Fotografia

Como contar uma história 

Olhar atento e experiente marca a curadoria de Boris Kossoy em exposição que retrata memória brasileira

Por Vinícius Lacerda
Publicado em 25 de fevereiro de 2014 | 03:00
 
 
Zelo. Curador da exposição cria novas narrativas para a mesma exposição de acordo com os espaços que a recebem com cuidado Uarlen Valerio / O Tempo

Depois de passar por três grandes capitais brasileiras, a exposição “Um Olhar sobre o Brasil – A Fotografia na Construção da Imagem da Nação” chega a Belo Horizonte com registro de um boa receptividade por parte do público. Em São Paulo e no Rio de Janeiro, cerca de 70 mil pessoas visitaram a mostra e, em Brasília, outras 50 mil conferiram a exposição que utiliza de fotos para contar parte da história do país.

Se por um lado os números são motivos de celebração por parte do curador e professor titular da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (USP) Boris Kossoy, por outro simboliza o maior desafio que ele encontrou até o momento: a montagem da exposição em locais tão distintos.

“O conceito da exposição é composto por uma narrativa montada por fotos que dialogam entre si e, para isso, são montadas de maneira a gerar essa interlocução. Em espaços diferentes, contudo, é preciso repensar novamente toda montagem”, diz Kossoy.

Ao chegar ao prédio do Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), ele concluiu que teria mais trabalho do que imaginava. “Nos dois primeiros dias eu pensei que não haveria saída para montar a exposição no espaço”, conta.

Ele se refere ao terceiro andar do prédio, destinado às exposições itinerantes sediadas pelo CCBB-BH. O espaço é formado por diversas salas de formatos e tamanhos diferentes, que lembram um labirinto. Esse modelo arquitetônico não foi pensado para sediar exposições e, por isso, a dificuldade.

A saída foi explorar os aspectos do local. “Precisamos recriar a narrativa de uma forma que sua essência não fosse comprometida”, comenta o curador.

Com cuidado e muito atenção ao espaço, ele e sua equipe de produção que o acompanha desde a primeira montagem na capital paulista conseguiram escrever por meio de fotografias a história do Brasil entre o período de 1833 e 2003.

Prova disso é que, ao caminhar pelas salas, Kossoy explica com nitidez os procedimentos que garantiram o diálogo entre as obras. “Além de totens para que o público percorra o caminho certo, pensamos no posicionamento dos quadros de forma que houvesse uma conversa entre eles”, diz o curador.

Assim, é possível notar sutis interferências, como o leve afastamento entre grupos de quadros na mesma sala e até mesmo o espelhamento de uma fotografia em uma sala com uma outra, em frente, como meio para afrouxar e criar laços para contar essa narrativa. “É preciso que os visitantes tenham compreensão visual da história do Brasil diferenciando cada fase. Por isso, a montagem foi um processo que exigiu muita atenção”, comenta Kossoy.

O resultado é a sensação de estar passeando por um livro cuja a história, muito bem-contada, é, além de didática, uma forma de refletir sobre o desenvolvimento de da sociedade. Como questionou Kossoy: “No final, será que as coisas mudaram tanto assim?”.