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Donos de lojas e selos ainda apostam no formato

Público de colecionadores mantém nicho cada vez mais especializado

Por Raphael Vidigal
Publicado em 25 de fevereiro de 2018 | 03:00
 
 
Discoplay está na rua Tupis desde os anos 1980 Charles Silva Duarte

Corria o ano de 1982 quando uma invenção abalou as estruturas do mercado musical com promessas de revolução. Na mesma data, Belo Horizonte ganhava uma loja de discos que, a princípio, só comercializava compactos, fitas-cassetes e vinis, já que o tal CD ainda demoraria cinco anos para chegar ao Brasil, mas só se estabeleceria a partir de 1995. Crises de diferentes níveis não impediram Halina Souza de, ao lado do irmão, permanecer à frente da Discoplay: Discos Raros, localizada na rua dos Tupis desde o nascimento. Atualmente o foco da empreitada é justamente o CD, com espaço para o DVD.

“É um nicho de mercado, estamos sobrevivendo com quem gosta de música. Vendemos desde discos que não são mais fabricados, outros que saíram em tiragem pequena, até os independentes que estamos trabalhando agora e, principalmente, os importados, de concerto e música clássica, que quase nunca chegam aqui no Brasil”, enumera Halina, que se orgulha de ter em suas prateleiras raridades de Caetano Veloso, Djavan, Orlando Silva, Dircinha Batista, Dóris Monteiro, Deep Purple, Pink Floyd e outras preciosidades.

Caçar pérolas, por sinal, é o que Marcelo Fróes faz há uma década, quando criou o selo Discobertas, especializado no lançamento de caixas com discos físicos. No ano passado a iniciativa foi premiada com um troféu da Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA) pelos projetos especiais, que incluem coletâneas de Gilberto Gil, Zé Ramalho, Marina Lima e, mais recentemente, reuniu discos de Ivan Lins, Elza Soares e Sandra de Sá dos anos 70 e 80. “Faço produtos que compraria se as gravadoras lançassem. O artista que tem público continua fazendo discos porque o carisma leva o fã a querer ter algo físico”, diagnostica. “Não creio que o CD morra, pois se até o vinil voltou”, complementa Froés.

O conhecido LP é a “especialidade da casa” de Luiz Valente que, em 2008, fundou na capital mineira a Vinyl Land, com o objetivo de jogar luz sobre a nova música brasileira. “O selo surgiu da vontade de discotecar nas festas as músicas atuais, da nossa geração, que não existiam em vinil”, explica. “O consumo de vinil no país cresceu, têm feiras para todo o lado, abriram duas novas fábricas, é uma cultura que tem crescido muito”, garante. Nesse tempo, o selo de Valente foi responsável por lançar a “Collector’s Choice: BH 2013”, com nomes da cena como Juliana Perdigão, Thiago Delegado, Pequena Morte e Graveola e o Lixo Polifônico. Em 2015 veio outro projeto parecido, com músicas compostas em Minas para o Carnaval.

Bob Tostes, que foi dono de uma histórica loja de discos em BH nos anos 80, acredita que ainda há lenha para queimar nesse caminho. “Há quem diga que o disco físico está em extinção. Ele realmente sofreu um baque enorme, mas sempre vai ter seu espaço num lugar mais especializado, porque a relação é diferente, tem muita gente que gosta e vai continuar gostando. O princípio do disco é registrar um momento, uma fase do artista, apenas baixar ou lançar faixas avulsas não dá conta disso”, avalia.