O clássico céu azul sem nuvens pautou o sábado em Tiradentes, para alívio dos que temiam a ocorrência de chuvas. Um dia perfeito, portanto, para acolher a partida da 23ª edição da Mostra de Cinema de Tiradentes, cuja abertura aconteceu na sexa-feira à noite, em um Cine-Tenda lotado, em evento que contou com a presença dos dois homenageados deste ano, os atores Antonio Pitanga e Camila Pitanga, pai e filha.
 
“O mundo não está bonito, ele está escuro, mas cada um de nós é a luz e temos a urgência de olhar para a frente, de resistir como vem resistindo a ancestralidade preta há tantos século”, disse Camila, que preferiu improvisar em seu discurso. Sob muitos aplausos, os dois receberam o troféu Barroco, concedido pelo conjunto da obra. Antonio Pitanga, vale dizer, estava acompanhado de sua mulher, Benedita da Silva. 
 
A cerimônia em questão contou ainda com a exibição do longa “Os Escravos de Jó”, do diretor cearense Rosemberg Cariry. Filmado na cidade de Ouro Preto, o filme é protagonizado por Antonio Pitanga, que interpreta um livreiro sobrevivente de campos de concentração da Alemanha nazista.
 
Neste sábado, no início da tarde, no Cine-Teatro do Centro Cultural Yves Alves, Antonio e Camila participaram de um debate com o público, com mediação do curador Pedro Maciel Guimarães.
Também à tarde, por volta das 16h30, a cidade vibrou com o tradicional Cortejo das Artes, uma das atrações mais esperadas pelo público que acompanha a mostra. Bandas, grupos e artistas convidados se encontraram para a concentração na rua Direita, em frente à Igreja do Rosário, de onde o desfile partiu rumo ao Cine Praça, no Largo das Fôrras.

E enquanto o tradicional Cortejo das Artes passeava em democrático clima de Carnaval, misturavam-se públicos. Indistintos, ensaiavam passinhos turistas e tiradentinos - só se notava quem é nascido ou criado na histórica cidade ao se flagrar velhos conhecidos se encontrando em todo o trajeto.

Caso da paulistana Cintia Dellalibera, 40, que, há oito anos abriu, na charmosa Rua Direita, a Tapioca Maria Bonita. No breve instante que parou para falar com a reportagem, interrompeu a fala para trocar uma dezenas de abraços. “O evento é maravilhoso, traz pessoas de cidades próximas e turistas. E esse momento, do Cortejo, é um no qual encontro todo mundo, porque todos vêm para a rua sentir a batucada no seu coração”, poetisa ela.

A empreendedora gastronômica espera encontrar brechas para se dedicar mais às sessões durante a semana, porque, a julgar pelo movimento na sua casa de tapiocas, terá muito, muito trabalho neste fim de semana.

As grandes filas para as sessões de curtas neste sábado chamaram atenção. E as pessoas se aglomeraram para disputar até as últimas vagas.

De Santa Catarina, Pâmella Medeiros Arruda, 31, é parte dessa gente com muita sede de cinema. Ela chegou para o evento, que prestigia pela primeira vez, cercada de amigos. “Está lindo, muito colorido e diverso”, elogia, se incorporando aos passistas que seguiam o cortejo.

Ela foi uma das que comemoraram  o fato de “o tempo ter ficado bom, com um belo céu azul e sem nuvens”. Além disso, emendeu, “a energia está muito boa”. Ao fim do dia, ela ainda arrumou fôlego para assistir ao sarau do Grupo Galpão, trupe da qual  se diz fã integral. Ah, sim. Nos outros dias, quer mergulhar nas linguagens apresentadas nos curtas selecionados

Em tempo: até o dia 1 de fevereiro, serão exibidos 113 filmes brasileiros (alguns em pré-estreias nacionais e mundiais) produzidos em 17 Estados, e divididos em 53 sessões. A expectativa de público, em nove dias, é de 35 mil pessoas - ou seja, cinco vezes a população local.

*O repórter viajou a convite da Universo Produção.