produto, que ainda permite que o comprador concorra mensalmente a sorteios de valores em dinheiro, por meio de títulos de capitalização, é uma resposta ao desafio do mercado de driblar a crise financeira e vender seguros que já existem, de uma forma diferente.

“O Vida Protegida e Premiada custa R$ 99 ao ano. Na prática, o beneficiário compra uma condição diferenciada que vai garantir várias vantagens. Imagina, por exemplo, quem perdeu o plano de saúde porque ficou desempregado e não tem condição de pagar porque é caro, mas vai ter acesso a médicos com custo menor, sem precisar ficar submetido às filas do SUS. O sistema público é bom, mas tem a questão da demora”, afirma o diretor comercial de canais estratégicos da Mapfre, Alex Dias.

Barroso até já usou os benefícios. “Eu precisava fazer um tratamento odontológico. Liguei na central de atendimento e me informaram as clínicas conveniadas e já até marquei o procedimento. O orçamento deu R$ 570, mas, como o desconto que o cartão me dá, eu vou pagar R$ 456. É uma boa economia”, comemora. “Se eu ganhar no sorteio, vai ser melhor ainda, né?”, brinca o aposentado.

Todo mês, com o número do cartão, os beneficiários concorrem a R$ 17 mil pela Loteria Federal.

Já existem vários outros tipos de produtos como esses, que atrelam seguros a clubes de descontos para fisgar clientes, principalmente das classes C e D.

O Descompplica é um deles, com custo de R$ 49,90 por mês. Não é uma seguradora, não é um banco, nem é um plano de saúde. Mas, unindo as duas pontas – consumidor e serviços –, conseguiu criar uma solução que ajuda a necessidade de tratamento médico caber no bolso.

Quando descobriu um câncer de mama, a dona de casa Marli Oliveira, 54, recorreu ao programa para ajudar nos custos do tratamento médico. “Não tenho plano de saúde. Quando veio o diagnóstico, me lembrei que eu tinha feito o Descompplica e descobri que ele dava descontos. Em um mês eu já tinha feito todos os exames e estava com a cirurgia marcada”, conta Marli. Para ter uma ideia da economia, as tomografias que custariam R$ 1.950 saíram por R$ 1.050, 46% a menos.

“A Descompplica nasceu na experiência prática de entender o que gera valor em saúde popular, com um modelo que chegasse a pequenas cidades do interior. Em 2016, bem no auge da crise (econômica), começamos com clínica. Então, percebemos que seria mais eficiente se o paciente tivesse acesso não só a consultas, mas a uma rede de parceiros que pudessem oferecer vantagens, com um gestor fazendo a ponte para facilitar”, explica Raíssa Urbano, CEO da Descompplica, que é uma startup que integra serviços rotineiros do cidadão brasileiro a um só cartão multibenefícios.

São mais de 30 mil estabelecimentos conveniados, como supermercados, farmácias, academias, escolas, hospitais, entre outros.

Segundo Raíssa, o modelo vem a atender um perfil cada vez mais recorrente na atual conjuntura econômica: pessoas sem vínculo empregatício e sem plano de saúde. “Também pensamos que esse público tem acesso a várias clínicas populares e também ao SUS. Então, às vezes, o maior problema não é o diagnóstico, mas o financiamento do tratamento. A partir daí, lançamos um serviço financeiro para fazer empréstimos e viabilizar o parcelamento dos custo do tratamento”, explica a CEO.

Geração de renda

Nem só de intermediar descontos vive a startup mineira Descompplica. A plataforma também pode viabilizar empréstimos e garantir uma renda extra para os usuários cadastrados. Quem tem, pode vender o cartão de vantagens, e, a cada vez que um indicado usar um benefício, pontos vão sendo acumulados.

Quando a designer de interiores Viviane Camargos, 43, comprou, o objetivo principal era trocar o plano de assistência funerária. “Eu pago R$ 49,90 por mês e tenho vários benefícios, como os descontos em consultas e remédios. Paguei 55% menos em um medicamento um dia desses. Gostei tanto que saio indicando para amigos e familiares. O melhor é que isso vai gerando pontos e eu tenho a possibilidade de resgatar em dinheiro ou acumular créditos para desconto na mensalidade, por exemplo”, explica Viviane.

Ela não tem plano de saúde há dois anos, desde que saiu do último emprego com carteira assinada. “Sou autônoma e pagar um plano é muito caro. Com esse seguro, eu pago R$ 70 em uma consulta, que custaria R$ 120”, compara Viviane. O beneficiário também concorre a sorteios de dinheiro e tem acesso a serviços como cadastramento e divulgação de currículos.

A startup já está negociando microfranquias. Até novembro, deve inaugurar 70 pontos físicos em Minas Gerais, sendo 25 em Belo Horizonte. “Funciona como uma espécie de casa lotérica, onde a pessoa vai poder sacar e fazer pagamentos. O foco não é viver de franquias, mas, sim, multiplicar os pontos de atendimento e conquistar mais usuários É uma forma de levar os serviços para populações que não contam com bancos no interior”, explica a CEO da Descompplica, Raíssa Urbano.