História

As Áfricas que nos formaram

Em “Sociedades & Raça, José do Carmo de Araújo traz detalhes das nossas relações com o continente africano

Por Daniel Toledo
Publicado em 13 de junho de 2013 | 03:00
 
 
Autores como Mia Couto (foto) são analisados pelo historiador mineiro Bruno Figueiredo 03.07.2007

Não é exagero dizer que, para muitos brasileiros, a África costuma ser apresentada e compreendida como um único país, deixando quase sempre de lado as inevitáveis particularidades relacionadas às dezenas de nações que integram aquele continente. Foi a partir dessa percepção – e de uma contundente crítica a ela, claro – que o historiador mineiro José Carmo do Araújo deu início a uma longa pesquisa que resulta, agora, no lançamento do livro “Sociedades & Raça: A África e os Povos Bantos”, em Ubá.


“Já faz algum tempo que tenho pesquisado comunidades quilombolas de diferentes regiões do Estado, e sempre me chamou atenção a grande variação linguística entre essas comunidades. Diante disso, dei início a uma investigação mais específica sobre os povos bantos, que tiveram grande importância para a formação das populações do Sul e do Sudeste brasileiros”, contextualiza o historiador. Os iorubás, entre outras etnias, ressalta ele, estariam mais relacionados à formação do povo nordestino.


Angola, Moçambique e Guiné-Bissau foram alguns dos países que tiveram suas histórias investigadas por Araújo, interessado em aspectos culturais tão diversos quanto a relação com o trabalho, a estrutura das famílias e o próprio uso da língua portuguesa.


“Vemos, por exemplo, que o português nunca deixou de ser apenas a língua oficial desses países, uma vez que são muitos os grupos e dialetos presentes em cada um deles”, esclarece.


Recortes. Conforme explica o historiador, a publicação revê um amplo período histórico, remontando aos idos dos séculos XIV e XV, inevitavelmente relacionados ao tráfico de escravos, e passando pelo século XIX, quando, segundo Araújo, foram inventadas algumas das bases do racismo.


“Percebe-se, naquele contexto, que o racismo estava diretamente ligado à luta de classes. Trata-se, em muitos casos, de um preconceito que surgiu em resposta à prosperidade de algumas comunidades negras fora da África”, afirma o pesquisador, que identifica o Haiti como um bom exemplo desse processo.


Lançado em meio a um contexto sociopolítico de afirmação da identidade afro-brasileira, “Sociedades & Raça: A África e os Povos Bantos” chama atenção do leitor para as evidentes aproximações entre culturas brasileiras e africanas. “Ouvimos falar bastante sobre as colônias italianas, alemãs e espanholas, assim como os bairros chineses e japoneses de São Paulo, mas pouco se fala sobre as especificidades das relações entre o Brasil e alguns países africanos”, compara.


É a partir da literatura africana contemporânea, aliás, que Araújo confirma alguns desses parentescos, analisados em uma seção específica do livro. “Nessa seção, relacionei alguns importantes contistas africanos, que guardam incontestáveis semelhanças com os famosos causos de Minas Gerais”, garante o historiador, que cita o premiado moçambicano Mia Couto como um desses nomes que confirmam possibilidades de aproximação entre Brasil e África.

Agenda
O quê. Lançamento do livro “Sociedade & Raça: A África e os Povos Bantos”, de José do Carmo de Araújo
Quando. Amanhã, às 19h30
Onde. Salão da Câmara Municipal de Ubá (rua Santa Cruz, 301, centro)
Quanto. Entrada gratuita