Entrevista

Claudia Raia lança biografia e diz: ‘Tem tanta coisa que ainda quero viver’

Atriz, que celebra 35 anos de carreira, fala sobre o recém-lançado livro de memórias, comenta a relação com a beleza e adianta que quer ser mãe novamente

Por Renato Lombardi
Publicado em 23 de novembro de 2020 | 06:00
 
 
Em livro, Claudia Raia comenta momentos importantes de sua vida e revela histórias inéditas Vinícius Mochizuki/Divulgação

Dona de uma personalidade marcante e inconfundível, Claudia Raia conquistou o público nos palcos e na televisão com seu talento e versatilidade. Artista multifacetada, ela atua, dança, canta e também  trabalha como produtora teatral. Com quase 54 anos, que serão completados no próximo 23 de dezembro, a atriz celebra 35 anos de carreira em 2020 de uma maneira muito especial: contando suas memórias, a maioria nunca antes revelada, na recém-lançada autobiografia “Sempre Raia um Novo Dia”, escrita por ela e pela escritora e roteirista Rosana Hermann, e a fotobiografia “Raia”. Claudia conversou com o Magazine sobre os livros e também falou sobre a relação com a beleza e a maternidade. 

São quase 54 anos de vida e 35 anos de carreira. São muitas histórias para contar, né? Amor, são muitas! E é cada coisa inacreditável que já me aconteceu. Quando digo que minha vida são esquetes de comédia, não estou mentindo. E vocês vão ver ler tudo isso no livro. A Rosana Hermann, que escreveu o livro comigo, captou a minha essência de uma maneira muito impressionante. Ela tem uma sensibilidade, sabe?! Fiquei muito emocionada quando segurei na mão pela primeira vez. Tanto ele quanto a fotobiografia “Raia”, que também estou lançando. Ter uma vida inteira na palma das mãos é um sentimento que nem consigo descrever.

Com surgiu a ideia de fazer o livro de memórias? Foi um convite da editora HarperCollins. Mas eu fiquei um pouco na dúvida. Sou muito nova ainda para escrever uma biografia. Tem tanta coisa que ainda quero viver. Mas aí o Marcus Montenegro, um dos meus empresários, conversou comigo e falou que achava que seria interessante, justamente porque eu tenho muitas histórias para contar... E encarei como um desafio de reunir as memórias do primeiro ato da minha vida. Foi um processo muito divertido e emocionante. Passou um filme na minha vida. E me deu uma tranquilidade muito grande, porque é um orgulho de ter andado por todos esses caminhos, de ter vivido tudo isso. Tenho muita segurança na minha história e sou muito em paz com ela. Não tem espaço para arrependimento nem nada do tipo.

Para você, qual a história mais engraçada? Nossa, escolher uma história engraçada é difícil (risos). Minha vida são esquetes de comédia, amor. É uma coisa mais louca que a outra. Quando fazia “Cinco Vezes Comédia”, entrei em cena bem doida depois de inalar remédio para asma, já que eu não tenho asma (risos). Quando eu, lá em “Roque Santeiro”, pedi licença para Regina Duarte, a Viúva Porcina, para falar o meu “Eu também” (risos). Era minha primeira frase em meses de novela, não podia deixar passar. Eu tinha treinado variações dele (risos). 

 E o que você, se fosse hoje, não faria? Uma coisa que eu não faria acho que é apoiar o Fernando Collor (eleito presidente do Brasil em 1989), mas só penso isso porque já sei como essa história termina. Lá atrás, eu não sabia. Agi como achei que era mais correto no momento. Mas fica o aprendizado. 

No livro você fala sobre sua vida amorosa e cita Alexandre Frota, Jô Soares e Edson Celulari, que marcaram sua vida de maneiras diferentes. O que eles representam, hoje, em sua vida? Cada uma dessas histórias foi importante para mim. São pessoas que fizeram parte da minha vida. Nem todos permaneceram na minha vida, mas foram importantes naquele momento.

Além do “Sempre Raia um Novo Dia”, tem a fotobiografia. Há fotos inéditas? Tem conteúdo inédito, sim. Fotos que produzi para o livro. A curadoria é do Gringo Cardia. Foi dele, aliás, a ideia de fazer esse livro. Ele trabalhou comigo no musical “Raia 30” e falou que aquilo dava um livro. E não é que deu mesmo? A ideia era lançar para os 30 anos de carreira. Mas era tanta foto, e cada hora a gente queria acrescentar mais uma (risos). Tornou-se uma grande celebração para os 35 anos de carreira.

