Coringa

75 anos de vilania 

O arqui-inimigo de Batman é em tudo o oposto do herói e, por isso, seu complemento ideal

Por Guilherme Ávila
Publicado em 26 de abril de 2015 | 03:00
 
 
Jared Leto tem a responsabilidade de ser o próximo Coringa warner/divulgação

Palhaço, marginal e louco. O Coringa apareceu pela primeira vez nas HQs em 1940, junto com outros importantes companheiros do Batman, como a Mulher-Gato e o Robin. Curiosamente ele estava previsto para ter um fim logo na primeira edição da revista do Homem-Morcego. Mas os editores da DC Comics decidiram poupar o personagem ao reconhecer seu potencial narrativo. Muito mais que servir como um maníaco secundário, ele antagonizava o herói do título em tudo, até mesmo no jeito de se vestir: os tons que berrantes em roxo e verde do vilão se chocavam com o visual soturno e sempre monocromático de Batman.

Seus criadores contam que, na época, a inspiração desse visual veio de um palhaço que o desenhista Bob Kane viu num parque de diversões em Coney Island, em Nova York. O personagem foi então desenvolvido a partir de uma carta de baralho do arte-finalista Jerry Robinson e de uma fotografia de referência trazida pelo roteirista Bill Finger, que trazia uma imagem do ator Conrad Veidt, protagonista de “O Homem que Ri” (1928), filme do expressionismo alemão sobre um homem com um sorriso fixo no rosto.

Com propostas opostas desde o início, herói e vilão se complementavam. O Coringa representava o caos, enquanto o Batman era a ordem. Assim surgiam os arqui-inimigos mais célebres das histórias em quadrinhos já criados até hoje. E a risada debochada do Palhaço do Crime foi mais forte que a astúcia de um Batman que quase nunca sorriu na vida.

“Sem dúvida parte da popularidade do Batman hoje vem justamente do fato dele ter o Coringa como vilão. Personagens complexos e multifacetados como o Palhaço do Crime são mais ricos e relevantes, gerando maior identificação com o público. O aniversário dele será celebrado na Comic Con Experience 2015”, diz Ivan Costa, um dos sócios organizadores da maior convenção de quadrinhos do Brasil. O evento será realizado no início de dezembro, em São Paulo, mas a programação de atrações ainda não foi definida.

Segundo a Panini, editora que publica as revistas da DC no país, serão lançadas reimpressões da graphic novel “Batman – A Piada Mortal” (1988), escrita por Alan Moore e desenhada por Brian Bolland, e da minissérie “Coringa” (2008), de Brian Azzarello, para comemorar os 75 anos do Coringa. Em junho, nos EUA, o aniversário do vilão também será celebrado com capas alternativas em mais de 25 gibis diferentes. Leia sobre a polêmica envolvendo a capa variante da nova revista “Batgirl” clicando aqui.

“Não vejo nada de preocupante nessa glamourização das figuras dos vilões entre os leitores de super-heróis. O Coringa é uma espécie de vilão máximo do Batman. São personagens fictícios e foram feitos para as pessoas gostarem deles, sendo bons ou maus. Histórias são uma forma saudável de percebermos certas partes da natureza humana sem ter que praticar algo por si só”, diz Raphael Fernandes, editor da revista “MAD”.

"O que vejo de errado é a postura de alguns fãs mais preocupados com assuntos absolutamente irrelevantes, como o uniforme de um herói ou se ele é gay ou não, do que com o diacho da história que está lendo. Em outras palavras, não existem HQs feitas para serem politicamente corretas. Elas são feitas pensando em um público-alvo e respeitá-lo é prioridade máxima”, completa.

Censura. Nascido com um psicopata homicida, o código moral e a ética dos quadrinhos norte-americanos dos anos 60 – criado para minimizar as influências das HQs nas crianças – impediu que o vilão continuasse sendo violento. Com a clássica série de televisão exibida entre 1966 e 1969, o Coringa foi transformado em uma espécie de bobo da corte, que só vivia para atrapalhar a vida do Batman. Eternizado pela interpretação de Cesar Romero, essa fase de “palhaço brincalhão” foi responsável por introduzir as armas mais famosas do personagem, como a flor que espirra ácido e o revólver com bandeira BANG!.

Infantilizado, o vilão ficou sumido dos quadrinhos durante praticamente toda a década de 70 e só foi retomado por Neal Adams, conhecido por remodelar grandes personagens da DC Comics.

O quadrinista foi um dos principais responsáveis em trazer de volta alguns aspectos fundamentais do Coringa que ajudaram a devolver o tom de seriedade e profundidade para as histórias em quadrinhos que há muito faziam falta. Adams abriu para outros autores uma possibilidade de encarar o personagem de uma maneira mais séria e, nas décadas seguintes, novos títulos com um viés adulto e grandes sucessos do cinema foram os responsáveis por transformar o Palhaço do Crime no ícone que conhecemos atualmente.