Para acompanhar as mudanças socioeconômicas, as seguradoras têm pela frente o desafio de provar para os consumidores que, ao contrário do que a maioria pensa, seguro também pode ser usado em vida.
“As pessoas costumam associar a cobertura com casos de morte, com indenização para familiares. Mas, na realidade, existem muitos seguros para atender em vida, como é o caso da cobertura por doenças graves, que tem crescido muito”, destaca a presidente da comissão técnica de benefícios do Sindicato das Seguradoras (Sindseg MG/GO/MT/DF), Juliana Queiroz.
De acordo com a Superintendência de Seguros Privados (Susep), de janeiro a agosto essa modalidade arrecadou R$ 655,7 milhões, 10,25% a mais do que no mesmo período de 2018. De maneira geral, a apólice oferece indenizações para doenças como câncer, infarto, AVC e insuficiência renal, variando de seguradora para seguradora.
Na Mapfre, por exemplo, é possível contratar o produto a partir de R$ 55 por mês, para uma cobertura de R$ 50 mil, variando de acordo com a idade. “O segurado pode usar o recurso da maneira como achar melhor, seja para tratamentos complementares, para cobrir a renda caso ele não possa trabalhar ou para fazer uma viagem”, explica o superintendente executivo de Seguros de Vida da Mapfre, Alexandre Crozato.
Portador de um melanoma, ele mesmo já usou o seguro. “Usei para fazer tratamentos alternativos de medicina quântica e imunoterapia. Tenho certeza de que ajudou a regredir o câncer”, relata.
Na avaliação de Crozato, a demanda tem crescido porque a saúde sempre foi uma das maiores preocupações do brasileiro. “O SUS é um sistema maravilhoso, mas foi dimensionado para um volume menor do que o que atende atualmente. Com o crescimento das pessoas trabalhando por conta própria, está sobrecarregado. Tudo isso faz o brasileiro pensar em outras alternativas. Às vezes, ele não tem plano de saúde, mas pelo menos o seguro para doenças graves ele quer ter”, destaca.
Ainda no sentido de usufruir os benefícios do seguro em vida, a Mapfre tem um produto voltado para mulher, com cobertura por morte, invalidez e câncer de mama, ovário e útero. Também oferece um serviço de assistência auxiliar como chaveiros e até babás.
“O maior desafio está em mostrar que não é só deixar um valor para o beneficiário depois da morte”, ressalta a diretora territorial de Minas Gerais da Mapfre, Viviane Quinalha. Segundo a Susep, o seguros de vida cresceram 16,11% de janeiro a agosto deste ano, atingindo R$ 20,74 bilhões.
Proteção para dados
Os carros já não são mais o ramo de seguros que mais cresce. Pelo contrário. Com a crise a mudança do perfil da mobilidade urbana, tirar carteira deixou de ser o sonho dos jovens que completam 18 anos. Segundo a Superintendência de Seguros Privados (Susep), a arrecadação do seguro auto caiu 4,28% no acumulado até agosto.
O presidente da comissão técnica de seguros de ramos elementares do Sindicato das Seguradoras (Sindseg GO/MT/DF), Geraldo Pereira Filho, destaca que a conjuntura socioeconômica muda, mas não deixa de precisar de proteção.
“As seguradoras têm buscado novas formas de vender produtos tradicionais, como serviços, e de lançar novos. Cada vez mais, elas têm buscado oferecer coberturas mais modernas, que possam trazer tranquilidade como planejamento financeiro, benefícios para serem usados em vida, proteção empresarial e proteção digital”, destaca Pereira.
Entre as necessidades recentes, a Zurich lançou o Proteção Digital. “Lançado em 2017, o serviço veio para atender todas as companhias e ajudar a evitar eventuais perdas financeiras devido à violação de privacidade de suas informações.
Com dois anos percebemos um aumento do interesse dos corretores e uma maior conscientização de empresas de diversos tamanhos e setores em contratar o seguro”, afirma o superintendente de linhas financeiras da Zurich, Fernando Saccon.
A proteção digital reembolsa o pagamento de resgates referentes à extorsão por criptografia de dados, e cobre gastos gerados na apuração de cada ameaça.
Educacional
O medo do desemprego tem aquecido a demanda pelo seguro educacional. Segundo o diretor comercial da Mapfre, Alex Dias, o produto já tem quase uma década no mercado, mas agora tem ganhado evidência. “Ele oferece uma indenização em caso de falecimento do responsável, mas também garante o pagamento da mensalidade escolar em caso de desemprego ”, explica.
A seguradora negocia com a escola, que repassa aos pais. “Hoje, já é usado até como diferencial na hora da matrícula”, diz Dias.
A tesoureira do colégio Santa Dorotéia, Leila Dias, destaca que, além de dar estabilidade aos pais, o seguro tem grandes benefícios para escola.
“Evita a inadimplência, caso o responsável perca o emprego. A adesão não é obrigatória e aumenta apenas 1,64% no custo da mensalidade. A vantagem é enorme, pois garante que a família tenha amparo em um caso de necessidade”, diz Leila.
Minientrevista
Bruno Kelly
(professor e consultor)
Que tipo de desafio a mudança do perfil do mercado de trabalho e o avanço da tecnologia, com mais autônomos, traz para o setor de seguros?
Num primeiro momento, o mercado pega produtos antigos e redesenha para atender a essa nova necessidade social. No caso da tecnologia, a mudança é mais profunda, pois traz ferramentas que permitem melhor avaliação de riscos e contribui para reduzir os preços finais.
De acordo com a Susep, a arrecadação dos seguros de acumulação, como a previdência privada, cresceu 9,9% neste ano. Você acredita que o medo de não conseguir se aposentar está por trás desse aumento?
Na medida em que o brasileiro não sabe o que vai ser aprovado ou quando, as pessoas vão procurar uma proteção necessária para o cenário de incerteza. A reforma ajuda a potencializar esse crescimento da previdência complementar.
Com a uberização, carros, motos e bicicletas viraram objeto de trabalho. Como o mercado de seguros reage a essa mudança?
Enxerga de forma muito positiva essa tendência é deixar a economia de posse para a compartilhar. Obviamente, tem que se adequar para continuar oferecendo tranquilidade para a sociedade, pois ela continua precisando de proteção.