Perfil

Dedicado a atuar

João Vicente de Castro fala de seu vilão em “Rock Story, Porta dos Fundos e sua vontade em diversificar

Por Fabiano Fonseca
Publicado em 18 de janeiro de 2017 | 03:00
 
 
Vilania. Ator estreia em novelas logo com um personagem antagônico Globo / Divulgação

“Na verdade, o que gosto mais de fazer na profissão de ator é atuar. Isso parece bobagem, parece óbvio, mas não é. Tem muita gente que está na profissão para ganhar dinheiro, ou para ficar famoso, ou para contar uma história. Cada um tem seu motivo. Eu adoro a brincadeira, de estar ali, de atuar, do dia a dia”. Direto e sincero. É dessa maneira que o publicitário, ator e comediante João Vicente de Castro, 33, se posiciona no ofício cênico, que desde novembro passado ganhou outros contornos com sua primeira investida na teledramaturgia, em “Rock Story”, atual folhetim das sete, da Rede Globo.

Na trama, assinada por Maria Helena Nascimento, João Vicente interpreta o empresário Lázaro Vasconcelos. Elegante, dissimulado, competente e mau-caráter são apenas alguns elementos da personalidade do personagem. Em outras palavras, é o vilão da história. “Recebi o convite do Dennis Carvalho e da Maria de Médicis (diretores), que são pessoas que admiro. Quando disseram como seria o personagem, um vilão, papel que eu nunca tinha feito, é que me deu vontade, efetivamente, de fazer a novela”, conta ele, que inicia sua trajetória em folhetins justamente em um lugar onde os atores, de modo geral, gostam de estar: no papel do antagonista.

“Por acaso, quando me chamaram para fazer o Lázaro, eu estava vendo a série ‘Vinyl’. Gosto muito do protagonista (Richie Finestra, interpretado pelo ator Bobby Cannavale), embora eu sempre ache meio arrogante falar que estou me inspirando, porque cada um faz o seu trabalho. Mas estudei bastante para fazer o Lázaro, para não ficar um vilão duro, óbvio. Tentei fazer de tudo para ele ficar mais crível, real, humano, porque acho que o vilão sempre tem essa chance de virar um cara que não existe”, destaca.

Além da grande exposição (“a que eu não estava acostumado”), a nova (e pesada) rotina profissional de João Vicente é mais um desafio no caminho do ator. “A carga horária é grande, mas é um trabalho feito com muito prazer. No meu caso, dei muita sorte, porque os grandes nomes da novela são muito generosos e não se portam como se fossem medalhões da TV. Eles se portam como trabalhadores, que é o que nós somos”, diz o ator.

Centrado, ele assume uma postura simples em relação ao ofício, especialmente com a exposição que a TV promove. “Às vezes, a profissão de ator é confundida com uma espécie de Olimpo, onde só há semideuses. Aprendi muito isso vendo a Gloria Pires, que é a maior estrela da TV brasileira e é mãe, é dona de casa, é empresária. Em nenhum momento, Gloria traz para você a importância que ela tem. Ela é grata, mas nunca entra numa situação com esse distintivo no peito, o que é muito característico de quem é realmente importante. Aqui, comigo, tenho pessoas que são conhecidamente muito simples e gentis, como o Herson Capri, o Vladimir Brichta, a Alinne Moraes, a Ana Beatriz Nogueira”, elenca, em tom de agradecimento.

Atrás da porta. “Rock Story” marca a estreia de João Vicente de Castro na teledramaturgia. No entanto, você já reconhece esse cara de outras telas, mais especificamente as do computador e do celular.

Ele é um dos criadores, idealizadores e integrantes do Porta dos Fundos, um dos maiores fenômenos recentes do humor nacional. “Eu estava na Globo trabalhando no ‘Caldeirão do Huck’ junto com o Kibe (Antonio Tabet). Ele era muito amigo do Ian (SBF), que era sócio do Fábio (Porchat). Todos tínhamos vontade de fazer humor de um jeito que não estava sendo feito na época. A gente conversava muito, falávamos sobre o que poderíamos fazer. Me lembro da primeira vez que conversamos sobre isso. Saímos para jantar e começamos a pensar o que seria o Porta. Chamamos o Gregorio (Duvivier), juntamos e fizemos”, relembra João Vicente, sobre os primórdios do canal.

Para ele, a receita de sucesso do Porta dos Fundos passa, especialmente, pela vontade de fazer: “A diferença do Porta para vários grupos que existem por aí é que a gente sentou e fez. Geralmente, as pessoas ficam muito nas ideias e não colocam em prática”, crava o artista.

O sucesso foi tão grande que o grupo acabou por migrar para a TV paga, com um programa homônimo no canal por assinatura Fox. João Vicente conta que, quando ocorreu a migração para a TV, houve um certo receio de que a liberdade criativa de toda a equipe pudesse ser, de alguma forma, censurada.

Algo prontamente descartado pelo grupo. “Esse sempre foi o primeiro ponto da discussão. Quando eles diziam ‘não’, a gente não aceitava. Para começar a conversar, era esse o critério”, revela ele, que atualmente não atua nos esquetes do programa. “Não atuo por enquanto, até acabar a novela, mas ainda participo das decisões”.

Trabalho e mais trabalho. A visibilidade de João Vicente na telinha também se mede pelo canal GNT, desde 2015, com o “Papo de Segunda”. Na atração, ele divide espaço com o jornalista Marcelo Tas, o escritor Xico Sá e o cantor Leo Jaime para tratar de assuntos da atualidade, sempre com bom humor e irreverência.

“Eu sempre tive muita vontade de fazer um programa de debates e acho que o bom ali é que cada um tem visões diferentes, e é isso que dá a liga. Todos os brasileiros que assistem acabam sendo representados, cada um por uma cabeça. Acho que isso acontece muito bem”, sublinha.

Filho de um dos mais importantes jornalistas do país, Tarso de Castro (1941-1991) – militante da informação com o semanário “Pasquim” –, e da estilista Gilda Midani, João Vicente reforça um desejo intenso em diversificar, como roteirista, empresário e ator. “Cada coisa me atrai de um jeito. Quero me aprofundar mais em coisas diferentes da comédia, que eu já fiz muito. Adoro fazer comédia, mas eu gostaria de ampliar os horizontes”, pontua ele.