"Comunista Lula chama igrejas de facção religiosa e diz que ninguém precisa de padres e pastores". Assim começa o texto mais compartilhado entre os cerca de 200 grupos de WhatsApp monitorados pelo Departamento de Ciência da Computação da Universidade Federal de Minas Gerais (DCC-UFMG) entre 15 e 26 de setembro deste ano. O conteúdo acusa a esquerda de prender "padres e pastores que abriram igrejas" durante a pandemia da Covid-19 e circulou ao menos 162 vezes em 89 grupos diferentes no período citado.
O levantamento faz parte do projeto Eleições Sem Fake. A segunda mensagem mais compartilhada, conforme o estudo, é uma convocação para compartilhar um vídeo que teria sido removido das páginas do presidente Jair Bolsonaro (PL) a pedido do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF). Fecha o pódio uma mensagem com um link de um portal, que disparava a "notícia" de uma pesquisa eleitoral na qual Bolsonaro venceria ainda no primeiro turno.
Entre as 10 mensagens mais compartilhadas está uma que também chama a atenção. Conforme o texto, o Jornal Nacional, da TV Globo, entrevistou Adélio Bispo, autor da facada contra Bolsonaro em 2018. Segundo o conteúdo, essa gravação só vai ao ar após as eleições, e Adélio teria sido "instruído a construir uma longa mentira", na qual o presidente teria o contratado para atacá-lo.
Já entre as imagens, a mais compartilhada entre os grupos monitorados pela UFMG no WhatsApp é a de um santinho de um candidato a deputado por São Paulo. Ainda conforme o levantamento, o vídeo que mais circulou entre os usuários acompanhados é um que teria sido retirado do ar por determinação de Alexandre de Moraes, que critica manifestações organizadas pelo Partido dos Trabalhadores (PT).
Apesar do monitoramento dar uma ideia do que é compartilhado nesses grupos, os responsáveis pelo estudo ressaltam que não sabem "o quanto os dados monitorados são representativos de toda discussão política que ocorre no aplicativo".
A pesquisa acontece por meio de "sistemas web", nos quais os responsáveis processam "todos os dados postados nos grupos e canais públicos monitorados, agrupando a informação e sumarizando diariamente o conteúdo" para ranquear aqueles que são mais populares.
Telegram
O projeto Eleições sem Fake realizou um levantamento semelhante para o Telegram, principal concorrente do WhatsApp. A mensagem mais compartilhada é uma que provoca os eleitores do presidente Jair Bolsonaro. "Será no primeiro turno, babacas", diz o texto. Essa mesma frase é colada inúmeras vezes no conteúdo, que foi compartilhado 180 vezes.
A segunda mais disparada é um link, no qual os usuários, em tese, são encaminhados para uma pesquisa não registrada no Tribunal Superior Eleitoral (TSE). "Nossa enquete é transparente e livre de alterações de votos. Participem e compartilhem", destaca o texto, que apareceu 112 vezes diferentes em grupos do Telegram.
Já a terceira mais compartilhada fala de uma falsa estratégia para fraudar as eleições. Segundo o texto, "funcionários públicos e diretores de escolas viajaram para a Europa para ter treinamento para fraudar as eleições". A mensagem ainda pede que a Polícia Militar (PM) acompanhe as votações dentro das seções eleitorais.
Assim como no caso do WhatsApp, os pesquisadores ressaltam que o monitoramento não engloba todo o universo das discussões políticas do aplicativo. O estudo também se dá a partir do acompanhamento de grupos públicos divulgados na internet pelos usuários.