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'Crônicas de San Francisco' traz boas histórias de uma comunidade LGBTQI

Série da Netflix, com Ellen Page e Laura Linney, tem trama envolvente, divertida e diversa, com personagens de diferentes idades, identidades sexuais e relações com o corpo

Por Etienne Jacintho
Publicado em 24 de junho de 2019 | 03:00
 
 
Ellen Page está em 'Crônicas de San Francisco' Netflix/Divulgação

Muitas séries com temática ou personagens LGBT têm surgido, especialmente nas plataformas digitais. No entanto, nenhuma é como “Crônicas de San Francisco”, lançada pela Netflix. Em uma época em que a homofobia tem saído do armário, ter uma atração como essa é um alívio e faz a gente ter a esperança de que a sociedade não vai retroceder no que diz respeito à diversidade – e não somente a sexual.

“Crônicas de San Francisco” – “Tales of the City”, no original – é inspirada nos livros de Armistead Maupin. As primeiras crônicas foram adaptadas para a TV em 1993, também com Olympia Dukakis no papel de Anna Madrigal, Laura Linney como Mary Ann e Paul Gross como Brian. As histórias foram para a tela outras duas vezes, em 1998 e em 2001. Nestas produções, é possível ver o passado dos personagens que viraram histórias nessa nova etapa de 2019.

Na trama atual, Mary Ann volta a São Francisco, após viver por 20 anos fora, tentando a carreira televisiva. Ela acreditava que seria a nova Oprah quando partiu, deixando para trás o marido Brian e a filha Shawna, que tinha 2 anos na época. Seu retorno causa um baque emocional, principalmente em Shawna, interpretada pela sempre incrível Ellen Page, uma personagem feminista, sexualmente liberada e emocionalmente problemática. 

Mary Ann chega a São Francisco para a comemoração dos 90 anos de Anna Madrigal, que tem um condomínio no número 28 de Barbary Lane e trata os moradores como família. Foi lá que Mary Ann morou quando era jovem e é lá que estão Shawna e seu melhor amigo, Michael (Murray Bartlet), um homem de quarenta e muitos anos que namora Ben (Charlie Barnett, de “Boneca Russa”), um garoto de vinte e poucos anos. O personagem de Bartlet, que é soropositivo, mostra bem as diferenças entre a comunidade gay nos anos 80 e 90 e a atual, acenando para as conquistas que vieram às custas de muita luta e muitas perdas.

“Crônicas” traz muitas boas histórias paralelas e consegue abranger a comunidade LGBT de forma séria, divertida e correta, mas sem deixar de lado o sarcasmo. Algo que vale destacar é que a série tem personagens de diferentes idades, opções sexuais e relações com o corpo.

Diferentemente de algumas séries em cartaz, “Crônicas” traz muitas cenas de sexo, mas sem a intenção de chocar. O que se vê na tela é sexo e pronto. Nada além do que se vê em novela das 9, mas em cenas protagonizadas por gays, lésbicas, trans e também por héteros cis – que se identificam com seu sexo de nascença. Essa diversidade é abordada por meio dos personagens que mostram a cena “queer”. Shawna, por exemplo, defende os termos politicamente corretos; Mary Ann é a careta que ainda se choca com algumas coisas, mas nunca em tom de reprovação; Jake (Garcia) é o trans que está confuso ainda com a mudança de gênero. 

Em 20 anos na TV

Para todos

Além de ser ambientada no condomínio de Anna Madrigal, “Crônicas de San Francisco” tem como cenário o bar Corpos Políticos, frequentado por gays e héteros, em que qualquer pessoa, de qualquer raça, idade, tamanho e gênero pode subir no palco e manifestar-se. Essa união é algo que vem sendo conquistada. A comunidade LGBT está saindo do gueto. 

Para quase todos

Em 2004, quando “The L Word” entrou no ar, o bar da Kit (Pam Grier) reunia gays e lésbicas, mas com abertura para héteros. A série teve de chocar – com cenas de sexo quase explícitas e inéditas – para se impor e conquistar seu espaço com boas histórias, uma personagem trans de destaque e quebrando tabus. 

Para poucos

Um bar também foi o início de encontros sexuais estrondosos entre 1999 e 2000 com as versões britânica e americana de “Queer as Folk”, série sobre homens gays em cenário pouco íntimo do público.