Garantia

Seguro também pode ser usado em vida

Setor quer quebrar ideia de que os benefícios só vêm depois da morte

Por Queila Ariadne
Publicado em 13 de outubro de 2019 | 03:00
 
 
Hospital Foto: pixabay

Para acompanhar as mudanças socioeconômicas, as seguradoras têm pela frente o desafio de provar para os consumidores que, ao contrário do que a maioria pensa, seguro também pode ser usado em vida.

“As pessoas costumam associar a cobertura com casos de morte, com indenização para familiares. Mas, na realidade, existem muitos seguros para atender em vida, como é o caso da cobertura por doenças graves, que tem crescido muito”, destaca a presidente da comissão técnica de benefícios do Sindicato das Seguradoras (Sindseg MG/GO/MT/DF), Juliana Queiroz.

De acordo com a Superintendência de Seguros Privados (Susep), de janeiro a agosto essa modalidade arrecadou R$ 655,7 milhões, 10,25% a mais do que no mesmo período de 2018. De maneira geral, a apólice oferece indenizações para doenças como câncer, infarto, AVC e insuficiência renal, variando de seguradora para seguradora.

Na Mapfre, por exemplo, é possível contratar o produto a partir de R$ 55 por mês, para uma cobertura de R$ 50 mil, variando de acordo com a idade. “O segurado pode usar o recurso da maneira como achar melhor, seja para tratamentos complementares, para cobrir a renda caso ele não possa trabalhar ou para fazer uma viagem”, explica o superintendente executivo de Seguros de Vida da Mapfre, Alexandre Crozato.

Portador de um melanoma, ele mesmo já usou o seguro. “Usei para fazer tratamentos alternativos de medicina quântica e imunoterapia. Tenho certeza de que ajudou a regredir o câncer”, relata.

Na avaliação de Crozato, a demanda tem crescido porque a saúde sempre foi uma das maiores preocupações do brasileiro. “O SUS é um sistema maravilhoso, mas foi dimensionado para um volume menor do que o que atende atualmente. Com o crescimento das pessoas trabalhando por conta própria, está sobrecarregado. Tudo isso faz o brasileiro pensar em outras alternativas. Às vezes, ele não tem plano de saúde, mas pelo menos o seguro para doenças graves ele quer ter”, destaca.

Ainda no sentido de usufruir os benefícios do seguro em vida, a Mapfre tem um produto voltado para mulher, com cobertura por morte, invalidez e câncer de mama, ovário e útero. Também oferece um serviço de assistência auxiliar como chaveiros e até babás.

“O maior desafio está em mostrar que não é só deixar um valor para o beneficiário depois da morte”, ressalta a diretora territorial de Minas Gerais da Mapfre, Viviane Quinalha. Segundo a Susep, o seguros de vida cresceram 16,11% de janeiro a agosto deste ano, atingindo R$ 20,74 bilhões.

Proteção para dados

Os carros já não são mais o ramo de seguros que mais cresce. Pelo contrário. Com a crise a mudança do perfil da mobilidade urbana, tirar carteira deixou de ser o sonho dos jovens que completam 18 anos. Segundo a Superintendência de Seguros Privados (Susep), a arrecadação do seguro auto caiu 4,28% no acumulado até agosto.

O presidente da comissão técnica de seguros de ramos elementares do Sindicato das Seguradoras (Sindseg GO/MT/DF), Geraldo Pereira Filho, destaca que a conjuntura socioeconômica muda, mas não deixa de precisar de proteção.

“As seguradoras têm buscado novas formas de vender produtos tradicionais, como serviços, e de lançar novos. Cada vez mais, elas têm buscado oferecer coberturas mais modernas, que possam trazer tranquilidade como planejamento financeiro, benefícios para serem usados em vida, proteção empresarial e proteção digital”, destaca Pereira.

Entre as necessidades recentes, a Zurich lançou o Proteção Digital. “Lançado em 2017, o serviço veio para atender todas as companhias e ajudar a evitar eventuais perdas financeiras devido à violação de privacidade de suas informações.

Com dois anos percebemos um aumento do interesse dos corretores e uma maior conscientização de empresas de diversos tamanhos e setores em contratar o seguro”, afirma o superintendente de linhas financeiras da Zurich, Fernando Saccon.

A proteção digital reembolsa o pagamento de resgates referentes à extorsão por criptografia de dados, e cobre gastos gerados na apuração de cada ameaça.

Educacional

O medo do desemprego tem aquecido a demanda pelo seguro educacional. Segundo o diretor comercial da Mapfre, Alex Dias, o produto já tem quase uma década no mercado, mas agora tem ganhado evidência. “Ele oferece uma indenização em caso de falecimento do responsável, mas também garante o pagamento da mensalidade escolar em caso de desemprego ”, explica.

A seguradora negocia com a escola, que repassa aos pais. “Hoje, já é usado até como diferencial na hora da matrícula”, diz Dias.
A tesoureira do colégio Santa Dorotéia, Leila Dias, destaca que, além de dar estabilidade aos pais, o seguro tem grandes benefícios para escola.

“Evita a inadimplência, caso o responsável perca o emprego. A adesão não é obrigatória e aumenta apenas 1,64% no custo da mensalidade. A vantagem é enorme, pois garante que a família tenha amparo em um caso de necessidade”, diz Leila.

Minientrevista
Bruno Kelly

(professor e consultor)

Que tipo de desafio a mudança do perfil do mercado de trabalho e o avanço da tecnologia, com mais autônomos, traz para o setor de seguros?

Num primeiro momento, o mercado pega produtos antigos e redesenha para atender a essa nova necessidade social. No caso da tecnologia, a mudança é mais profunda, pois traz ferramentas que permitem melhor avaliação de riscos e contribui para reduzir os preços finais.

De acordo com a Susep, a arrecadação dos seguros de acumulação, como a previdência privada, cresceu 9,9% neste ano. Você acredita que o medo de não conseguir se aposentar está por trás desse aumento?

Na medida em que o brasileiro não sabe o que vai ser aprovado ou quando, as pessoas vão procurar uma proteção necessária para o cenário de incerteza. A reforma ajuda a potencializar esse crescimento da previdência complementar.

Com a uberização, carros, motos e bicicletas viraram objeto de trabalho. Como o mercado de seguros reage a essa mudança?

Enxerga de forma muito positiva essa tendência é deixar a economia de posse para a compartilhar. Obviamente, tem que se adequar para continuar oferecendo tranquilidade para a sociedade, pois ela continua precisando de proteção.