Crítica

Em 'A Lavanderia', Steven Soderbergh está distante da velha forma

No filme que estreou na Netflix, elenco com Meryl Streep, Gary Oldman e Antonio Banderas é o que vale a pena

Ter, 22/10/19 - 02h10
Meryl Streep em 'A Lavanderia' | Foto: Claudette Barius/Netflix/Divulgação

Há tantos filmes baseados nos escândalos financeiros recentes ou em vazamentos que os revelaram que poderia ser criado um subgênero no cinema apenas para a categoria. Alguns são memoráveis, caso de “Margin Call – O Dia Antes do Fim” (2011), com Kevin Spacey e Paul Bettany.

Outros são apenas ok, como “A Grande Aposta” (2015), com grandes atores que vão de Ryan Gosling a Steve Carell, mas sem alma. “A Lavanderia”, de Steven Soderbergh, que estreou na última sexta-feira na Netflix, infelizmente se encaixa nesta última categoria.

Inspirado num dos maiores vazamentos de dados sigilosos da história recente, o chamado caso Panama Papers, conta a história de como um escritório de uma dupla de advogados baseados naquele país dava respaldo jurídico internacional para dezenas de milhares de negócios na fronteira entre a elisão e a evasão fiscal que reunia no mesmo grupo mandatários estrangeiros, expoentes do PIB mundial e até a empreiteira brasileira Odebrecht, segundo acusações repetidas pelo filme.

O vazamento é fruto de documentos enviados por uma fonte anônima para jornalistas do diário alemão “Süddeutsche Zeitung”, em 2015, e depois garimpado por um ano por um consórcio internacional de reportagem em Washington.

O filme tem a pretensão de explicar didaticamente como se deu o escândalo, elegendo um punhado de histórias humanas para dar rosto à papelada. A melhor delas, fio condutor da narrativa, é a da viúva interpretada por Meryl Streep, que perde o marido num acidente de barco nos EUA e descobre que o dinheiro da indenização da empresa náutica e o apartamento que compraria com ele estão ligados à trama regida pelo escritório Mossack Fonseca.

Os dois advogados que emprestam o sobrenome à empresa e estão no centro do escândalo são vividos respectivamente pelos ótimos Gary Oldman e Antonio Banderas.

A dupla começa o filme narrando como e por que foi criado o dinheiro, depois o crédito, daí os impostos, depois os juros, até chegar nas contas off-shore, criadas para evitar legalmente o pagamento de impostos (elisão), sonegá-los ilegalmente (evasão) ou simplesmente para lavar (muito) dinheiro.

Completam a trama um empresário africano (Nonso Anozie) que vive nos EUA e é pego numa traição pela filha com sua melhor amiga, e um banqueiro alemão (Matthias Schoenaerts) que tenta chantagear a mulher (Rosalind Chao) de um poderoso membro do Politburo chinês. O final de todos não é feliz, mas revelá-lo seria cometer vários spoilers.

“A Lavanderia” só não é totalmente passável pelo grande elenco, sempre bom, e por ter sido dirigido por Steven Soderbergh, que descumpre a promessa de se aposentar desde 2013. Dá sempre uma vontadezinha de ver se o autor dos clássicos cult “Sexo, Mentiras e Videotape” e “Erin Brockovich” e da trilogia blockbuster que começa com “Onze Homens e um Segredo” voltou à velha forma. Ainda não foi dessa vez. 

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