Luto

Adeus ao Kaiser

Karl Lagerfeld, diretor criativo da Chanel e ícone da moda mundial, morre em Paris

Por Da Redação
Publicado em 20 de fevereiro de 2019 | 03:00
 
 
Francois Guillot/AFP

Paris, França. Diretor criativo da grife Chanel desde 1983 e um dos ícones da moda mundial nas últimas décadas, o estilista alemão Karl Lagerfeld morreu, nesta terça-feira (19), em Paris. Ele havia sido hospitalizado na noite de segunda, em Neuilly sur Seine, nos arredores de Paris, mas a causa da morte não foi informada. Segundo a revista francesa “Paris Match”, Lagerfeld estava com a saúde debilitada havia algumas semanas. Nem chegou a aparecer na passarela logo após o desfile da coleção primavera-verão 2019 da Chanel, algo que fazia desde que estreou na grife, em 1983.

Nascido em Hamburgo, Lagerfeld sempre manteve uma aura de mistério a respeito de sua data de nascimento. Vários jornais alemães, com base em documentos oficiais, afirmam que ele nasceu em 10 de setembro de 1933. Ele disse que nasceu em 1935, durante uma entrevista à “Paris-Match” em 2013, na qual afirmou que sua mãe “mudou a data”.

Astro inquestionável da alta-costura, Lagerfeld reinventou com brilhantismo a marca Chanel durante mais de 30 anos, enquanto construía um personagem quase teatral, famoso por seu aspecto, suas frases provocativas e sua erudição. Com o cabelo branco preso em um rabo de cavalo, óculos escuros, suas luvas e a verborragia, o estilista, conhecido como Kaiser, tinha uma aparência perfeitamente reconhecível.

Tão vaidoso como propenso às piadas, quando perdeu 42 kg em 2002 afirmou que era para ser um “bom cabide” e entrar nas roupas que Hedi Slimane criava para a Dior. Mas por trás da figura de língua afiada se escondia um homem intuitivo que sabia captar melhor que ninguém as necessidades de seu tempo. Como em 2004, quando desceu de seu pedestal para criar uma coleção para o grupo sueco de moda H&M. Segundo o jornal “Le Monde”, as peças se esgotaram em menos de meia hora.

Suas criações eram caracterizadas por seu ecletismo e sua capacidade de se reinventar o tempo todo, capturando o espírito da época. O estilista foi responsável por três marcas (Chanel, Fendi e a grife homônima), mas seu nome é principalmente associado à maison Chanel. Foi graças à capacidade de conceber “happenings” fashion, desfiles com cenografia e ambiência exuberantes, que o alemão conseguiu recuperar o lustro da vetusta grife, “bela adormecida” da indústria francesa da moda até sua chegada, no começo dos anos 80.

Em 2014, por exemplo, Lagerfeld transformou a nave do Grand Palais, espaço expositivo no coração de Paris, em um imenso supermercado no qual as gôndolas faziam as vezes de passarela. Três anos depois, fez decolar do mesmo local um foguete, a poucos metros de onde modelos apresentavam sua mais recente coleção de prêt-à-porter, conceito que, décadas antes, ele ajudara a disseminar.

Longe das passarelas, o estilista criou figurinos de palco para Madonna, Kylie Minogue, Lily Allen e Cat Power, entre outras. No circuito da moda stricto sensu, impulsionou a carreira de sua compatriota, Claudia Schiffer, nos anos 90.

 

Criatividade e sortilégios

Paris, França. Quando Karl Lagerfeld chegou à Chanel, em 1983, a marca estava em um momento ruim. “Todos me disseram: ‘não mexe nisso, está morto, acabou’ e foi isso que me divertiu”, afirmou. Lagerfeld adotou os clássicos da marca, como os tweeds, as pérolas e as correntes de ouro. “Ele foi o primeiro a repensar os códigos da casa para usá-los de outra maneira”, explica a historiadora de moda Catherine Örmen.

Segundo ela, o toque de Lagerfeld era mais um estado de espírito do que um estilo reconhecível e estava em constante evolução. “Na década de 80, suas silhuetas tinham costas muito largas. Na década de 90, elas eram muito ‘skinny’, sempre de acordo com a época”, explica Örmen.

Em 2014, ele apresentou um vestido de alta-costura com bordados de concreto e, em 2015, ternos tridimensionais. “No entanto, ele cometeu alguns sacrilégios”, recorda Örmen, citando um modelo de alta-costura de 1986 com crinolina, aquelas armações sob as saias rodadas para dar volume. “A senhorita Chanel certamente se revirou em seu túmulo!”, acrescenta.

Nos desfiles, Lagerfeld tinha a seu lado Virginie Viard, diretora do estúdio que supervisiona oito coleções por ano. Uma fiel colaboradora com quem trabalhou por mais de 30 anos. “Sem Virginie, o desfile não existiria”, disse o Kaiser em 2018.