Música

A robustez da delicadeza

Cantora e violoncelista brasileira radicada em Paris, Dom La Nena faz show de seu primeiro disco, “Ela, em BH

Por Vinícius Lacerda
Publicado em 14 de março de 2014 | 03:00
 
 
Versatilidade. Depois de começar com o piano, a artista se especializou no violoncelo e atualmente aventura-se como cantora Jeremiah / Divulgação

A voz acelerada da cantora e violoncelista Dom La Nena, na conversa por telefone para esta matéria, contraria o aspecto central de seu primeiro disco: o minimalismo. Denominado “Ela”, o álbum é composto por 13 canções que fazem parte do show que a artista gaúcha traz a Belo Horizonte, no Sesc Palladium, amanhã e domingo.

Assim como suas respostas, a carreira solo da artista aconteceu rapidamente. “Há três anos, estava em turnê, acompanhando outros músicos como violoncelista, e resolvi escrever algumas músicas. Sem falar com ninguém, comecei a gravar em casa mesmo e a mostrá-las para alguns amigos. Até que me deu vontade de gravá-las de forma mais profissional”, conta.

Depois disso, ela largou as bandas que acompanhava e, durante o ano de 2013, partiu em turnê, na qual mostrou um pouco de seu “eu” nos palcos. “É um disco muito íntimo, sincero e, por isso, ingênuo. Não pensava muito sobre o que estava fazendo”, comenta a cantora.

Embora a concepção da obra possa ter sido vertiginosa, depois de ouvir o disco disponibilizado gratuitamente no site oficial de Dom La Nena, fica claro que a finalização foi cuidadosa. E o resultado é uma síntese coerente entre uma voz gentil e melodias agradáveis para os ouvintes.

Para a artista, seu trabalho inaugural foi um divisor de águas. Ela conseguiu identificar outras possibilidades para sua carreira musical. “Esse disco mudou minha vida e minha percepção com relação à música”, avalia.

Ela se refere ao fato de ter apostado na carreira de cantora, sem ter o domínio pleno da técnica vocal, como tem do violoncelo, instrumento que toca desde os 8 anos de idade. A experiência, conta ela, tem sido gratificante. “Para mim, é muito diferente. Eu ainda não fico tão à vontade cantando como tocando. Acho que ainda estou muito verde e tenho muito o que aprender”, afirma.

Isso, porém, não a impediu de arriscar. No palco, ela sobe desacompanhada, sem suporte de outros vocais ou de outros músicos, e “enfrenta” o público com ares de veterana. “Para mim é importante fazer esse show sozinha, pois assim me aproximo mais do público, a relação fica intensa e no final a energia gerada é tão grande que se equipara ao elemento ‘banda’”, opina.

Trajetória. Morando atualmente em Paris, Dom La Nena está no Brasil para uma breve turnê que inclui, além da capital mineira, Rio de Janeiro, São Paulo e Porto Alegre. Tudo isso, depois da aprovação e boas críticas que recebeu nos Estados Unidos, Canadá e alguns países europeus.

Periódicos internacionais não pouparam aplausos, como o “The New York Times”, que enalteceu os instintos de compositora, e o francês “Les Inrockuptibles”, que afirmou que o álbum de estreia é impressionantemente maduro. 

Modesta, ela tenta fugir um pouco do assunto e prefere não comentar os elogios, mas constatou que a surpresa do público e de jornalistas estrangeiros acontece quando se deparam com uma música atipicamente brasileira. “Foi recorrente em entrevistas ouvir as pessoas impressionadas por não terem ouvido a típica música brasileira no show de uma cantora do Brasil”, relata.

Agora, sua meta é continuar a turnê de “Ela” até outubro deste ano por todo o mundo. Mas adianta que um novo trabalho já está em fase avançada. “Neste novo disco, estou fazendo algo de janela aberta, mais verão, mais solar do que fiz no meu primeiro CD”, antecipa.


Agenda 

O quê. 
Show “Ela”, com Dom La Nena

Quando. Sábado e domingo, às 20h

Onde. Sesc Palladium ( avenida Augusto de Lima, 420, centro)

Quanto. R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia-entrada)