Festival

A revolução do cinema direto

Redação O Tempo

Por MARCELO MIRANDA
Publicado em 10 de novembro de 2010 | 18:34
 
 

Nem estética nem gênero, o chamado cinema direto se transformou em arte na ascensão característica dos anos 60, quando as câmeras de filmar se tornaram mais leves e práticas, incluindo o recurso da captação do som ambiente, também conhecido como som sincrônico.
As consequências dessa revolução técnica estão em alguns dos principais títulos a serem exibidos na 14ª edição do forumdoc.bh - Festival do Filme Documentário e Etnográfico, que começa hoje e segue até o dia 28 na capital.

Reunindo 53 filmes produzidos entre as décadas de 60 e 70 nos EUA e no Canadá, a mostra denominada direto.doc (seguindo o padrão de letras minúsculas característico do festival) tem como um dos curadores o professor Paulo Maia. "É um recorte histórico dessa produção", afirma ele.

Maia categoriza a mostra em três vertentes do cinema direto: os filmes do Canadá, especificamente realizados no Quebec, onde a cultura é mais ligada à França e os filmes na seleção "dialogam com a antropologia, com o filme etnográfico, sendo mais voltados para o campo, para os povos não ocidentalizados"; os produzidos nos EUA, entre os quais se destacam trabalhos do jornalista Robert Drew e os parceiros com quem ele realizou uma série de filmes cuja marca é "um verdadeiro raio X daquela sociedade sessentista norte-americana, desconstruindo o estado de bem-estar"; e, por fim, cineastas que tangenciam o cinema direto, utilizando de seus recursos e técnicas para mergulharem nos universos retratados, como fizeram Shirley Clarke e John Cassavetes no início de suas carreiras.

Palavra. Para Carla Maia, uma das organizadoras do forumdoc.bh, essa retrospectiva também permite perceber como os filmes documentários passam a valorizar a fala e a voz de quem é filmado. "Surgem vários trabalhos focados na palavra, pois podia-se ouvir o que era dito na filmagem sem sincronização posterior no estúdio", comenta Carla. "Também aparecem produções sobre o universo da música, com cenas de shows de artistas como Bob Dylan e Rolling Stones que não poderiam ser feitas com as antigas e pesadas câmeras utilizadas até então".
Além de Robert Drew, ícone do cinema direto, outros nomes foram incluídos na mostra, como os de Pierre Perrault, Michel Brault, Richard Leacock, Frederick Wiseman, D.A Pennebaker e irmãos Maysles.

Captando o "real"
O cinema direto é também considerado o "cinema do real", devido à ideia de que a "libertação" da câmera permite que o realizador seja o mais fiel possível ao objeto documentado.

Isso não faz, porém, com que a subjetividade seja deixada de lado. O olhar do cineasta ainda incide de maneira significativa naquilo que ele filma, agora com mais consciência e recursos.