Fagner

Compositor participa de tributo a Accioly Neto e lamenta a política atual

Encontros com Zé Ramalho e Cazuza ainda rendem frutos

Por Raphael Vidigal
Publicado em 22 de maio de 2018 | 03:00
 
 
Músico é vizinho de Zé Ramalho e morou com Cazuza no mesmo prédio Site oficial/divulgação

Fagner não chegou a conhecer pessoalmente Accioly Neto (1950-2000), mas foi um dos maiores divulgadores da obra do compositor pernambucano, de quem regravou, na década de 90, “Espumas ao Vento” e “Lembrança de um Beijo”. Atualmente, ele participa de um disco duplo em homenagem a Accioly. O projeto, previsto para este ano, enfileira 30 novas gravações feitas por 30 diferentes artistas, e agrega Elba Ramalho, Chico César, Zélia Duncan, Lucy Alves, Mariana Aydar e Zé Manoel, entre outros. A inédita “Casa Comigo” vai chegar ao conhecimento do público pela voz do cantor cearense. “Accioly sempre foi um autor muito conhecido no Nordeste, mas infelizmente morreu cedo, com apenas 50 anos. Ele teve uma carreira prolífica, principalmente em Pernambuco, onde nasceu”, atesta Fagner. 

Por sinal, mesmo com a mudança para o Rio de Janeiro no final dos anos 70, o entrevistado jamais abandonou suas raízes. Uma de suas uniões mais felizes foi com o Rei do Baião. “Tive o privilégio de fazer muitos shows e gravar dois discos com o Luiz Gonzaga. Além de ter uma convivência bastante rica lá na terra natal dele, em Exu, onde pude ver e sentir tudo aquilo que ele tinha me passado. Foi excepcional, um privilégio, ele é o maior símbolo da música nordestina”, exalta o cantor. A fórmula de duetos jamais foi abandonada por Fagner, tanto que o mais recente disco não desmente a tese, ao contrário.

“O Zé Ramalho é meu amigão, parceiro, companheiro de geração, compadre, é um grande artista. Moramos no mesmo prédio e fazemos cooper juntos todos os dias”, informa. Lançado em 2014, o álbum em parceria da dupla rendeu CD e DVD ao vivo. Dez anos antes ele havia colocado no mercado similar produto audiovisual, mas acompanhado pelo maranhense Zeca Baleiro. “O disco com o Zé Ramalho foi mais das nossas parcerias antigas e sucessos da carreira de cada um. Seria importante a gente compor uma coisa nova, sempre tem a possibilidade porque nos vemos diariamente. Esse projeto foi muito bem, vendeu muito, ainda mais se levarmos em conta a queda desse mercado”, avalia o compositor. 

Com Zeca Baleiro, a ideia já foi posta em prática. Fagner promete, ainda para este ano, mostrar ao público o resultado das novas canções. “Estamos preparando o nosso volume dois, o retorno, depois de 15 anos. Já temos seis músicas prontas”, entrega. E o espírito gregário continua sendo realçado pelo entrevistado, que contabiliza “mais de 80 encontros” com outros artistas ao longo da carreira. No mesmo prédio onde atualmente mora, ele teve outro vizinho talentoso. “Cazuza tem uma história interessante porque o primeiro emprego dele foi como divulgador da Som Livre, e ele escolheu o meu segundo LP, ‘Ave Noturna’ (1975), para divulgar no mercado. Coincidentemente, depois ele veio morar no meu prédio e me contou essa história”, relembra o músico. Em 1985, o poeta exagerado gravou com o cearense a música “Contra-Mão” (de Fagner e Belchior) para o álbum “Deixa Viver”. Já em 2001, Fagner recebeu das mãos de Lucinha Araújo, mãe de Cazuza, o poema “Olhar Matreiro”, e colocou melodia na música, lançada no mesmo ano. Na mesma época, ele musicou o poema “João”, feito por Cazuza para o pai, porém nunca registrou. E revela que ainda possui várias fita-cassetes com parcerias improvisadas dos dois, mas que já não lembra mais “onde elas estão guardadas”. 

“O Cazuza era muito carinhoso comigo, nessa época a gente vivia na noite. Ele é uma figura que faz muita falta hoje em dia, porque era impossível, irreverente, tirava sarro com tudo, mas estava sempre antenado, nunca se omitia. Ele e Gonzaguinha certamente teriam muito a falar sobre o agora”, enaltece. O momento, aliás, também está no radar de Fagner, que não poupa críticas para a política nacional. “O Brasil vive um momento de perplexidade, temos que respirar fundo toda hora para aturar o que está nos acontecendo. Nos vulgarizaram e tiraram a nossa identidade. Perdemos o foco, nos degradamos, e foram os políticos que abriram as portas dessa degeneração”, acusa o cantor. “É triste, são muitos desenganos, estamos à flor da pele, sem saber onde ir”, conclui. 

Agenda

O quê. Show com de Fagner 

Quando. Nesta sexta-feira (25), às 21h

Onde. Grande Teatro do Palácio das Artes (av. Afonso Pena, 1.537, centro) 

Quanto. De R$ 90 (meia) a R$ 220 (inteira)