História

Colonos em terras mineiras 

Livro lançado hoje conta a chegada dos primeiros imigrantes italianos em Minas Gerais e seus desdobramentos

Por RAFAEL ROCHA
Publicado em 25 de maio de 2015 | 03:00
 
 
Italianos em Minas. Entrada da sede da Fazenda do Rochedo, situada no distrito de Rochedo de Minas, em São João Nepomuceno acervo pessoal

Impossível contar a história recente do Brasil sem falar dos italianos que aqui vieram morar desde 1875. A data inicial, inclusive, é motivo de polêmica: há quem considere que os primeiros chegaram há 140 anos na serra gaúcha; outros, porém, afirmam que pouco tempo antes os integrantes da Expedição de Pietro Tabacchi já haviam se instalado no Espírito Santo.

Em Minas esse fluxo migratório pousou mais tarde, mais próximo do fim do Império, mas não com menor entusiasmo – ao todo foram 90 mil italianos que chegaram em terras mineiras. De ascendência italiana, o escritor Anísio Ciscotto Filho escolheu um recorte histórico e geográfico dessa época para contar a historia de 12 famílias que saíram da região do Vêneto, no Norte daquele país, para se fixarem na Fazenda do Rochedo, situada na Zona da Mata mineira. A história recheia o livro “A Imigração Italiana em Minas Gerais: A Fazenda do Rochedo (1888-1889)”, que será lançado hoje na Livraria Leitura do BH Shopping.

Após a abolição da escravidão, o Brasil carecia de mão-de-obra. Em Minas esse aporte era urgente na indústria cafeeira. Como alguns países da Europa passavam por uma crise, uma parcela de seus habitantes foi procurar emprego em outras nações. E Minas, como outros Estados, se tornou destino dos conterrâneos de Caravagio, Marcello Mastroianni e Sophia Loren. “Aqui era o Estado que mais tinha escravos no Brasil. Só em Sabará havia mais escravos que no Rio de Janeiro, a capital da época”, contextualiza o autor.

Foi na fazenda instalada no distrito de Rochedo de Minas, no município de São João de Nepomuceno, que uma das primeiras levas chegaram com 60 imigrantes prontos para arregaçar as mangas. “Até hoje a produção de café no Sul de Minas está nas mãos de descendentes”, revela o autor.

A tentativa do escritor é esboçar quais eram as condições políticas e econômicas dos dois países nesse momento em que o Brasil deixava de ser Império e tornava-se República após um golpe militar. Fatalmente essa imigração em massa teria problemas de adaptação de um povo europeu em um país tropical de costumes diferentes. Alguns conflitos foram inevitáveis. “Os fazendeiros daqui não davam direitos aos escravos. Com a chegada dos italianos, alguns foram colocados para trabalhar em senzalas, o que gerou revolta”, explica Anísio.

A forte tradição católica e o código de comportamento italiano, segundo o autor, foram outros fatores que culminaram em ruídos entre patrões e empregados. “Ainda era uma época onde assédio sexual e punições físicas aos empregados eram algo comum. Os fazendeiros também tinham fama de descumprirem tratos com funcionários, o que os italianos não aceitavam”, revela.

No início, os colonos tiveram problemas com nossas condições climáticas. Apesar da região montanhosa nas proximidades de Juiz de Fora serem parecidas com o norte italiano, quando o verão chegava, eles tiveram dificuldades de aclimatação. “Como era muito quente, eles tiveram problemas no cuidado com as crianças, que acabaram desenvolvendo doenças especialmente respiratórias”, comenta o autor.

Foram tantos percalços que o governo italiano chegou a proibir a imigração de seus nativos ao Brasil. Como havia interesses dos fazendeiros, a medida não vingou, e o governo daqui começou a dar incentivo financeiro ao fazendeiro que recebesse italianos em suas propriedades. “Os donos de fazenda começaram a construir casas sem conforto para os colonos, que aos poucos foram melhorando as construções”, diz.

Os laços entre os dois países permanecem. Para o autor, o sindicalismo e o jeito do mineiro fazer política, por exemplo, são resquícios dessa influência italiana. Não por acaso, fica no Brasil a cidade com maior número de italianos no mundo – São Paulo.

Programe-se

O QUÊ. Lançamento do livro “A imigração italiana em Minas Gerais: A Fazenda do Rochedo (1888-1889)”

QUANDO. Hoje, às 20h

ONDE. Livraria Leitura do BH Shopping (BR 356, 3049, Belvedere)

PREÇO DO LIVRO. R$ 50