Sinergia

A arte que circula nas redes

Canais no YouTube divulgam conteúdo sobre artes visuais, ampliando acesso a informações sobre artistas e obras

Por Carlos Andrei Siquara
Publicado em 12 de fevereiro de 2019 | 03:00
 
 
Parceria. Maria Carol e Luca Bastolla tocam juntos o canal Life Is a Bit, que existe há cerca de dois anos. Antes de começarem a produzir vídeos para o YouTube, eles desenvolviam o trabalho “8-bitch project”, baseado em intervenções artísticas na cidade. Boa parte do conteúdo concebido por eles trazem informações sobre criações ligadas a essa linguagem Hugo Dourado/divulgação

Conversar sobre arte pode ser um pouco intimidador para quem tem menos familiaridade com a história de alguns artistas ou com diferentes trabalhos que podem ocupar tanto as galerias e os museus quanto as ruas e os prédios das cidades. Tal desconforto, muitas vezes, pode vir acompanhado da visão de que o universo da criação artística está restrito a um grupo de iniciados.

Mas na contramão dessa percepção há artistas, jornalistas e produtores de conteúdo que encontraram no YouTube uma via de expressão e de diálogo sobre os mais diversos temas do mundo da arte, tornando-os acessíveis e convidativos, a partir da informalidade de um bate-papo. É assim que dados biográficos, técnicas, linguagens variadas e até dicas de como experimentar e promover uma intervenção urbana tornam-se assuntos para vídeos publicados nessa plataforma.

A artista Rosa Luz, 22, nascida em Gama, no Distrito Federal, é um dos nomes que atuam nessa seara. Em seu canal, além de comentar a trajetória de artistas que admira, como Jean-Michel Basquiat (1960-1988) e Cildo Meireles, ela opina sobre livros, divulga seus próprios trabalhos e aborda questões ligadas a gênero e racismo relevantes para o debate contemporâneo.

Outra que vem conquistando espaço é Vivi Villanova, 30, que está à frente do canal Vivieuvi. Graduada em comunicação social, com habilitação em rádio e TV, ela vem desde 2015 propondo conteúdos que aproximam o público das artes visuais, seja por meio de resenhas de mostras, listas com fatos curiosos sobre a trajetória de um nome consagrado ou dicas de referências literárias que podem ampliar o repertório de quem se interessa por esse segmento.

Para Vivi, além da paixão pessoal por cultura, uma das motivações para desenvolver o canal foi justamente o interesse em difundir algo que reconhece ter grande potencial para estimular o pensamento sobre si e sobre a sociedade.

“Eu entendo a arte como uma ferramenta tão poderosa, que te permite entender mais sobre você mesmo e sobre o mundo, e, para mim, não faz sentido ela ser vista como algo inatingível. Eu já tive a sensação de entrar em uma galeria e sentir que estava em um lugar errado, porque, de repente, eu não tinha uma resposta certa para dar àquela obra. Eu ficava incomodada. Mas, ao mesmo tempo, comecei a pensar que por trás daquela obra existe um ser humano, que está buscando dividir um sentimento ou uma ideia por meio de um objeto”, relata Vivi.

“E parecia haver todo um contexto que me deixava distante disso. Foi aí que eu passei a perceber que no contato com a obra havia uma troca muito valiosa, e isso tudo faz parte de um processo de desmistificação da arte também para mim”, completa a youtuber.

Intervenção urbana

A paulista Maria Carol e o gaúcho Luca Bastolla, também radicados em São Paulo, dedicam-se a tarefa semelhante há cerca de dois anos no YouTube. O canal Life Is a Bit surgiu como desdobramento do trabalho de intervenção urbana “8-bitch project”, iniciado em 2014. E hoje a dupla não só publica vídeos que reverberam os projetos de autoria deles, como também apresenta entrevistas e detalha os processos de outros artistas.

“O universo da arte sempre foi visto como algo hermético, que só quem está dentro, uma elite intelectual, é que conhece. Mas a arte foi feita para ser compartilhada. Nós fazemos trabalhos que ficam disponíveis na rua para ser vista pelas pessoas, e o YouTube é mais uma forma de nos ajudar a democratizar cada vez mais esse acesso à arte”, diz Maria Carol.

Mão na massa

Luca Bastolla acrescenta que outro papel do canal é estimular as pessoas a colocarem a mão na massa, experimentando, assim, a possibilidade de conceber suas próprias intervenções.

“Desde o início desse projeto, quando começamos a fazer vídeos para esse canal do YouTube, nós quisemos empoderar as pessoas por meio da divulgação de técnicas para que elas possam ter autonomia não só para discutir arte, mas também fazer arte. Acho que, dessa forma, elas também podem ocupar melhor esse espaço, assumindo o papel de protagonistas e não só de espectadores”, reforça Bastolla.