A maternidade foi um divisor na sua vida? A maternidade é o meu maior e melhor papel, não tenho dúvidas disso. Nasci para ser mãe e tenho plena consciência disso. Amo ser mãe e tenho uma relação muito linda com meus filhos. Lá em casa, não existe assunto tabu. Falamos sobre absolutamente tudo. Eu respeito as escolhas deles, entendo que é a vida deles e eles devem vivê-la como acharem melhor. Mas, claro, se tem algo que eu não concordo muito, falo, aconselho... Esse é meu papel também. 

Você é uma referência de beleza. Como é para você estar nesse lugar? Já recebeu muita cobrança por isso? A cobrança que eu sinto maior, na verdade, é hoje. Na verdade, não é uma cobrança, mas essa dificuldade da sociedade em entender a potência de uma mulher de 53 anos. Porque dá uma pane no sistema ver uma mulher bem resolvida com isso, já que a sociedade quer impor a nós uma busca eterna por juventude que não existe, é inatingível. Acho que eu continuar sendo uma referência de beleza mostra como é importante a gente se aceitar e buscar conviver bem com o nosso amadurecimento, com o passar do tempo. Eu continuo me cuidando: cuido da pele, da alimentação, faço minhas aulas de balé e musculação. Tudo isso eu sempre fiz porque gosto, não faço agora para aparentar ser mais nova do que sou. Estou em paz com a minha idade e faço questão de falar sempre, seja em entrevistas ou nas minha redes sociais, que nós, mulheres 50+, somos de uma potência absurda. Somos donas da nossa vida, do nosso dinheiro, do nosso tempo. Não precisamos nos encaixar em uma expectativa irreal da sociedade. É a sociedade que precisa nos reconhecer em toda a nossa potência e entender que nós continuaremos aqui existindo, falando sobre nossos dilemas, mostrando que o passar do tempo não é problema. Muito pelo contrário: a maturidade traz com ela coisas maravilhosas.

A personagem Tancinha está de volta em dose dupla: no canal Viva, com você, e na Globo, na interpretação de Mariana Ximenes. Você gosta de se ver na tela? Eu adoro rever meus trabalhos. Lá em casa, estamos vendo “A Favorita” também. Vemos “Sassaricando” no Viva. Para os meus filhos, é engraçado ver, porque eu e Edson estamos contracenando. Algumas cenas, eu os chamo para assistir (risos). É muito bom rever os personagens, receber o carinho do público, que também se diverte com a reprise, e relembrar a minha carreira, as oportunidades que cada uma dessas mulheres me proporcionou. Tancinha, por exemplo, foi a grande explosão da minha carreira, eu fiquei conhecida nacionalmente por causa dela. Quando soube que seria Mariana, essa minha filhota amada do coração, fiquei muito feliz. Ela, inclusive, me procurou para pedir a bênção. Eu não só abençoei, como aconselhei que ela fizesse a Tancinha dela, que ficou um encanto.

Hoje, quem é a Claudia Raia e o que ela almeja para a vida pessoal e profissional? Claudia Raia por Claudia Raia? (risos) Sou uma capricorniana, que não desiste. Uma operária da arte que ainda quer realizar muitos espetáculos e levar muita alegria para o público. Costumo dizer que eu tenho um combinado com Deus e vou desencarnar no palco, ao fim de um espetáculo, recebendo os aplausos do público. Ao mesmo tempo em que continuo essa pessoa extremamente instigada pelo trabalho, realizadora, eu aprendi (ou estou aprendendo) a priorizar, a viver no modo econômico. Entendi que não adianta querer fazer tudo ao mesmo tempo, é importante priorizar. Até para ter tempo de qualidade com minha família, por exemplo, e para mim também. Um plano na vida pessoal que ainda tenho? Ser mãe novamente. Ainda não tem data nem nada, mas é um sonho que quero realizar.

Revendo tudo o que você viveu nesses anos, qual balanço você faz da sua vida pessoal e profissional? Tudo valeu a pena!

Você iniciou a carreira muito jovem. Hoje, se você pudesse mandar uma mensagem para a jovem Claudia, o que você falaria para ela? Eu diria para ela continuar fazendo o que está fazendo, ouvir as pessoas importantes na vida dela e não ligar mesmo para o que os outros dizem. Ah, e que ter espaço para se adaptar, reajustar a rota, é importante.