Visões

Artistas defendem a desburocratização do acesso aos espaços

Juca Ferreira, secretário de Cultura de Belo Horizonte, expressou interesse em dialogar com os artistas que representam diferentes vertentes das manifestações artísticas urbanas

Por Carlos Andrei Siquara
Publicado em 22 de outubro de 2017 | 03:00
 
 
Grafite em um muro localizado na rua Rio de Janeiro com Santos Dumont, no centro da capital mineira Leo Fontes

Nilo Zach, ao lado dos artistas Hely Costa e Ataíde Miranda, produziu, no mês passado, um grafite que cobre a fachada lateral do viaduto Moçambique, localizado na avenida Antônio Carlos, em Belo Horizonte. A ação foi anunciada como um dos braços do programa municipal Profeta Gentileza, criado em fevereiro deste ano, após a polêmica envolvendo o prefeito de São Paulo, João Doria, que ordenou o apagamento de uma série de grafites no muro da avenida 23 de Maio, na capital paulista.

A pintura é um dos poucos trabalhos de Zach construídos a partir da autorização da prefeitura. Para ele, deveria existir uma desburocratização do acesso aos espaços públicos, o que ainda é difícil. “Sei pouco sobre esse programa, mas nos foi dito que ele visa justamente facilitar o processo para pintarmos em muros e, principalmente, em viadutos. Isso tem dado muito problema com a guarda municipal, que vem sendo preparada para impedir qualquer tipo de pintura nesses espaços. Então, é importante que ele funcione nesse sentido”, diz Zach.

Potencial. O artista Baba Jung, que também atua como grafiteiro, ressalta a necessidade de um maior diálogo e incentivo à arte urbana no Brasil. Ele ressalta que o país vem sendo reconhecido mundialmente como um dos grandes celeiros de nomes dessa seara, e, portanto, existe um potencial local capaz de fomentar esse movimento.

“O poder público não pode ignorar, marginalizar e criminalizar o trabalho dessas pessoas. Aqui nós temos conhecimento do programa Gentileza, que precisa deslanchar e somar mais ações, porque a arte de rua tem um poder em si. Há exemplos de cidades, como Miami, com bairros todo grafitados, e as pessoas vão lá justamente para conhecer as criações. O Cura também foi um projeto muito bacana, mas somente ele não é suficiente para satisfazer e atender a todos os nossos anseios”, relata Jung.

Carol Jaued, que integra o coletivo Minas de Minas, responsável por realizar o grafite com a imagem de Elza Soares durante o Cura, reforça a importância de o poder público ampliar o conhecimento sobre a produção desses artistas. “Queremos pintar um muro, mas não sabemos nem a quem devemos recorrer, quem são as pessoas abertas ao diálogo para que possamos executar esse trabalho. Belo Horizonte, pela prefeitura, quer se mostrar livre, democrática, mas precisa, de fato, permitir que isso aconteça”, declara Carol.

Juca Ferreira, secretário de Cultura de Belo Horizonte, em entrevista por e-mail, expressou interesse em dialogar com os artistas que representam diferentes vertentes das manifestações artísticas urbanas e reconheceu que há uma demanda a ser contemplada em relação ao uso dos espaços públicos.

“Creio que este momento seja propício à reflexão e debate sobre este tema. Precisamos discutir urgentemente sobre as questões de regulação de uso do espaço público. O universo das artes de rua vem crescendo exponencialmente no Brasil e carece de regulação”, afirma Ferreira.